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Página Principal  /  01 - Ficção • Concelho do Sabugal • Emigração • Emigração Clandestina • Guarda • Histórias da Memória Raiana • Outeiro São Miguel • Região Raiana  /  Histórias da memória raiana (5.4)
08 Maio 2022

Histórias da memória raiana (5.4)

Por Capeia Arraiana
01 - Ficção, Concelho do Sabugal, Emigração, Emigração Clandestina, Guarda, Histórias da Memória Raiana, Outeiro São Miguel, Região Raiana antónio alves fernandes, antónio emídio, fernando capelo, georgina ferro, josé carlos mendes Deixar Comentário

:: :: ANTÓNIO JOSÉ ALÇADA :: :: No primeiro episódio das «Histórias da Memória Raiana» o António Emídio «apresentou-nos» a família do Luís do Sabugal quando este se preparava para ingressar no Outeiro de São Miguel. Na «quinta temporada» o António José Alçada desvenda-nos uma carta de «O Forcão» para o Luís do Sabugal… (Capítulo 5, Episódio 4.)

Histórias da Memória Raiana - Capítulo 5 - Episódio 4 - António José Alçada - capeiaarraiana.pt
Histórias da Memória Raiana – Capítulo 5 – Episódio 4 – António José Alçada – capeiaarraiana.pt

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HISTÓRIAS DA MEMÓRIA RAIANA
Capítulo 5 – Episódio 4

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Memorial da batalha de Stalinegrado na Rússia
Memorial da batalha de Estalinegrado na Rússia

UMA CARTA DESDE ESTALINEGRADO NA RÚSSIA…

Estalinegrado, 17 de Abril de 1973

Meu grande amigo Luís,

Nem sei se esta carta chega ao longínquo Sabugal. Se bem te lembras tentei várias vezes desertar da Guerra dita colonial, onde uma vez «morri na praia» com a PIDE à minha espera no Sabugal.

Estive preso e enviaram-me para a Guiné, para a zona da Bafatá, depois de um tirocínio no Bijagós, onde o médico era um feiticeiro que até curava. Milagres!

Mas tu conheces-me bem desde a nossa escola no Outeiro de São Miguel. E não desarmo. Voltei a fugir, mas agora para a Guiné Conacri. Conheci pessoalmente o Amílcar Cabral que me apoiou imenso. Um senhor só te digo. Nem entendo porque o mataram em Janeiro passado.

Com ele trabalhavam conselheiros militares soviéticos. Não é que eu fosse comunista, mas apreciaram muito a minha força de não querer uma guerra que nada me dizia. Falavam português como na Raia. Nunca imaginei que soviéticos entendessem, escrevessem tão bem a nossa língua e com o tempo fomo-nos aproximando. Bebem imenso vodka, que nem se aproxima da nossa aguardente de bagaço.

Um dia convenceram-me a ir para a União Soviética. Uma decisão dessas seria mesmo «esquecer tudo o que nos liga» é como cortar as raízes do nosso ser. Mas na verdade para onde iria? Farto de mato, tiros e ser maltratado andava eu!

Acabei por aceitar, mas na condição de ir para Estalinegrado. É uma cidade com outro nível cultural e onde está o Almirantado da Armada Soviética. Fui então evacuado num avião militar, com outros conselheiros militares.

Na verdade, fui para Estalinegrado, mas a receção foi fria e mesmo comunista. Nada de conversas e fiquei detido num centro de análise psicológica para estudarem bem o meu comportamento social e ideológico.

Os soviéticos não são nada tontos. Sabiam mais de mim que eu próprio. Estranho! Só mesmo com infiltrados nas nossas Forças Armadas. E esta rebeldia que eu tinha teve ser «moldada». Nesse centro aprendi russo e era severamente castigado quando errava. Nos testes não haviam notas. Ou passavas ou ias para o isolamento estudar. Obviamente acabas por te redimir e lutas interiormente para um auto-controlo assustador. Querias sair dali quanto antes.

Mas depois de aprender Russo veio a história da Revolução Bolchevique. Aí até sabia alguma coisa o que não foi tão penoso. Não sabia que o vermelho é uma cor simbólica anterior à Revolução. Já vem do tempo dos Czares e tem o significado de «bonito», concretamente no Kremlin e na Praça Vermelha, que sempre teve esse nome.

Nem tenho ideia do tempo que passei nesse tal centro. Não há relógios nem calendários dando uma sensação de estares perdido, sem referências. Mas lá acabei por sair e fui para o que mais queria.

Estou no estaleiro naval da Armada e trabalho como soldador. Aí também tive formação, mas muito profissional e com disciplina um pouco mais branda.

Sinto-me feliz, tenho uma boa assistência médica, formação, uma casa muito humilde, mas tem aquecimento. A casa de banho é que é uma por cada piso do prédio. E misto. De manhã fazemos fila para nos lavarmos, barbearmos, enfim outras realidades.

Tenho acesso a livros em Português, mas nada de jornais ou revistas. Mesmo cartas que recebo, como compreendes, não devem conter aspectos de política ou algo que seja problemático. Essas ficam pelo caminho. Já agora se me quiseres enviar alguma carta vai ao correio de Fuentes de Onoro. É mais fácil.

Por isso muito mais gostava de te contar. Talvez um dia!

Por sinal há uma Igreja Católica e sou livre de a frequentar, pedindo a Deus que um dia possa visitar o meu país, sentir o sabor dessas morcelas, cabritinho, tintinho, queijinho de cabra e a broa.

Um abraço deste teu amigo, conhecido no Outeiro por…

«O Forcão»

:: ::
António José Alçada


::  ::  ::  ::  ::

Os episódios das «Histórias da Memória Raiana» são escritos semanalmente por um autor diferente. Participaram na «primeira temporada»: António Emídio, Fernando Capelo, José Carlos Mendes, Ramiro Matos, António José Alçada, Franklim Costa Braga, António Martins, António Alves Fernandes, Joaquim Tenreira Martins, Georgina Ferro e José Carlos Lages.

Nesta «quinta temporada» o António José Alçada desvenda-nos uma carta de «O Forcão» para o Luís do Sabugal…

Total de episódios publicados: 39.

Apesar de fazer referência a nomes e lugares verdadeiros da região raiana dos territórios do Sabugal esta é uma obra de ficção e qualquer semelhança com nomes de pessoas, factos ou situações terá sido mera coincidência (ou talvez não!)

José Carlos Lages

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Capeia Arraiana

Diariamente desde 6 de Dezembro de 2006.

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