Com o meu boné NY confundo-me com qualquer habitante desta cidade imensa onde todos são diferentes e iguais, descontraídos e jovens. Vou voltar para a Bélgica com o meu boné que usarei apenas quando for de férias.

Não uso boné mas em Nova Iorque comprei um. Coloquei-o na cabeça. Senti estranheza. Tento observar-me nas vitrinas na falta de espelho. Não me imaginava com um boné assim. Viro-o para trás. Fico melhor, até porque tenho uns óculos escuros com uns fortes aros pretos aos quais tento agarrar-me nesta cidade tão calma, mas onde a segurança espreita a cada esquina.
Sou um desconhecido. Sou livre com um boné na cabeça e com uns óculos escuros como a noite em claro dia, perto de onde se encontravam as designadas Torres Gémeas.
Nova Iorque não me parece agora estranha, como no primeiro dia. O céu límpido, rasgado pelos numerosos rastos cinzentos dos numerosos aviões ajudam a expandir os sentimentos.
Já estou farto de olhar para o céu azul de Nova Iorque. Já me dói o pescoço. Pareço estar mais próximo dos céus em Nova Iorque do que em Bruxelas. Lá sou mais alto, da altura dos arranha-céus. Subo com eles para mais facilmente tocar o firmamento que me parece estar próximo. É uma grande atração. Não sei se é azul de céu ou de mar. O mar inverteu-se, está no firmamento e os rastos cor de cinza não são dos aviões, mas dos barcos que sulcam o céu. Por isso, de vez em quando, caem-me gotas de água em ciam do meu boné, umas vezes em cachão, outras vindo de muito alto, mas felizmente que a minha cabeça está protegida com as siglas de NY, do lado de trás do meu crânio rapado.
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«Pedaços de Fronteira», opinião de Joaquim Tenreira Martins
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Novembro de 2012)
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