Como eu, ainda muitos se lembram como seus avós e até os pais acendiam o lume no lar de suas casas…
Da fogueira do serão do dia anterior sobrara uma brasinha escondida nas cinzas da pilheira, atrás do moirão. Era repescada na manhã seguinte, colocada entre dois raminhos de gesta (giesta) que o Verão havia secado, soprada com bom fôlego e eis que dela saía fumo, sinal de lume atiçado. Não tardaria a ver-se a chama que consumiria a gesta e outras que se lhe punham em cima até atear as folhas e os galhinhos de ramos de carvalho ou castanheiro que, por sua vez, incendiariam as cepas arrancadas antes das chuvas.
Já estava pronto para todos se levantarem e virem aquecer-se, esperando que as castanhas no caldeiro tostassem ou as do púcaro cozessem e ficassem prontas para o almoço (pequeno almoço das cidades), ou que as colocadas no caniço continuassem seu processo de chegarem a pisadas (piladas). Era como se um sol tivesse surgido da lareira pronto para dar vida aos da casa e também ao gato que se enroscava junto dela.
Nessa altura já os palitos (fósforos, com «à» aberto) haviam sido inventados pelo químico inglês John Walker em 1826. Mas as fábricas só começariam a funcionar mais tarde e chegariam a Portugal passados alguns anos, já no século vinte. Além disso, às aldeias do Interior, sem estradas adequadas ao seu transporte, ainda chegariam com algum atraso. A poupança dos nossos avós evitavam-nos para não gastarem mais uns tostões e, por isso, seguiam o método tradicional que haviam herdado dos pais.
Lembramo-nos, certamente, das caixas de palitos «Cinco Quinas», com que jogávamos às contras ou cabeças, deitados nas mãos fechadas no sentido que palpitávamos ter correspondência nos palitos escondidos nas mãos do outro jogador e com os quais fazíamos as fogueiras dos magustos.
Mais tarde vieram os palitos em caixas grandes e depois outros cujo pé não era de madeira mas de cera. Por isso se chamavam palitos de cera. As caixas passaram a ter muitas imagens diferentes, muitas delas comemorativas de eventos e até de partidos, a seguir ao 25 de Abril, como se pode ver no Museu dos Fósforos em Tomar.
Também se usaram os metcheros espanhóis, com fricção em pederneira, que tanto acendiam os cigarros como o lume. Mas estes não podiam ser usados na rua, sob pena de multa por parte dos fiscais, que protegiam as fábricas de fósforos, como aconteceu ao ti Zé da Reis.
Mais tarde acabaram essas multas e apareceram os isqueiros a gás que não só acendiam os cigarros como incendiavam fogueiras.
Só quando apareceram os fogões a gás, bem mais tarde, sobretudo nas aldeias, é que surgiram os isqueiros de pedra cuja faísca incendiava o gás e depois, com a electricidade, os isqueiros eléctricos.
Como a vida foi mudando ao longo dos tempos, puxada por estas simples invenções!
Felizmente para nós, já não vivemos nos tempos primitivos em que o fogo se fazia por fricção de um pau sobre madeira ou pedra, que obrigava a grande esforço antes de comer o almoço.
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