Gosto das mãos que…
Gosto das mãos que semeiam a terra, que recolhem os frutos e as searas, e que amassam o pão de cada dia. Gosto das mãos que colhem as flores, que enfeitam e perfumam as nossas casas. Gosto das mãos que limpam e fazem brilhar. Gosto das mãos que oferecem presentes, que escrevem palavras de amor. Gosto das mãos que abençoam, que abraçam, que acenam para dizer adeus. Gosto das mãos que partem o pão, que fazem de comer, que levam a comida à boca. Gosto das mãos que sustentam, que amparam, que não deixam cair. Gosto das mãos que acariciam as crianças e que amparam os velhinhos. Gosto das mãos que curam e que cuidam do corpo. Gosto das mãos que abrem a porta aos sem abrigo e que lhes oferecem uma manta para dormir. Gosto das mãos que pintam maravilhas, que escrevem lindos romances e poesias de encantar. Gosto das mãos que não se cansam de suster o livro de leitura e que fazem o gesto de o ir folheando até ao fim. Gosto das mãos que fazem um gesto de perdão e que apaziguam a alma. Gosto das mãos que dão uma palmadinha nas costas e que confortam na amizade fraterna. Gosto das mãos postas para o céu a rezar pelos fiéis defuntos. Gosto das mãos que conduzem a bom porto. Gosto das mãos calejadas, das mãos feridas, das mãos amputadas, das mãos enrugadas. Gosto das mãos habilidosas, das mãos certeiras, das mãos carinhosas. Gosto das mãos dos homens, das mãos das mulheres, das mãos das crianças. Gosto das mãos estendidas, das mãos que se abrem. Gosto das mãos brancas, das mãos negras, das mãos…
Não gosto das mãos que violentam, que batem, que matam. Não gosto das mãos que fazem saudações fascistas. Não gosto das mãos que escrevem palavras de ódio. Não gosto das mãos que não ajudam o próximo. Não gosto das mãos que abafam a voz para impedir de gritar o amor e a liberdade. Não gosto das mãos que traficam, que vendem drogas mortais. Não gosto de mãos que manipulam armas para matar inocentes. Não gosto das mãos que preparam atentados terroristas. Não gosto das mãos que roubam, que corrompem, que acumulam riquezas que não lhes pertencem. Não gosto das mãos cheias de raiva, das mãos manhosas, que enganam, que mentem. Não gosto das mãos que fazem gesto obscenos, que ameaçam, que põem defeitos. Não gosto das mãos que fecham a porta, que enviam para a prisão e para o inferno. Não gosto das mãos que conduzem ao precipício, que endividam países, que fazem cálculos enganadores e contabilidades mentirosas. Não gosto das mãos que recusam socorrer e que não se interessam pelos outros.
As mãos são órgãos maravilhosos. Tal como os olhos ou a boca, exprimem tanto o bem como o mal.
Nesta época de Natal e de Ano Novo, são as nossas mãos que vão exprimir e apresentar os votos de boas-festas, apertando a mão a uns e a outros, em sinal de amizade, de amor e de paz.
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«Pedaços de Fronteira», opinião de Joaquim Tenreira Martins
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Novembro de 2012)
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