Os programas eleitorais valem o que valem. Por vezes são apresentados documentos com centenas de páginas cheias de tudo e de coisa nenhuma. O problema é quando se defendem ideias idiotas baseadas em pressupostos errados. Albert Einstein deixou-nos este pensamento: «Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Mas, em relação ao universo, ainda não tenho certeza absoluta.»
A medida eleitoral do Partido PAN no capítulo «Tauromaquia e outras manifestações similares» defende que «se deve retirar a Capeia Arraiana da lista de Património Cultural Imaterial, atendendo ao facto de estes espectáculos terem consecutivamente culminado no sofrimento e na morte do animal.»
O facto descrito é falso como todos sabemos. A ignorância ocupa lugar neste programa eleitoral. Considero mesmo que temos direito à nossa indignação. Mas, como a medida é peripatética aqui deixo, para vos distrair e animar, um texto de Adalberto Muller:
«A partir de uma leitura de Ponge, então, queria poder desconstruir o animal de Derrida, e pensar o seu ensaio “L’animal que donc je suis” (O animal que logo sou) sob a perspectiva do vegetal. Isso me levaria – nos levaria – a algo como, melhor dizê-lo em francês, sem tradução, a algo como “le végétal que donc je suis”. O vegetal que logo sou, que logo existo, que logo sigo. Mas seria possível pensar a partir do vegetal? A partir de sua condição humilde? Num texto como “Fauna e flora”, de “Le parti pris des choses” (1942, traduzido aqui como “O partido das coisas”), Ponge estabelece uma comparação entre o vegetal e a escrita (écriture)…
O vegetal é uma análise em acto, uma dialética original no espaço. Progressão por divisão do acto precedente. A expressão dos animais é oral, ou mimetizada por gestos que se apagam uns aos outros. A expressão dos vegetais é escrita, uma vez por todas. Não há como voltar atrás, arrependimentos e emendas não são possíveis: para se corrigir, é preciso acrescentar. Corrigir um texto escrito, e lançado, por apêndices, e assim por diante.»
Perceberam? Eu também não! É por estas e por outras que ficamos horrorizados com as «certezas» das «framboesas» da nossa vida. Nem elas nos percebem nem nós temos a obrigação de lhes explicar que estão completamente erradas.
Nunca gostei de fundamentalistas nem mesmo quando se apresentam protegidos por túneis de plástico.
Abaixo as framboesas! Vivam as cerejas! Viva a Capeia Arraiana!
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«A Cidade e as Terras», opinião de José Carlos Lages
(Fundador e Director do Capeia Arraiana desde 6 de Dezembro de 2006)
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