Na maior parte do país tem-se o costume de pregar uma mentira a alguém no dia 1 de Abril, o dia das mentiras, pois não se leva a mal. Os jornais, rádios e televisões primam por apresentar nesse dia uma grande notícia que não é verdadeira e que nem sempre é fácil de detectar. Só no dia seguinte é que costumam desmenti-la.

Crê-se que esta prática do «dia das mentiras» vem de França. No século XVI o Ano Novo era festejado em França no dia 25 de Março, data da chegada da Primavera. Havia grandes festas durante uma semana, terminando no dia 1 de Abril. Foi o rei Carlos IX de França que adoptou o calendário gregoriano em 1564, passando o ano Novo para o dia 1 de Janeiro. Como em tudo na vida, nem todos mudaram de hábitos e houve pessoas que continuaram a festejar o Ano Novo no dia 25 de Março. Estas passaram a ser objecto de gozo e a ser mimadas com prendas fictícias e com outras mentiras. Daí ter ficado o dia 1 de Abril, último dia das festas, como o dia das mentiras. Os Franceses chamam-lhe «Poisson d’avril», os italianos «Pesce d’aprile», ambos com o significado de peixe de Abril. Os ingleses chamam-lhe «April Fool’s Day» (dia dos tolos).
Não sei porquê, em Quadrazais, e não sei se em mais terras de Riba-Côa, o dia das mentiras é no dia 1 de Maio. Atraso no calendário? Haveria alguma festa antiga que se festejasse nessa data em que prevaleciam as mentiras?
Quanto a mim, essa festa eram as Maias, de que só já conheci reminiscências na minha infância, em que as pessoas colhiam ramos de gestas (giestas) em flor, as maias, e se passeavam com elas. O quadrazenho, depois de pregar uma peta a outro no dia 1 de Maio, costuma rir e dizer: «É Maio!» Parece, pois, que este dito nos leva às Maias.
As Maias eram festejadas na noite de 30 de Abril para 1 de Maio.
Enfeitavam-se as portas, janelas e outros locais com flores e giestas de flor amarela (as maias) e dançavam à volta de uma boneca de palha enfeitada, que depois passeavam pelas ruas da aldeia. As Maias eram associadas às castanhas nas zonas onde estas abundavam, como era o caso de Trás-os-Montes e das Beiras. Castanhas em Maio, só pisadas (piladas), salvo nas terras do castanheiro que dá castanhas em Maio, como diz a canção:
No alto daquela serra
Tem meu pai, tem meu pai um castanheiro.
Que dá castanhas em Maio
Cravos roxos, cravos roxos em Janeiro.
Por isso, em Maio comiam-se castanhas fumadas no caniço, pisadas (piladas), porque depois eram pisadas dentro dum grande cesto por um homem calçando tamancos ferrados. Nesse dia todos devem comer castanhas pisadas, senão «monta-lhes o burro»!
É que Maio era o mês dos burros. Havia que esconjurar os maus espíritos… o «Maio», o «Carrapato» ou o «Burro».
Pouco a pouco as Maias foram desaparecendo, certamente com a ajuda da Igreja que ia substituindo as festas pagãs por eventos religiosos cristãos, como fizera com o solstício de Inverno transformado em dia de Natal e com o solstício do Verão transformado nos Santos Populares. Por altura das Maias, em 3 de Maio, passou a festejar-se o dia da Invenção de Sta Cruz e a fazerem-se procissões ao campo- as Ladaínhas de Maio. Estas foram-se sobrepondo às Maias, festividade pagã que festejava Maia, a mãe de Mercúrio.
A parte pagã foi substuida pelo enfeite da Fonte na noite de São João com craveiros e outros vasos que os rapazes roubavam dos poiais das janelas das casas. Só depois de passar a camioneta da carreira, isto é, depois de as pessoas poderem ter visto a Fonte engalanada, é que as donas das flores as podiam retirar.
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«Lembrando o que é nosso», por Franklim Costa Braga
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Maio de 2014.)
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