• O Primeiro…
  • A Cidade e as Terras
  • Cronistas
  • Documentários
  • Ficção
  • História
  • Acontecimento Ano
  • Personalidade Ano
  • Ficha Técnica

Menu
  • O Primeiro…
  • A Cidade e as Terras
  • Cronistas
  • Documentários
  • Ficção
  • História
  • Acontecimento Ano
  • Personalidade Ano
  • Ficha Técnica
Página Principal  /  01 - Ficção • Concelho do Sabugal • Distrito da Guarda • Histórias da Memória Raiana • Outeiro São Miguel • Região Raiana  /  Histórias da memória raiana (4.5)
12 Dezembro 2021

Histórias da memória raiana (4.5)

Por Capeia Arraiana
01 - Ficção, Concelho do Sabugal, Distrito da Guarda, Histórias da Memória Raiana, Outeiro São Miguel, Região Raiana antónio alves fernandes, antónio emídio, antónio josé alçada, fernando capelo, georgina ferro, josé carlos lages, josé carlos mendes Deixar Comentário

:: :: ANTÓNIO ALVES FERNANDES :: :: No primeiro episódio das «Histórias da Memória Raiana» o António Emídio «apresentou-nos» a família do Luís do Sabugal quando este se preparava para ingressar no Outeiro de São Miguel. Na «quarta temporada» o António Alves Fernandes escreve em memória do contrabandista bismulense Manuel José Brigas... (Capítulo 4, Episódio 5.)

Histórias da Memória Raiana - Capítulo 4 - Episódio 5 - António Alves Fernandes - capeiaarraiana.pt
Histórias da Memória Raiana – Capítulo 4 – Episódio 5 – António Alves Fernandes – capeiaarraiana.pt

:: :: :: :: ::

HISTÓRIAS DA MEMÓRIA RAIANA
Capítulo 4 – Episódio 5

:: :: :: :: ::

Cemitério de Espeja perto de Ciudad Rodrigo – entre pedras e arciprestes
Cemitério de Espeja perto de Ciudad Rodrigo – entre pedras e arciprestes

HERÓIS DO CONTRABANDO RAIANO

Em memória do contrabandista bismulense Manuel José Brigas

Nas décadas de quarenta, cinquenta e até sessenta do século passado, de uma forma geral o contrabando diverso de e para as povoações castelhanas, vizinhas das terras fronteiriças portuguesas, era transmontado do dorso humano ou via manual.

Também muitas vezes, principalmente peças de vestuário e de calçado, vinham inseridas no próprio corpo. Conheci o caso de uma pobre senhora, que tinha adquirido umas sapatilhas, que o desumano guarda fiscal obrigou a tirar e a caminhar descalça para a sua residência. Todavia, um colega com bom senso e humanidade impediu tal atitude, permitindo que aquela mulher regressasse calçada. Mas não ficou por aqui a situação, pois o agente desautorizado fez queixa aos seus superiores hierárquicos, refugiados em bons gabinetes onde nada faltava, que levantaram um processo disciplinar e consequente expulsão do samaritano por tão grave crime.

Esse agente arraiano, embora expulso, não desistiu de procurar outros caminhos profissionais, seguiu para as oficinas da Companhia de Ferro na Reboleira, na Amadora, onde tirou o curso de mecânico e mais tarde de maquinista, fazendo inúmeras viagens ferroviárias na zona de Vilar Formoso. A história de vida profissional de maquinista por muitos anos, conheceu muitas facetas que se cruzaram com guardas-fiscais e contrabandistas, mas ficamos por aqui…

Além do chamado contrabando doméstico, naquelas décadas também se centralizava na passagem de mulas de terras fronteiriças portuguesas para Espanha. Também com menos frequência a tração animal também era necessária para calcorrear caminhos e atalhos rurais. De há muito tempo a esta parte, as «mulas» vêm de avião, originárias de espaços transatlânticas com produtos que destroem a juventude e muitas famílias.

Um dia questionei o conterrâneo e parente, o saudoso Dr. Manuel Leal Freire, estudioso do tema do contrabando, sobre a transacção clandestina e fronteiriça destes animais. Esclareceu-me que aqueles animais eram muito apreciados além-fronteiras, porque eram os tractores daquela época para lavrar os campos rurais e o transporte dos produtos produzidos.

Manuel José Brigas, natural da Bismula, no concelho do Sabugal, um contrabandista ao serviço de Serrote, seu conterrâneo, fez muitas excursões com aqueles animais por terras castelhanas. O negócio era bom, porque por cada animal entregue recebia a quantia de vinte escudos, muito dinheiro naquela época.

Na noite de 4 de setembro de 1949, uma bala disparada «por arma de fuego usada por fuerza del Puesto de la Guardia Civil de Fronteras en Espeja», segundo relatório daquela autoridade, causou-lhe uma grave ferida de que resultou a sua morte.

Este trágico acontecimento vitimou o meu padrinho de batismo e aconteceu aos meus quatro anos. Só passados muitos anos tive um restrito conhecimento, todos se escusavam a comentar o assunto. Sempre me intrigou este silêncio sepulcral, principalmente no seio da família, talvez pela dor e tristeza causadas.

Não desisti, quis conhecer os seus pormenores, documentação dos factos, e para que ficasse para sempre na memória convidei o escritor Manuel da Silva Ramos para escrever um romance sobre esta trágica morte. Assim aconteceu com a publicação do romance «Três Vidas ao Espelho».

Com este escritor, durante várias viagens percorremos aqueles territórios de contrabandistas, conversando interpolando com muitas pessoas, algumas ainda se recordavam desta tragédia. De todas elas recebemos informações dolorosas, críticas e coincidentes.

As autoridades espanholas apesar de «atirar a matar», cumpriram rigorosamente todas as formalidades legais, certidão de óbito, nota oficial circunstanciada da ocorrência forense e relatório da medicina legal, proporcionaram missa de sufrágio, sepultura no cemitério da localidade onde decorreu o «crime» e, sempre que possível, com a identificação completa do defunto contrabandista.

O fúnebre recado depressa chegava por diversas vias, a maior parte das vezes por terceiras pessoas, que o faziam chegar às famílias das vítimas. Estas não tinham passaporte mas as guardas fronteiriças concediam vistos de curta duração limitados à mulher, pai e mãe do defunto.

No cemitério de Espeja, localidade espanhola perto de Ciudad Rodrigo, no lado esquerdo da sua entrada, ali ficou sepultado para sempre o contrabandista bismulense, português Manuel José Brigas, local onde foi plantado um cedro onde ainda hoje pernoitam diversas aves.

Da sua terra natal, Bismula, não houve ninguém com a coragem para o resgatar. Noutras aldeias fronteiriças, em operações nocturnas, arriscadas, clandestinas, com arrojados guias armados até aos dentes, robustos carregadores e três ou quatro «coveiros», levantavam os corpos das sepulturas, trasladavam-se por diversos meios de transporte, para a residência dos seus familiares, ao fim de a comunidade paroquial se associar às cerimónias exequiais.

Este texto é uma homenagem a esses valentes, heróicos, solidários arraianos, que conseguiram trazer os corpos dos seus conterrâneos defuntos para junto das suas famílias. Com paz, orações e liturgias, realizavam uma digna cerimónia fúnebre junto de todos.

:: ::
António Alves Fernandes

:: :: :: :: :: :: ::


:: :: :: :: :: :: ::

Os episódios das «Histórias da Memória Raiana» são escritos semanalmente por um autor diferente. Participaram na «primeira temporada»: António Emídio, Fernando Capelo, José Carlos Mendes, Ramiro Matos, António José Alçada, Franklim Costa Braga, António Martins, António Alves Fernandes, Joaquim Tenreira Martins, Georgina Ferro e José Carlos Lages.

Nesta «quarta temporada» o António Alves Fernandes escreve em memória do contrabandista bismulense Manuel José Brigas.

Total de episódios publicados: 33.

Apesar de fazer referência a nomes e lugares verdadeiros da região raiana dos territórios do Sabugal esta é uma obra de ficção e qualquer semelhança com nomes de pessoas, factos ou situações terá sido mera coincidência (ou talvez não!)

José Carlos Lages

Partilhar:

  • WhatsApp
  • Tweet
  • Email
  • Print
Capeia Arraiana

Diariamente desde 6 de Dezembro de 2006.

 Artigo Anterior Éric Zemmour – o candidato do ódio
Artigo Seguinte   Casteleiro – a aldeia no seu melhor

Artigos relacionados

  • Histórias da memória raiana (5.4)

    Domingo, 8 Maio, 2022
  • Comemoração do 25 de abril na EB 2/3 do Sabugal

    Segunda-feira, 25 Abril, 2022
  • Histórias da memória raiana (5.3)

    Domingo, 10 Abril, 2022

Leave a Reply Cancel reply

Social Media

  • Conectar-se no Facebook
  • Conectar-se no Twitter

RSS

  • RSS - Posts
  • RSS - Comments
© Copyright 2021. Powered to capeiaarraiana.pt by BloomPixel.
loading Cancel
Post was not sent - check your email addresses!
Email check failed, please try again
Sorry, your blog cannot share posts by email.