Era dia de Primavera de sol radioso. Os rapazes saíram apressados da missa e foram a casa engolir um caldo e comer um codorno de pão.

Aperaltaram-se mais um poucochinho, pentearam melhor os cabelos com o pente molhado para domar as repas mais rebeldes! Miraram-se ao espelho e confiantes saíram.
Um a um, depressa se juntaram à entrada da aldeia, frente ao portão da garagem da camioneta da carreira. Cada qual trazia as moedas que conseguira amealhar para pagar ao tocador de concertina. Seria o ti Ruim de Aldeia Velha ou o ti Silveira de Alfaiates, ouvi-lhes dizer. Estavam muito contentes porque o dinheiro já chegava e sobrava.
As raparigas também estavam ansiosas para saírem ao terreiro. Mas elas eram mais comedidas, quer pela educação feminina que lhes era transmitida quer pela responsabilidade de ajudarem as mães nas tarefas caseiras, como tirar a mesa, lavar a loiça… E, claro que havia um vestido para estrear, duas tranças para refazer e um olhar pormenorizado defronte ao espelho! Depois, juntavam-se em grupinhos de amigas e vizinhas e iam indo para o largo do Enxido, por detrás da Igreja, onde os rapazes já se encontravam com o acordeonista.
Mal se soltavam os primeiros acordes daquela caixinha de som que abria e fechava vezes sem conta era ver os rapazes de mão esquerda no peito a convidar uma das moças com quem desejava dançar. E seguia-se o mais delicioso bailado entre os mais diversificados pares. Havia namorados, casais divertidos uns mais outros menos idosos, garotos e garotas pequenas e até mulheres a dançarem umas com as outras.
A canalhita, como eu, divertia-se a jogar às escondidas entre os pares dançantes. Por vezes, recebiam uma «bolacha» na cara por terem empurrado inconvenientemente algum dos pares.
O primeiro baile do ano sabia sempre a pouco, ou porque o sol se punha mais cedo ou porque tinha havido uma longa pausa desde o último baile de Verão. Mas toda a gente levava um grande sorriso de alegria no rosto. E eu gravei essa alegria na minha lembrança.
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«Gentes e lugares do meu antanho», crónica de Georgina Ferro
(Cronista no Capeia Arraiana desde Novembro de 2020)
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