Pouco terão em comum uma densa zona urbana e um vazio espaço rural…

A urbanidade exagerada de cimentos, confina os habitantes. A ruralidade logra coisa diferente colhendo do natural a mais genuína liberdade.
A metrópole oferece avenidas amplas mas não se livra de ruídos vários e de bateladas de carros a enfilar-se adensando e inquinando as ruas.
Do campestre, alheio a regras, resultam ocasiões de silêncio explícito e de momentos de infalível paz.
A cidade faz por cativar residentes alargando-se em jardins e parques onde medram verdes de circunstância e descansam pombos confiantes.
A aldeia tenta manter os habitantes oferecendo-lhes ecos, mitos e muita ambiência. As indómitas matas circundantes guardam os sítios ideias para as aves migradoras que a visitam e acompanham do início ao final do inverno. Na primavera surgem os pássaros do sul a riscar os céus dos campos, a descansar nas árvores e a escolher os matagais para se exibirem, para acasalarem, para nidificarem, crescerem e alegrarem a paisagem com voos e cantos que só findam no outono.
A proposta que a cidade faz passa pelas oportunidades de trabalho, pela facilitação da cultura e pela oferta de diversão.
A aldeia leva, até onde é capaz, as suas últimas tarefas e lazeres tradicionais.
Então, não se sabe ao certo quem são os azarentos ou os sortudos. Não se pode asseverar que sobreviver no rural ou colonizar o urbano seja ventura ou fatalidade. Assim como assim, gostos não se discutem e que escolha quem o puder fazer. O que realmente interessa é que o lufa-lufa diário não roube a ninguém a capacidade de observar porque o fascínio pode morar em qualquer sítio, dependendo apenas dos olhos que o procuram.
Toda a beleza é generosa e, às vezes, é tão abundante e está tão próxima que nem se deixa ver. No entanto é fundamental constatá-la porque ela é condimento da vida.
:: ::
«Terras do Jarmelo», crónica de Fernando Capelo
(Cronista no Capeia Arraiana desde Maio de 2011)
:: ::
Leave a Reply