Os Bombeiros Voluntários em Portugal, dizem-se, como a população em geral, na maioria católicos (praticantes ou não), embora não sejam unânimes em relação ao Santo Padroeiro: para uns São Marçal, para outros São Floriano. Mas a religiosidade está lá.
No dia 6 de fevereiro passado o Padre Manuel Igreja Dinis despediu-se do Sabugal e das outras paróquias que lhe estavam atribuídas, numa missa celebrada no Salão da Junta de Freguesia do Sabugal.
Chegado ao Sabugal após o recolhimento do Padre António Souta – que descanse em paz – há cerca de catorze anos, uma das primeiras ações foi fazer um donativo à Associação de Bombeiros, dizendo-me na altura, «a mim não me faz falta e a vós, mesmo pouco, dá-vos jeito».
Tenho que confessar que o que ele chamou pouco foi até essa data o maior donativo de uma só pessoa, pelo menos no meu tempo de presidente. Tinha havido igual e maior, mas de empresas. Mesmo hoje, contam-se pelos dedos de uma mão os donativos que ultrapassam o valor que ele considerou pouco.
Não tive com este pároco a mesma relação que com o anterior, por motivos diversos. Não que a relação fosse melhor ou menos boa, mas apenas que não foi tão frequente, devido sobretudo ao facto de o jornal paroquial – Amigo da Verdade ou Amigo do Sabugal – já não ser o único meio de publicar editais e notícias, como era nessa altura.
Porque não é intenção da crónica discorrer sobre as virtudes ou defeitos do Padre Manuel, ou sobre a sua vida que em verdade não conheço, serve sobretudo para lhe desejar que o resto dos seus dias que esperamos longos decorram em paz e com saúde e autonomia, e agradecer-lhe, também em nome da Associação, o que nestes anos fez pelos seus paroquianos.
Foi esse o significado da presença na missa, do Estandarte da Associação e do Comandante, cuja presença também agradeço, uma vez que a essa hora já deveria estar a caminho da Escola de Polícia em Torres Novas onde é formador.
Leva-me no entanto este facto a algumas considerações sobre a relação entre a Instituição Bombeiros e a Igreja.
Os bombeiros – entenda-se Instituição – são por natureza católicos, pese embora nas suas fileiras haja uns mais, outros menos, outros nada praticantes. Até finais do século XX não havia cerimónia de bombeiros, em que, um pouco afastada da mesa presidencial, não estivesse uma cadeira – na maioria dos casos um cadeirão – destinado à autoridade religiosa local, normalmente o pároco, ou nas cerimónias distritais o bispo ou seu representante. E os discursos, para além de obrigatoriamente referirem «Reverendo..tal, ou Sua alteza Reverendíssima», usavam algum tempo a discorrer nas eventuais qualidades da figura, a que muitas vezes os ouvintes iam torcendo o nariz por lhas não reconhecerem, mas era da praxe.
Para além disso, não havia festa (aniversário, inauguração ou similar) de cujo programa não constasse a «Sagrada Eucaristia» ou incentivava logo os comentários de alguns potenciais participantes, o que às vezes obrigava a alterações do programa para que os mais fervorosos pudessem assistir à missa – mesmo extra-programa –, sendo que também, os que mais defendiam a ideia arranjavam subterfúgio para aproveitar o intervalo e dar uma fugida ao café mais próximo. Tanto a missa, como o fugir a ela, eram da praxe.
Era também da praxe a participação dos bombeiros em cerimónias religiosas, como dizia João Vilaret em «Procissão»:
«…
Olha os bombeiros, tão bem alinhados!
Que se houver fogo vai tudo num fole
Trazem ao ombro brilhantes machados
E os capacetes rebrilham ao sol
…»
No Sabugal, é costume a participação na procissão bienal da Senhora da Graça – considerada madrinha dos bombeiros – e do Corpo de Deus, escoltando o «pálio rico», prorrogativa muito arreigada nos mais antigos, tendo até, há pouco mais de uma dúzia de anos, gerado um incidente numa dessas procissões, quando o pároco, ou quem organizava a procissão, colocou os Escuteiros ao lado do pálio e os Bombeiros atrás. Em protesto o comandante à época e alguns bombeiros abandonaram a procissão, e nem o alterar das posições os levou já a voltar.
Não sendo os Bombeiros uma Instituição saída da Igreja, como os Escuteiros por exemplo, porquê uma relação tão estreita ao longo dos anos?
Só me ocorre uma explicação: A religiosidade das populações, seja de matriz cristã ou outra, manifesta-se sobretudo em tempos de catástrofe, e tem o seu auge nas populações ligadas às profissões mais potencialmente perigosas: populações piscatórias, tauromarquia…
Quase todos os monumentos religiosos, incluindo algumas igrejas, foram mandadas construir como agradecimento – à Senhora, ou ao Santo Padroeiro, conforme a maior devoção de cada mandante – pelo bom sucesso de alguma empreitada potencialmente perigosa; A maioria das ermidas, se o não foram por esta razão, foram-no pela passagem de alguma praga. A própria ermida da Senhora da Graça terá sido erguida após uma praga de gafanhotos.
Para além da potencial perigosidade da função, a atuação dos bombeiros era sempre em condições de catástrofe, razão que me parece ter levado a que a religiosidade das populações donde os bombeiros emanam tivesse sido transformada numa relação que em tempos era quase dependente.
Também não tenho dúvidas, que sendo a maioria de formação cristã, «na hora da verdade», quando o perigo aperta, são os próprios a lembrar-se de algum padroeiro da sua devoção…
Para uns, São Marçal, Bispo de Limoges, de cuja vida pouco se sabe, mas muito provavelmente, será o fresco do palácio dos Papas de Avignon, onde o báculo de São Marçal ressuscita o Conde Sigiberto e extingue um incêndio, que originou a invocação do santo como Padroeiro e Protector dos Bombeiros. Ou porque também é padroeiro do desapego.
Para outros São Floriano, soldado romano que terá integrado um grupo responsável pelo combate a incêndios e foi martirizado por ser cristão e não o renegar. Quase todas as suas imagens têm associada extinção do fogo.
Também o dia 4 de maio, dia da sua festa litúrgica é o Dia Internacional do Bombeiro.
Por um destes, ou por outro qualquer Santo da devoção, nas horas de aperto a religiosidade está lá.
No âmbito do «Rosto detrás da máscara» apresento-vos o João…
Nome: João Gouveia
Posto: Bombeiro de 2.ª Classe.
Idade: 60 anos.
Situação familiar: Casado.
Ingresso na carreira de Bombeiro: 5 de Março de 1986.
Chefia a equipa de silvicultura preventiva da Associação CB.
A foto é com a Bandeira por ser quem a transporta na maioria das cerimónias.
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«A vida do Bombeiro», opinião de Luís Carriço
(Presidente da Direcção da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Sabugal.)
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