Os judeus começaram a sair da Palestina para muitos recantos do mundo logo após a conquista de Jerusalém pelo imperador romano Tito em 70 depois de Cristo. Foi a diáspora. Para a Península Ibérica vieram uns 700 mil. Em Portugal fixaram-se sobretudo nas grandes cidades. Ficaram conhecidos por judeus sefarditas.

Muitos judeus vieram de Castela com a vitória de Henrique de Transtâmara, no tempo de D. Pedro e D. Fernando, por terem apoiado Pedro I de Castela na guerra contra Henrique, o vencedor. Foram sobretudo para a Guarda e Trancoso. Aquando da expulsão pelos reis católicos em 1492, cerca de 35.000 judeus vieram para Riba Côa, para entre Vilar Formoso e Castelo Rodrigo e mesmo para o Sabugal, na esperança de poderem voltar para Espanha.
Os Judeus foram proeminentes nalgumas profissões pelos seus conhecimentos superiores aos das restantes populações. Na Idade Média eles já conheciam os algarismos árabes, ao contrário dos cristãos que só usavam a numeração romana. Daí estarem mais adaptados para o comércio que se desenvolveu com as feiras francas no reinado de D. Afonso III e D. Dinis.
Foram preferidos como cobradores de impostos e de rendas a favor do rei, profissões que lhes granjearam muitos ódios.
Como moeda de troca pelo casamento de D. Manuel com Isabel, filha dos reis católicos, que já era viúva do príncipe Afonso, filho de D. João II, aqueles impuseram a D. Manuel que expulsasse os judeus de Portugal. O nosso rei cumpriu esse desejo com o édito de 5 de Dezembro de 1496, acima reproduzido, embora tivesse permitido a presença dos que se convertessem ou fingissem converter-se ao cristianismo, os quais ficaram conhecidos por cristãos novos ou marranos.
Muitos preferiram sair para a Holanda e para a Grécia (Tessalónica) e alguns para Tânger. Continuaram a falar o ladino, língua semelhante ao castelhano falada pelas comunidades judaicas. Em 1969 fui a Israel e comprei na rua um jornal em ladino, o que significa que os judeus que saíram da Península Ibérica ainda continuavam a falar a língua que aí usavam. Sendo cultos e amantes de antiguidades, levaram para as novas terras no exilio muitos livros portugueses. Assim se explica que tenha sido descoberto na Biblioteca de Amsterdão um livro cuja capa em pergaminho continha cantigas de amor. Na biblioteca da Esnoga (sinagoga fundada pelos judeus portugueses) há milhares de manuscritos e livros, muitos dos quais levados de Portugal. Ao fundo da Esnoga há uma inscrição em português com os nomes dos que construiram aquele templo, muitos com nomes portugueses: Moisés Curiel, Daniel Pinto, Moisés Israel Pereira, Isaac Pinto, José Israel Nunes, Samuel Vaz, David Salom de Azevedo, Abraão da Veiga e Jacob Aboab da Fonseca, este o primeiro rabino desta sinagoga, nascido em Castro Daire.
Dos milhares que de Portugal foram para a Holanda, restaram uns 800 após a ocupação nazi, que os exterminou.
Os conversos espalharam-se pelo interior, onde poderiam esconder-se mais facilmente. Alguns misturaram-se por casamento com cristãos velhos.
Mas já antes os reis os haviam fixado nas zonas fronteiriças, tal como a mouros e homiziados, não só para repovoamento dessas zonas mas também para ajudarem na defesa das zonas fronteiriças.

Após o «Pogrom»* de 19 de Abril de 1506 em Lisboa, onde foram mortas umas centenas de judeus ou cristãos novos, a maioria abandonou Portugal.
Em Quadrazais devem ter-se fixado alguns judeus, a dar crédito aos inúmeros nomes bíblicos: Abel, Adão, Benjamim, Daniel, David, Elias, Eliseu, Ester, Ezequiel, Gabriel, Jeremias, Josué, Judite, Lázaro, Matias, Miguel, Nazaré, Rute, Salomé, Simão e Tomé, para não falar de Ana, Isabel, Jesus, João, Joaquim, José, Manuel, Maria, Pedro e Paulo comuns em todas as terras. Podem ser apenas afinidades com os nomes bíblicos de santos ou profetas, mas pode tratar-se também de ligação a judeus ou cristãos novos.
Nomes de família considerados de judeus encontramos em Quadrazais:
Afonso, Almeida, António, Antunes, Caldeira, Campos, Cardoso, Carlos, Carvalho, Casado, Castelhano, Coelho, Cordeiro, Costa, Couto, Cruz, Dias, Duarte, Esteves, Feijão, Fernandes, Ferro, Freire, Gama, Gomes, Gonçalves, Lopes, Loureiro, Lourenço, Marques, Martins, Mendes, Monteiro, Morais, Moreira, Moura, Novaes, Pacheco, Perdigão, Pereira, Pina, Pinheiro, Pinto, Pires, Preto, Queirós, Ramires, Reis, Ribeiro, Rodrigues, Salvador, Sanches, Santos, Silva, Simão, Simões, Soares, Sousa, Teixeira, Torres, Trindade, Valente, Vaz, Vicente e Vieira.
Diz-se comummente que os judeus adoptaram nomes de árvores, plantas, animais, profissões, objectos e cidades, De acordo com a lista apresentada, ligados a árvores apenas existem em Quadrazais: Carvalho, Loureiro, Pereira, Pinheiro e Silva; ligados a animais, apenas Cordeiro, Coelho, Perdigão e Pinto.
Não quer dizer que todas as pessoas com nomes destas listas sejam de facto descendentes de judeus.
Há palavras de origem judaica muito usadas em Quadrazais. É o caso de desmazelo e tacanho.
A forma mais segura de saber se tem ascendência judaica é ver se havia práticas judaicas na sua família e essas não as conheci em Quadrazais. Creio serem herança de judeus lavar os mortos e vestir-lhes roupas e sapatos novos, rezar com os polegares cruzados, gritar nos enterros, pedir a bênção aos pais, padrinhos e abades e ser a família a que deita as primeiras pazadas de terra sobre o caixão.
Em Quadrazais podemos ver o que parece ser uma mezuzah numa casa ao Fundo e uma cruz num moinho ao Salgueiral, que serviria para camuflar judeus, possíveis proprietários daquele.
No terceiro volume da minha obra «Para que não se Perca a Memória de 400 Anos de Vida em Quadrazais» publiquei dois processos da Inquisição em 1726 contra duas judias provenientes do Teixoso que viviam em Quadrazais: Leonor Mendes e Inês Gomes. Eram acusadas de seguirem a lei de Moisés. Estes processos dão-nos a conhecer que havia comunidades de cristãos novos que se mantinham crentes no Judaísmo em várias localidades do concelho do Sabugal e terras de concelhos limítrofes:
Teixoso, Alcafozes, Idanha-a-Nova, Monsanto, Penamacor, Fundão, Covilhã, Belmonte e Tortosendo.
Estima-se que em 1500 os cristãos novos seriam 8% da população portuguesa e em 1620 seriam 17% dessa população.
Estima-se ainda que um quinto da população portuguesa é de origem judaica.
Ao certo apenas podemos dizer que muito sangue judaico corre nas veias dos portugueses.
Uma lei de 2013 permitiu obter a nacionalidade portuguesa a todos os descendentes de judeus portugueses. Umas centenas vão, certamente, aproveitar essa oportunidade.
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* Historicamente, o termo «Pogrom» tem sido usado para denominar atos em massa de violência, espontânea ou premeditada, contra judeus, protestantes, eslavos e outras minorias étnicas da Europa. Porém é aplicável a outros casos a envolver países e povos do mundo inteiro.
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«Lembrando o que é nosso», por Franklim Costa Braga
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Maio de 2014.)
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700 000 ?? nao pode ser ,350 000 era o total dos judeus em toda a espanha e portugal en 1496 foram expulsos 165 000 a maior parte deles foram para turquia,maroco algeria tunisia e otros pays , depois no annos a seguir foram muitos para a franca ,holllanda ,inglaterra italia muito pocos ficaram .uma das familias mai rica de bordeus eram judeos portugues ,o nome deles era afonse enrique ? primeiro rey de portugal ,nos sabemos que eles mudaram seus nomes para nomes cristaos, e portanto impossivel nomes typicamente portugues serem todos judeos . Os judeos viviam em toda a costa mediterranea sobretudo em cidades grandes .no interior viviam muitos em saragossa toledo ,em portugal lisboa e porto .mas eu acho que o judaismo e uma religiao ,como e possible fazer test geniticos sobre uma religiao??? E cordeiro podes ser aquele que fez cordas? Todos esses nomes vem da biblia feita por judeos ,tudo isso es complicado e nao podemos dizer que os portugues sont judeos.
Não inventei o número de 700.000, que eu também achei muito grande. Vi esse número numa fonte documental que julguei idónea..
Muito boa informação, obrigado.🙂