Nada que venha nos livros. Nada que possa atrair os pseudo-intelectuais que grassam por todo o lado… Mas para mim, nada de mais interessante. Leia e diga de sua justiça.
Modos de dizer com muita piada
No Casteleiro, quase é cais: quase nada é cais nada. As pessoas não têm joelhos: têm ij’bêlhos.
E agora as frases com piada ou até meio filosóficas (da filosofia da vida real, claro)…
– Isto é um s’pônhamos – quer dizer que se trata apenas de uma hipótese, que não está nada acertado em definitivo, que se está só a dar um exemplo.
– Contra mim falo… – quer dizer que eu disse uma coisa de modo diferente, mas que de facto a coisa era diferente. Ou que estou a falar agora assim, mas que já antes disse outra coisa.
Uma grande mania, na minha terra é uma sezeta:
– Aquela tem cada sezeta! – Isso quer dizer que se lhe metem coisas más na cabeça e não saem de lá…
– Já se tchapou a marcolina! – Isso significa que já se estragou o que estava a andar…
– Devagar, que tenho pressa! – Prefere-se que as coisas fiquem bem feitas.
Por exemplo: diz-se que «as coisas feitas à noite, de manhã aparecem» – e com razão: já me tem acontecido.
– Atrás de tempo, tempo vem! – Ou seja: as pressas dão em vagares.
– Devagar, que tenho pressa!
Também se costuma dizer que a pressa é má conselheira. Tudo isso porque «Roma e Pavia não se fizeram num só dia».
E quando, mesmo assim, alguém ainda está a apertar para se acabar a obra:
– Calma no Brasil, que Portugal é nosso.
É um vê se te avias
E se uma pessoa acha que a coisa se vai fazer rapidamente e que não vale a pena estar preocupado, fala-se assim:
– Isto é um vê se te avias!
Para finalizar esta história das pressas:
– Vás lá todo lampeiro… – quer dizer que és sôfrego, que tens pressa de te «aviares», que vais com muita sede ao pote.
– Era cá um matchacaz! – Ou seja: uma pessoa «munta» grande e mal amanhada.
«A camisa está no fio» quer dizer que a camisa já está muito rafada e gasta.
Quando o garoto está a estragar tudo e se quer avisar de que o pai pode não reagir lá muito bem, diz-se-lhe assim:
– Anda-q’à-rranjas bonita!
Quando alguém diz mal de tudo e nunca gosta de nada:
– Não cuspas para o ar que te cai em cima.
E mais:
– Ir por lã e vir tosquiado ou ir por vinho e vir vindimado…
E quando uma pessoa é teimosa:
– E não cais daí p’ra baixo!
…E muito mais haveria para aqui lhe repetir, como fiz há uns anos e me dá sempre prazer recordar.
Até para a semana, à mesma hora, no mesmo local!
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«A Minha Aldeia», crónica de José Carlos Mendes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Janeiro de 2011)
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Caro Silvestre Rito!
Obrigado pela ajuda.
Que bonitas expressões. É um regalo.
E agora vai ficar admirado, pois algumas destas palavras usavam-se no Casteleiro, sim, apesar da distância maior à fronteira…
Exemplos de palavras que referiu e que se usavam na minha aldeia também:
– GRAVANÇOS;
– PORRA;
– MARRANO;
– BAGINAS, mas dito assim: BEIGINAS;
– Traguer,
– TOMATAS, mas dito assim: TEMATAS;
– XIBO, mas dito assim: TCHIBO;
– GRAVE (andar todo grave)…
Que maravilha!
Os nossos povos são terríveis para estas coisas, meu caro…
E no Casteleiro não têm influência de Espanha, pois no Soito e terras raianas,, das quais o máximo expoente seria Quadrazais, com dialecto próprio devido ao contrabando, essa influência fazia-se sentir.
Quando estudava no colégio do Soito há cerca 55 anos, colaborei num trabalho da professora de francês, irmã do padre Júlio do Sabugal, a quem arranjei muitos vocábulos tradicionais, junto das velhinhas; posso lembrar algumas palavras que eram usadas: -de influência espanhola o grão era GRAVANÇOS, a noiva era NOVIA ; em vez de outros palavrões, dizia-se por influência espanhola muito CONHO e PORRA; ainda hoje a tourada é CAPEIA, tal como o porco era e ainda se diz MARRANO; outras palavras de uso corrente:- Feijão verde era BAGINAS e o caldo era Caldo de Baginas sendo que no inverno era de “baginas secas”, fruto do feijão verde colhido no Verão e deixado a secar; também a sopa de couves era o CALDO DE COIBES; trazer era “Traguer”o tomate eram TOMATAS, talvez para não ferir susceptibildades; pela mesma razão aos testiculos do borrego chamavam ALEGRIAS e eram guardados para o melhor cliente, talvez por acreditar que davam virilidade; o bode pequena era um XIBO e a feminina XIBA; um vidro era um BRIDO, ao plástico chamavam EMPLASTRO: bestir bem era BESTIR GRAVE; e vestir com boa apresentação era ANDAR COM A ROUPA DOS DOMINGOS!
Muita coisa havia mais a dizer, mas fico-me por aqui, certo que outros acrescentarão algo mais!
Obrigado por relembrar certas frases que não via ou ouvia há anos