Uma aldeia que não tenha o seu modo próprio de falar, não é aldeia, não é nada! Na nossa zona, sempre conheci esse facto e quase se sabe pelo falar de onde é que a pessoa é. Aqui deixo algumas provas disso mesmo. Boa semana!

Mais algumas «falas» do Povo da minha terra
Têm muita piada estas frases e modos de dizer as expressões mais populares que conheço das gentes da minha aldeia naqueles tempos áureos da minha meninice.
Ficaram-me na memória até hoje e delicio-me a repeti-las em casa quando vêm a propósito. Alguns exemplos… só meia dúzia para não «chatear» o leitor:
– Candauga – a «palavra» é formada pelos sons do que devia ser «cão de água». Significa «malandro», mas com um pouco mais de força e condenação. Quando me demorava muito tempo por lá (expressão típica também, que quer dizer «longe de casa», fora das vistas dos pais), ouvi-as das boas. E quase sempre lá vinha logo a abrir essa do candauga:
– Ah, candauga, isto é que são horas?
Outra:
– Realengo – eis uma frase muito usada na minha terra há 50 anos: «Aquela não tem mesmo realengo nenhum.» Isto significa que a pessoa não se orienta, não tem juízo, faz muitas asneiras.
Mais um exemplo:
– Bincemento – usa-se em frases bem determinadas: «Não dá bincemento.» Isso significa que não despacha, não acompanha o ritmo.
Há frases únicas lá na aldeia (ou pelo menos havia quando eu era pequeno). Eis alguns exemplos sempre com típico humor dos meus conterrâneos nestas coisas:
– É como um rato que passa pela parede – passa num instante, esquece-se de tudo;
– Voz de burro não ouve Deus, ou, não vai ao céu – quando se dizem asneiras atrás de asneiras e não se acerta uma, para retirar importância à pessoa diz-se isto;
– É um bate-e-foge – Isto é, manda as bocas e vira costas;
– Encomendar as almas – era rezar a cantar pela alma dos defuntos;
– Anda-me ali todo ingófado que até parece um parrana;
– Esticar o pernil – morrer.
Quando alguém diz e desdiz, é um tcharimbêlho e já está mas é a trocar palhetas.
E agora, para aumentar a boa disposição, uma boa de uma velhota que havia na minha terra e que, quando alguém estava a dizer que ia tomar banho porque estava toca suja, vai ela e sai-se com esta:
– Eu?? Isso nem pensar! Deus m’a mim livrara que eu pusesse água no meu corpo!
Provérbios à moda do Povo
E estes «provérbios» bem, bem populares lá da aldeia:
– Quem sai aos seus não erra!
– Candeia que vai à frente alumia duas vezes!
– Quem tem rabo não se senta!
Ou estes modos de falar típicos:
– Andam esquerdos!
– Prender o tchibo ou o tchebinho!
– Anda-me para ali a intcher tchòriças!
– Com a verdade me enganas!
– Levas-me aí uma lostra!
– O pão e as filhós não só se amassam como também se sovam!
…Que delícia minhas senhoras e meus senhores!
Obrigado por me ler! Até para a semana, à mesma hora, no mesmo local!
:: ::
«A Minha Aldeia», crónica de José Carlos Mendes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Janeiro de 2011)
:: ::
Leave a Reply