Naquele dia de Maio a tia levou-me com ela ao chão do Vale da Cruz de Baixo…
A nora calhara, em partilhas, por morte do meu bisavô Pires, à minha avó Neves. Claro que as duas irmãs se davam muito bem e continuaram ambas a servir-se da água como sempre o haviam feito. O pior é que minha tia não tinha burrico para puxar pelo cambão. Mas, lá se combinavam ambas para regarem no mesmo dia ou quando fosse preciso.
Assim, minha tia foi semear lá, como era costume, umas leiras de milho para poder ter alimento para as galinhas.
De véspera, meu tio tinha jungido as vacas e fora preparar a terra para a sementeira, primeiro com o arado e depois com a grade pequena, pois o chão não era mais que uma «nesga».
Minha tia levava um sacho de folha estreita e um saquinho de retalhos com uma mão cheia de milho lá dentro. Quando chegámos ela deu-me a bolsa e com o sacho começou a rasgar um rego muito direitinho. Eu ia medindo dois pés dos meus e ia colocando ora um, ora dois baguinhos. A tia voltava atrás a tapar o grão, para que não tivesse frio (pensava eu) e para que os pássaros os não viessem apanhar.
Quando acabámos o trabalho, minha tia avisou-me que não precisávamos de ir buscar a burra para içar os alcatruzes porque vinha lá uma trovoada e já se ouviam os trovões! Que pena! E eu que pensava em voltar a casa montada na albarda da Teimosa, que era a burrinha mais inteligente que conhecia. Tivemos de voltar a pé e era bem longe! Não tardou o céu a desabar em raios azuis que trouxeram uma saraivada gelada. E eu, aflita, perguntei à minha tia se o milho ia ter frio e já não nascia.
Ela riu e, como sempre, ensinou-me mais uma das sabedorias da sua escola: As sementes para rebentarem é bom ficarem bem fresquinhas, só depois precisam de sol e calor!…
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«Gentes e lugares do meu antanho», crónica de Georgina Ferro
(Cronista no Capeia Arraiana desde Novembro de 2020)
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