Surpreendeste-me ao partir. Se tivesse acontecido despedida terias percebido que eu não estava preparado para te ver seguir por esse caminho tão surpreso e prematuro.

Mas esse teu trajecto não foi de um só sentido. Nele insculpiste as peugadas da nossa amizade e assim o tornaste reversível.
A tua recordação volta, tem voltado e voltará no seguimento do tempo. Ressurge sempre clara, claríssima e vale dizer que há mais, muito mais, para além da tua partida. Ficaram, de facto, as nossas memórias e essas são indeléveis.
Tenho, afinal, um vazio. em mim, que encho com uma alentada soma de lembranças. Não esqueço, não vou esquecer os desafios que nos fizemos, o que chegámos a concretizar, as piadas que nos replicámos, o tempo que ambos gastámos cada um cuidando da sua associação e, às vezes, os dois a cuidar das duas. Preencho, ainda, essa lacuna de alma com leituras repetidas dos teus escritos e, no espaço que me resta, guardo a evocação do teu cumprimento diário que melodiavas quente e saltitante:
– Bem Capelinho? Bem?
São, assim , inequívocas as saudades e só te desculpo a abalada porque sei que não te foi possível infringir as leis da natureza.
Entende-me, pois. Entende porque escrevo e porque só agora escrevo. Tem-me travado a emoção. Uma emoção sui generis que me anima e me retrai. É muito mais difícil falar do que nos custa e é tão mais difícil quanto mais nos custa.
Mas, sim, tinha que te falar de saudade. Não de uma saudade qualquer. Antes de uma saudade magoada que busca consolo mergulhando em recordações sucessivas.
Todavia, ainda não consegui digerir a desdita inteira e, de garganta sufocada, vou dando por mim a repetir:
– Não, não deverias ter partido assim.
Post Scriptum: Ao meu amigo Norberto.
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«Terras do Jarmelo», crónica de Fernando Capelo
(Cronista no Capeia Arraiana desde Maio de 2011.)
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