Não posso acreditar que Éric Zemmour possa ser um dia Presidente da República. Como é que a França, fundadora dos direitos do homem, do humanismo, da democracia, poderá ter produzido um candidato todo empestado de ódio, que atiça a guerra contra os imigrantes, contra as mulheres, contra a Europa, contra os delinquentes, contra… contra…
Parece que estas candidaturas fundamentalistas e radicais estão agora na moda, influenciados pela ideologia que nasceu nos Estados Unidos com o ideólogo Steve Bannon que já contaminou políticos como D. Trump, Matteo Salvini, Jair Bolsanaro, Marine Lepen e tantos outros. Infelizmente, estamos a assistir a uma maneira de fazer política em que é necessário, para ser eleito, fazer uma campanha enxameada de slogans de um radicalismo extremo.
Já se imaginou o discurso de Zemmour, após a sua hipotética e espero que improvável eleição, dirigindo-se à nação francesa do Palácio do Eliseu?
Caros compatriotas, começou, a partir de hoje, uma nova era para a República francesa, e, de agora em diante, nada será como antes. Vamos pôr termo à emigração dos países muçulmanos e dos países do terceiro mundo, as nossas fronteiras irão ser restabelecidas, abandonaremos o pacto com a Nato e estabeleceremos uma aliança com a Rússia, o nosso país será governado apenas pelos meus ministros e não pelos funcionários de Bruxelas. Os delinquentes estrangeiros serão expulsos para os países de origem, restabeleceremos o franco francês para podermos fazer crescer a nossa economia; as glórias da civilização francesa, conquistadas essencialmente por homens que se bateram ao longo dos tempos, serão ensinadas nas nossas escolas.
Não posso imaginar o ambiente glacial que perpassaria por cada rosto dos ouvintes do hexágono, do resto da Europa e do mundo.
Éric Zemmour faz-se passar por um homem providencial para solucionar o mal francês e combater a imigração, o terrorismo, a estagnação dos salários, o insucesso escolar e mesmo a Covid, sempre apostado com uma pistola apontada contra os árabes e os muçulmanos, tal como Adolfo Hitler contra os judeus.
Pouco a pouco, vão-se conhecendo melhor as ideias que povoam a sua mente, tais como o seu pensamento sobre as mulheres e feminismo, não escondendo a primazia do homem sobre a mulher, que, segundo ele, se inscreve na ordem natural das coisas. Considera a homossexualidade uma aberração e não permitirá o casamento entre pessoas do mesmo sexo, nem as reivindicações dos transgéneros.
De origem judia, apoia o estado de Israel e não permitirá que os palestinianos possam constituir-se em estado soberano.
Perante um tal programa, os franceses terão de se decidir em Abril próximo. É conhecida a volatilidade dos eleitores do hexágono, sempre descontentes de quem os governa, colocando, por vezes, o seu voto num candidato da extrema esquerda ou da extrema direita.
A brincar às eleições, os franceses poderão acordar no próximo dia 24 de Abril com um presidente que nunca imaginaram e que irá dividir a França, a Europa e o mundo.
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«Pedaços de Fronteira», opinião de Joaquim Tenreira Martins
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Novembro de 2012)
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