Hoje já não dizemos «ao correr da pena»!

É mesmo assim, esquecida que parece estar a «pena» com que os antigos escreviam, e já nem falamos daquelas canetas com aparo e tinta com que aprendi a escrever, nem as tão cobiçadas canetas de tinta permanente ou as práticas esferográficas.
Hoje teclamos, mais ou menos apressadamente, frente a um écran de computador ou de telemóvel, o que até é bom do ponto de vista ambiental, pois também já não gastamos papel…
Mas se estas foram mudanças a que rapidamente nos habituámos, parece que em outras coisas da vida, recuámos tanto, tanto que nem sei onde iremos parar.
Pensava que o homem moderno já percebera que o mundo em que vivemos não é a preto e branco e que não está dividido entre o bem e o mal.
Mas não. Bastaram poucos séculos para que voltassem os tiques da Inquisição de má memória!
Bastaram poucas dezenas de anos para voltarmos a dividir o mundo entre os bons (os que estão do nosso lado e que temos que defender) e os maus (os outros que temos de aniquilar).
Bastaram poucas dezenas de anos para que, agora de forma voluntária e sem «lápis azul», jornais e televisões se autocensurem e construam estórias que nada têm a ver com a realidade.
Tudo o que os do lado do bem, isto é, os bons, fazem é de, de forma acrítica, louvar e propagandear; tudo o que os do lado do mal, isto é, os maus, fazem é de, de forma igualmente acrítica, condenar.
E, embora não pareça, começo a sentir o mesmo medo que sentia antes do 25 de abril de 1974, quando o regime fascista me perseguia, ou o idêntico medo quando em 1974 e 1975 tinha a cabeça a prémio por continuar a lutar.
E não queria passar os últimos anos da minha vida com este medo…
ps. Escrevo este texto enquanto a guerra na Ucrânia continua.
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«Sabugal Melhor», opinião de Ramiro Matos
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Setembro de 2007.)
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