João Mateus Duarte nasceu em 1952, filho de mineiro e de mãe doméstica, em Aldeia de São Francisco de Assis (Covilhã) que antigamente se chamava Bodelhão. Este nome não agradava à população, pelo seu significado de «homem sujo e imundo», facto que obrigou à mudança, escolhendo-se nos princípios do século passado um novo nome para aquela freguesia. Cumpriu-se a vontade popular, o que nem sempre acontece.

João Mateus Duarte nasceu num ambiente mineiro, rural, com muitas dificuldades económicas, por influência de uma tia, Lúcia de Jesus Duarte, das Servas de Jesus, é com sete anos internado no Colégio do Outeiro de São Miguel, na Guarda, onde faz o exame da quarta classe.
Regressa à sua aldeia natal e é necessário ir trabalhar para o sustento familiar, entrave para dar continuidade aos estudos. Assim, vai trabalhar como aprendiz de torneiro mecânico nas oficinas da B.T.W. (Beralt Tin and Wolfram).
O seu local de trabalho é no Cabeço do Pião, mais conhecido pelo Rio, onde até 1995 funcionavam as lavandarias e as separadoras do minério.
Ali trabalha durante trinta anos, desempenhando diversas funções, torneador de peças, operador e reparador de máquinas.
Durante este longo período de trabalho, faz um interregno, para cumprir o serviço militar, iniciado em Janeiro de 1974 no Batalhão de Caçadores 6, em Castelo Branco, atualmente Estabelecimento Prisional, e continuado na Pontinha (Lisboa) e em Almada.
Nas vivências militares e com o desencadear do 25 de Abril, participa em todos os movimentos revolucionários levados a efeito, inclusive como defensor dos ideais do PREC (Período Revolucionário em Curso).
Regressado à vida civil e ao trabalho das Minas da Panasqueira, com o tirocínio revolucionário obtido no serviço militar entra nas lutas sociais, laborais e sindicais, juntando-se às reivindicações salariais dos mineiros e por melhores condições de trabalho. Com dor e revolta sentiu a morte de jovens trabalhadores soterrados nas galerias das minas.
É eleito dirigente sindical, cargo que desempenhou durante vinte anos. Segundo Paulo Silveira, o seu grande ideólogo foi o sindicalista José Luís Latoeiro, do Sindicato dos Empregados de Escritório, Comércio e Serviços.
João Mateus Duarte foi, durante seis anos, o Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Castelo Branco, membro efectivo da Intersindical, participando activamente em muitos congressos e reuniões da C.G.T.P.(Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses.)
Em 13 de Maio concretiza-se a primeira grande greve, com reivindicações para melhores salários, pagamento do décimo terceiro mês, um mês de férias e quarenta horas de trabalho.
Outras se seguem, com destaque para a greve de seis dias em Julho de 1979, em que mais de mil mineiros com os seus equipamentos de trabalho, acompanhados com esposas e filhos, desfilaram a pé do Tortosendo até à Praça do Município da Covilhã, que ocuparam durante três dias. Depois de demoradas negociações conseguiram acordos salariais.
Em 1983, desencadeou-se nova luta dos trabalhadores, longa e generalizada, impedindo a saída do volfrâmio durante cinco meses.

Foi eleito por dois mandatos, não concluindo o último, pelas listas da CDU-PVE (Coligação Democrática Unitária) na freguesia de São Francisco de Assis, sob a direcção do Partido Comunista Português.
Na época queixava-se dos inúmeros problemas financeiros das autarquias, apoiou as obras da Igreja da Paróquia, um ex-libris revestido por pedras de xisto, o funcionamento de um Posto dos C.T.T. e a criação de um Grupo de Cantares.
Ainda a organização de vários torneios desportivos e a criação de um acervo musical, laboral, artesanal e religioso da Freguesia.
As suas acções nas Assembleias Municipais na Covilhã eram activas, reivindicativas, participativas.
Ficou na história autárquica pela a mobilização da população de São Francisco de Assis para ir plantar hortaliças nos inúmeros buracos existentes no alcatroamento da estrada municipal que a ligava à Covilhã. Foi um acontecimento nacional, que mereceu notícia em diversos órgãos da comunicação social.
Colaborou com diversos textos no Jornal do Fundão, sob a temática das vivências mineiras, das suas lutas, reivindicações e sindicais.
Tem no prelo o livro «Panasqueira – Uma Mina – Muitas Vidas», palavras e memórias de Mineiros, esperando-se a sua edição.
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«Aldeia de Joanes», crónica de António Alves Fernandes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Março de 2012.)
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