A nossa mente é matriz e promotora de voos de pensamento pelo que, não ouso compará-la a mais nada que seja mortal.
De facto, o pensamento alenta-se numa tal exorbitância de sonhos que seria muito difícil concretizá-los todos, mesmo numa vida com mais de cem anos.
Ante esta asserção vou-me convencendo, a mim próprio, da importância de relativizar feitos mais complexos e de valorizar as pequenas coisas.
Se a avidez e certos quesitos do nosso tempo fossem reduzidos ao razoável e se elevássemos o simples a fundamental acabaríamos por nos conformar com o exequível e deixaríamos de passar a vida em lutas inúteis para atingir o inatingível.
Importa, pois, pausar a mente, reconhecer a excelência dos pequenos prazeres da vida, do que é simples e belo e, assim, conseguir felicidade.
Vivemos, por ora, a magia do Natal e o glamour do nosso inverno serrano/raiano. Quiçá seja altura de lhes colher romantismos.
Começo por propor a remição face ao mercantilismo natalício que se aproxima. Em vez de alinhar em plutocracias, talvez reactivar Natais antigos. Regressar aos presentes simbólicos e eleger a gastronomia tradicional, cúmplice do calor das lareiras.
Optar pelo salutar retorno a conversas despretensiosas, aquelas que se iniciam e terminam em abraços demorados. Só que, neste tempo de pandemia, dever-se-á trocar os abraços por sorrisos bem rasgados.
Aproveitar o aconchego das roupas quentes sempre que se queira acolher a simplicidade e o prazer do vento que nos embala, da chuva que nos arrola ou do frio que nos enrijece. Dar tempo à noite escura e longa para que se adorne de estrelas e nos envolva doando contemplação e sossego. Decerto se não perde o tempo quando se contempla o que poderá parecer repetido mas que, na realidade, é sempre novo.
Por este território, montanhês e fronteiriço, cada vez mais desertificado, ainda se não proíbe o encanto por Dezembro nem se lhe roubam todas as evocações. Pertencem a esta época os acordares em madrugadas de céu vermelho, as manhãs cinzentas seguidas de sol tímido a teimar sobre restos de geadas ou nevões. Apreciar dezembro é, portanto, um prazer indescritível.
Aposto que, por aqui, por este Interior Raiano haverá ainda quem sonhe com a possibilidade de travar o tempo e esperar, sem pressas, as liberdades de verde que a esperança primaveril promove.
E, em tudo isto se pode colher bem-estar e romantismo.
Claro que a perseverança dos vírus da atualidade nos assusta e inibe e que as cautelas são como os caldos de galinha, só podem fazer bem. Em todo o caso não há mal que sempre dure e se formos cautelosos a desfrutar talvez possamos ser felizes salvando Dezembro e o Natal. Bem sabemos, nós, os humanos, que precisamos de felicidade como de pão para a boca.
Apenas um desejo final. Que o estimado leitor seja imensamente feliz nesta quadra natalícia que se aproxima.
:: ::
«Terras do Jarmelo», crónica de Fernando Capelo
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Maio de 2011.)
:: ::
Leave a Reply