• O Primeiro…
  • A Cidade e as Terras
  • Cronistas
  • Documentários
  • Ficção
  • História
  • Acontecimento Ano
  • Personalidade Ano
  • Ficha Técnica

Menu
  • O Primeiro…
  • A Cidade e as Terras
  • Cronistas
  • Documentários
  • Ficção
  • História
  • Acontecimento Ano
  • Personalidade Ano
  • Ficha Técnica
Página Principal  /  Guarda • Jarmelo • Opinião/Crónica • Terras do Jarmelo  /  A quem lhas quiser comprar
25 Maio 2022

A quem lhas quiser comprar

Por Fernando Capelo
Guarda, Jarmelo, Opinião/Crónica, Terras do Jarmelo fernando capelo, zabel da augusta 2 Comentários

A Zabel da Augusta era, toda ela, desembaraços. Alta, de robustez exposta, exibia tez rude e morena. Pavoneava-se em movimentos rápidos e quase masculinos. Nunca casou. Sempre se amanhou sozinha.

A Zabel da Augusta não gostou das sardinhas moles que o peixeiro trazia nos cabazes do burro
A Zabel da Augusta não gostou das sardinhas moles que o peixeiro trazia nos cabazes do burro

Trabalhava de sol a sol. Executava, mediante paga aprazada, qualquer tipo de trabalho. Tanto lavava roupas ou esfregava soalhos como aprimorava, logo que a primavera raiasse, qualquer tarefa campestre. Da sementeira do feijão à plantação da batata rodava de patrão em patrão sem ditar o mais pequeno senão.

Ora, aquela tarde quente de maio, tinha-a, ela, destinado ao seu próprio plantio. No quintal que, por sinal, era de paredes meias com a rua principal, tratava de plantar uma leira de cebolas quando, de repente, lhe pareceu ouvir ao longe, a corneta do sardinheiro. Apurou melhor o ouvido e pode escutar, com absoluta clareza, a apelativa buzina bem como as insistentes rogatórias do mercador:

– É barata mulheres! É boa e barata!

A Zabel era louca por sardinhas. Apenas o preço a continha. Não resistiu, portanto, aos brados do sardinheiro e desatou a correr horta acima. Sem paciência nem tempo para chegar ao portão, encurtou caminho e saltou o muro.

Chegada à beira do ti Aníbal sardinheiro transbordava de sofreguidão. Dir-se-ia que, ela sozinha, seria capaz de adquirir as três caixas encordoadas no lombo do jumento.

– Àh Ti Aníbal, pare aí o burro e cale a corneta. A como é a sardinha?

– A cinco tostões a dúzia – informou o homem.

– Bolas, que exagero! Mal se lhe pode chegar. Ora deixe-me cá ver se é verdade que é boa.

Daí, meteu a mão à caixa e remexeu tudo. Não retirando uma sardinha que fosse, continuou em mexedelas sucessivas. O Aníbal, já cansado do sui generis procedimento, resolveu intervir:

– Olhe lá, mulher dum raio. Para comprar nada, precisa de revirar tudo?

Resposta veemente da Zabel:

– As sardinhas estão mais moles que um figo. Nem são boas nem são baratas conforme vossemecê apregoa.

Interpõe o Aníbal, vermelho de raiva:

– Querem ver esta? Foi vossemecê que as amoleceu sua desatinada. Tire as mãos daí e ponha-se a andar. Vá comer as batatas sem nada.

Mas a Zabel nunca foi de se ficar e rematou:

– Olha lá! Isso era o que vossemecê queria. Da rua ninguém me poe fora. Muito menos vossemecê que só cá vem de vez em quando. E, das sardinhas, se não levo o sabor, levo o cheiro para apeguilhar com as batatas. Passe bem e vá vendê-las a quem lhas quiser comprar.

:: ::
«Terras do Jarmelo», crónica de Fernando Capelo
(Cronista no Capeia Arraiana desde Maio de 2011.)

:: ::

Partilhar:

  • WhatsApp
  • Tweet
  • Email
  • Print
Fernando Capelo

Origens: Jarmelo (Guarda) :: :: Crónica: Terras do Jarmelo :: ::

 Artigo Anterior D. Augusto César – bispo missionário, dialogante e humilde
Artigo Seguinte   Ao correr do teclado…

Artigos relacionados

  • Pudesse eu mandar no tempo…

    Quarta-feira, 3 Agosto, 2022
  • Dormiu tranquila e demoradamente…

    Quarta-feira, 20 Julho, 2022
  • Coisa com coisa

    Quarta-feira, 6 Julho, 2022

2 Comments

  1. Fernando Capelo Responder
    Quinta-feira, 26 Maio, 2022 às 23:20

    Emchia a barriga com batatas com as mãos a cheirar a sardinha.
    Consta-me que havia familias onde uma sardinha dava para dois e o que ficava com a cabeça tinha direito ao rabo na vez seguinte. Enfim, tempos de miséria que , hoje, felizmente são apenas recordação.
    Um abraço amigo Nabais.

  2. António Emídio. Responder
    Quarta-feira, 25 Maio, 2022 às 18:35

    Amigo Capelo :

    Não era burra essa tal Zabel…Não tinha nem dois tostões para comprar sardinhas, mas encher a barriga com o cheiro das sardinhas cruas!!!

Leave a Reply Cancel reply

Social Media

  • Conectar-se no Facebook
  • Conectar-se no Twitter

RSS

  • RSS - Posts
  • RSS - Comments
© Copyright 2022. Powered to capeiaarraiana.pt by BloomPixel.
 

Loading Comments...