«Mourir pour les idées» («morrer pelos ideais») é uma canção do cantor francês Georges Brassens divulgada em 1972, numa altura em que as ideologias eram mais marcadas. Perante países onde existiam ditaduras, como em Portugal, Espanha e em alguns países da América Latina, era mais fácil compreender o que era a democracia. Também se percebia bem o clima ditatorial imposto pelo partido único nos chamados países de Leste, dominados pela URSS (União Soviética).
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Pessoas deram a vida ao defender renhidamente uma ideologia que nos prometia um mundo sem classes, sem salariado e onde se tendia para uma total socialização económica dos meios de produção. Do outro lado, havia um mundo com eleições livres e ideais democráticos, por vezes difíceis de realizar, e militantes e homens de estado debateram-se também para lutar e defender um ideal de pessoas livres com eleições democráticas.
Neste momento, estamos confrontados com uma outra realidade. Embora não se perceba que possamos estar perante uma questão ideológica, na verdade, ela está bem subjacente. A Ucrânia, um país com as suas fronteiras bem delimitadas, está a ser cobiçado e atacado por um outro, em nome de uma ideologia de dominação, sob o pretexto de fazer parte da mesma cultura, não tendo direito a existir como país independente, negando a sua soberania.
Perante uma tal agressão estamos a assistir a uma adesão nunca vista do povo ucraniano que se mobilizou em massa, dos 18 aos 60 anos de idade, para defender a integridade do seu território, corajosa atitude sem precedentes que leva à admiração de todos nós.
No momento actual, não se sabe até onde Vladimir Putin pretenderá ir. Serão os subsequentes acontecimentos que ditarão o que os dirigentes ucranianos e o mundo ocidental decidirão fazer. São eles que dirão se os nacionais dos estados membros da União Europeia estarão dispostos a pegar em armas para se alistarem nesta guerra e, também, a pagar o preço forte que se traduzirá, inevitavelmente, num empobrecimento dos países da Europa Ocidental. Sustentar uma guerra custa muito dinheiro e tem efeitos devastadores nas populações!
A geração dos baby boomers desdenhou e até mostrou grande desprezo pelas questões de segurança militar porque vivemos numa paz assegurada, nem podendo sequer imaginar perigos de invasão ou de destruição por bombas. A partir destes acontecimentos, o imaginário colectivo mudou e os estados vão ser obrigados a aumentar os seus orçamentos militares.
Por outro lado, os europeus tomam agora consciência de que a liberdade e a segurança são um tesouro que é necessário preservar. Haverá ainda outros valores pelos quais poderíamos enfrentar os inimigos e estaríamos dispostos a morrer? O patriotismo, a mobilização para uma frente de combate, o heroísmo, o sacrifício da vida, são ainda valores em 2022? Nota-se uma grande preocupação em relação a um país que nos é próximo, sentimo-nos irmanados no combate dos seus valores e esta identificação favorecerá, talvez, a aceitação das vítimas que causará, nomeadamente, o sacrifício dos nossos soldados.
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«Pedaços de Fronteira», opinião de Joaquim Tenreira Martins
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Novembro de 2012)
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