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Página Principal  /  Concelho do Sabugal • Lembrando o que é nosso • Opinião/Crónica • Quadrazais • Região Raiana • Tradições  /  O «vivo» em Quadrazais
14 Janeiro 2022

O «vivo» em Quadrazais

Por Franklim Costa Braga
Concelho do Sabugal, Lembrando o que é nosso, Opinião/Crónica, Quadrazais, Região Raiana, Tradições franklim costa braga 2 Comentários

O presépio do Natal contém em relevo, para além da Sagrada Família, a vaca e a mula ou burra que aqueceram o Menino deitado na manjedoira. A vaca e a burra ou mula fazem parte do conjunto de animais a que chamavam o vivo, isto é, os animais de maior porte que, vivendo junto do dono, lhe davam algum rendimento, para além da ajuda nas suas tarefas do campo.

Vaca e vitela
Vaca e vitela

O «vivo» eram, pois, as vacas, burros, cavalos e machos, sendo os últimos raros. Também se pode incluir na designação de «vivo» o gado, de ovelhas e cabras. De fora ficavam os que viviam mais próximo do dono mas que, embora alguns lhe pudessem proporcionar rendimentos, não ajudavam nas suas tarefas, como era o caso dos cães, gatos, galinhas, patos, coelhos e porcos. Ao vivo era necessário deitar-lhe de comer e beber à noite, se não haviam pastado nos campos ou lameiros durante o dia.

As vacas, sendo embora os animais que mais trabalho davam ao dono, pois era necessário ir à erva, canas de milho ou zaburro para lhes dar de comer, eram também as que mais ajuda e rendimento lhe proporcionavam. Com elas lavrava e agradeava os terrenos, acarretava cepas para o lume entrançadas nos estadulhos ou levava estrume da loije para os terrenos dentro dos cetos do carro. Eram elas que faziam as acarreijas do pão para a eira e transportavam a palha e o grão para o palheiro ou casa do dono. Delas este tirava rendimento nas jeiras e nas crias que venderia nos mercados.

Burros, cavalos e machos também o ajudavam na lavoura, nas regas a puxar a nora, no transporte de sacos, feixes de erva, canas ou lenha no dorso, seguros por laços bem arrochados, ou ainda de água nas andilhas. Serviam ainda de transporte para o dono e familiares na ida para os campos ou a mercados. Comiam menos que as vacas e davam também bom rendimento na venda das crias.

Vacas, burros, cavalos e machos fariam ainda estrume na loije, que seria levado para os campos, onde serviria de adubo.

Para seu alimento necessitava o dono de possuir lameiros e regadas ou teria de os alugar. O preço do aluguer era pago a dinheiro ou com estercadas do gado, se o tivesse, nos terrenos do dono dos lameiros, dormindo nos terrenos em bardos fechados por cancelas sustentadas por galhadas.

Já as cabras e ovelhas não o ajudavam nas suas tarefas mas proporcionavam-lhe bom rendimento com o leite de que fazia queijos para seu alimento e venda. Também os cabritos e cordeiros lhe serviam de alimento em festas e lhe rendiam dinheiro na venda, para além da lã das ovelhas que um tosquiador de fora lhe retirava na Primavera.

O dono também beneficiava das estercadas nos seus chões. E até podia vender estercadas a terceiros.

Em casa de meus pais e avós havia de tudo, «vivo» e outros animais. Habituei-me a conviver com eles como se fizessem parte da casa, tal como os humanos. Eram como um complemento da família.

Cavalo e macho
Cavalo e macho

Sinto uma certa saudade dessa harmonia que não tenho em Lisboa. Por isso lhes dedico uns versos…

O VIVO

Olá, vaquinhas! Bom dia!
Prontas estais pr’ó trabalho?
São horas d’ ir dar a jeira
P’ra pagar feno e lameira
Que vos dá tanta alegria.

Vamos junguir-vos ao carro,
Às sogas chegai a cabeça.
Hi! Ouh! Já somos chegados.
Para que nada me esqueça,
Vamos já pôr o arado.
Aivecas já abrem regos
Para as sementes deitar,
Que em boa terra crescerão.
Ora vamos agradear
E cobrir de terra o grão.

Venha o tamoiro de sola
P’ra segurar o cambão
Que essa grade há-de arrastar,
Alisando esse tarrão
Como num campo de bola.

Há-de aqui nascer o pão
Que um dia acarrejaremos
Para na eira o malhar.
Dele farinha teremos
P’ra todos alimentar.

Que alegria, minha gente!
Nasceu uma bezerrinha.
Vamos provar já os crostos,
Leite bom para a vizinha
O beber ainda quente.

Vamos lá pôr a albarda
Em vós, burrinho e cavalo,
Para irmos ao mercado.
Amanhã vamos à erva
Que ireis comer já não tarda.

Uga lá, minha burrinha,
Vou pôr-te os laços em cima.
Um feixe de erva já está,
Outro já pronto se arrima.
Falta o arrocho à carguinha.

Há lugar p’ra mim ou não?
Ou já não podes comigo?
Vou aumentar-te a ração
P’ra me dares uma cria,
Dos meus filhos alegrIa.

Chegou dos campos meu gado.
Pareceis bem comidinhos.
As tetas cheias de leite
Vou ordenhar o que é dado.
Parece que há cabritinhos!

Vou colocar o barbilho
Nesses já grandes cabritos.
O leite será p’ra queijos.
Vendo-os no mercadito
P’ra umas calças p’ra meu filho.

Ovelhinha, meu amor,
O tosquiador já i vem.
Essa lã faz-te calor
E eu logo a venderei
Para um fato para o rei.

Ovelha com os cordeiros
Ovelha com os cordeiros

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«Lembrando o que é nosso», por Franklim Costa Braga
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Maio de 2014.)

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Franklim Costa Braga

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2 Comments

  1. Manuel Luiz F. Nunes Responder
    Domingo, 16 Janeiro, 2022 às 14:10

    Parabéns pelas belas crónicas que me recordam os tempos de menino e moço das minhas origens! Oxalá a inspiração e engenho nunca lhe faltem!

    • Franklim Costa Braga Responder
      Domingo, 16 Janeiro, 2022 às 18:55

      Obrigado pelo seu comentário. Espero continuar a publicar textos que lhe agradem.
      Franklim Braga

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