Há uns doze, treze anos, no site de divulgação das coisas da minha aldeia («Viver Casteleiro»), publiquei muitas crónicas. Hoje, fui lá buscar três delas que aqui resumo. Para que conste e que as coisas não se percam. Vai gostar, tenho a certeza…

Modos de falar – as palavras do Povo
Eis pois uma das matérias que mais me encantam: os vocábulos típicos do Casteleiro. Eis meia dúzia de exemplos:
– Irvais (por ervagem, penso) – lameiro, pasto para os animais.
– Lapatchêro (por lapacheiro, acho, seja lá o que for porque não encontro no dicionário) – lamaçal, água entornada no chão.
– Gatcho – cacho de uvas – trata-se apenas de uma corruptela na pronúncia. O abrandamento de consoantes, de «c» para «g» neste caso, é muito frequente na linguagem popular.
– Pintcho – fechadura.
– Cortelho – pocilga, local onde permanecem os animais. Chamo a atenção para o seguinte: no Minho, pelo menos, chamam «corte» – leia-se côrte – às pocilgas. Ora, pela proximidade de Castela, a nossa palavra «cortelho» pode resultar de um diminutivo de corte – o que em castelhano se escreveria, hipoteticamente, «cortello». Sei lá….
– Sampa – tampa de uma panela (esta é muito boa…).
– Azado, azadinho – jeitoso. Leia o primeiro «a» aberto, como se tivesse um acento, «àzado».
– Cotear – usar muito.
– Frintcha – abertura estreita. Cote – uso.
– Limbelha – metidiça, que quer saber tudo. Ponho no feminino porque era mesmo usado só para as raparigas e para as mulheres.
– Atchaque – maleita, doença.
– Assêqui (esta é muito bem apanhada) – dizem que, parece que, consta, de: «Eu sei que», acho.
– Pantchana – enrascado. Delido – desfeito. Por exemplo, um peixe quase podre está mesmo «delido».

Mezinhas populares – «medicamentos» daquele tempo
Vamos agora a duas ou três mezinhas simples que eram muito usadas no Casteleiro:
– Infecções graves por golpes profundos – lavagem com borato (de sódio) – um pó branco como o bicarbonato, diz a minha fonte – e depois punha-se mel como se fosse uma pomada.
– Dores de intestinos e dores menstruais – chá de malvas e bredos mercuriais (parece erva cidreira e dá-se nas paredes. Tinha muitíssima fama há 50 anos).
– Constipações e dores de garganta – chá de sabugueiro misturado com leite. Era difícil de tomar. Tinha um sabor esquisito, diz a minha mãe. Ou então: aguardente queimada, mel e chá de alecrim.
Mas registem que há três ervas que não servem para nada de útil nesta campo. Nem os cocilhos, nem urtigas, nem as azedas. Se não sabe do que se trata, pergunte aos mais velhos.

As profissões da aldeia de antanho
As pessoas trabalhavam quase todas no campo. E de sol a sol. Eram as batatas, o milho para os animais, o centeio (nada de trigo, aqui), os pimentos, as couves. Eram as melancias (com poças da altura de um homem para cada uma), era a azeitona, as castanhas para meia dúzia, os pepinos, os tomateiros e pouco mais (nunca tinha visto cenouras até ao dia em que saí do Casteleiro!). A agricultura era de sobrevivência.
Depois, havia os comerciantes e os artistas…
Duas «sardinheiras»: a ti’ Carminda e e a ti’ Mari Cândida Madeiras. Os comerciantes vendiam o bacalhauzito ainda mais salgado. Alguns exemplos de profissões especiais:
– Os que trabalhavam na altura própria nos lagares de azeite;
– Havia a padaria do Sr. Abílio Moleiro, lá em cima, ao pé do campo da bola desses tempos, em frente ao actual Lar;
– Os ferreiros e latoeiro, como o ti João Latoeiro;
– Barbeiros, no Casteleiro desse tempo, acho que havia pelo menos três: o ti’ Nàciso (Narciso), o «mudo» (desculpem, mas não me lembro do nome), e o «Zé Rosa»;
– O ti’ Narciso era também «enfermeiro, médico, dentista». Tudo, para desenrascar as situações desse foro;
– Comerciantes, houve uns quantos. O t’ Manè Pinto (avô do Paulinho Pinto Martins), ao pé da Praça; mais tarde, o Sr. José Mourinha e o Sr. Tó Pinto; um pouco antes e por pouco tempo, o Sr. Manuel Abade, e sempre, naqueles tempos, o Sr. Firmino – estes dois, mais lá para os lados do Largo do Chafariz. Para comércio mais grossista, havia o t’ Jaquim Canelo, que viveu lá mais adiante, a caminho da saída para os lados da Ponte;
– Carpinteiros, havia o T’ Zé Mel e o Ti Zé Lopes. Ferreiros: o t’ João Ferreiro e o filho, o Tó Ferreiro;
– Taxistas, havia um só de cada vez: primeiro, o Sr. Quim Paiva, depois o Quiel e por fim, nesses tempos, o meu pai, o t’ Zé Pedro (José Augusto);
– Sapateiros havia dois: o ti’ Luís Pinto, na Rua Direita, e o ti’ António Martins no Reduto;
– Pedreiros na nossa terra, havia um grupo deles.
Finalmente havia também três alfaiates e duas costureiras;
– E havia as duas forneiras;
– Taberneiros havia mais dois. O t’ Manel Silva, ao pé do Sr. Tó Pinto, e o t’ Zé «da Velha», na Praça.
Obrigado por me ler, até para a semana, à mesma hora, no mesmo local!
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«A Minha Aldeia», crónica de José Carlos Mendes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Janeiro de 2011.)
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