Se na viragem do século as Associações tinham capacidade financeira, o mesmo não se passa agora. A maioria gere o dia a dia, e um atraso na reposição dessas verbas até que haja orçamento, pode causar gravíssimos problemas. Os incêndios e o seu combate, com os custos associados, não se compadecem com as crises políticas, e os fornecedores já tiveram a sua dose com a pandemia.

Até aos anos 60, os incêndios florestais (ou rurais como agora se chamam), eram raros.
Também o Corpo de Bombeiros do Sabugal possuía apenas o velhinho Bedford (de bancos ao «léu») e adquiriu nessa altura (já década de 60) outro Bedford, mas este já com água e bomba acopolada.
O primeiro incêndio que me lembro, aconteceu em frente ao início da Estrada Municipal que sai do Km 4 da estrada Sabugal-Vilar Formoso para o Soito, no mesmo local onde este verão aconteceu novo incêndio. A área ardida terá sido idêntica (ou menor naquela altura), mas no combate houve uma diferença abismal. Naquela altura, eu, rapazote com cerca de dez anos que vivia a quinhentos metros, quando vi o fumo tão perto desloquei-me para lá, e quando cheguei a área estava completamente tomada por populares (dezenas pelo menos) vindos da freguesia que é Rendo e da anexa Cardeal, onde os sinos tocaram a repique. Incêndio quase já não vi, para grande desilusão minha. O incêndio de 2021, foi também rapidamente dominado, mas por várias viaturas, dezenas de bombeiros e três aviões. Populares, só os mirones e alguns políticos que estávamos em época de campanha eleitoral autárquica.
Não tem esta história grande interesse para o tema do escrito, mas é sempre bom recordar os tempos de adolescência, aqui sem qualquer juízo de valor.

Apenas na década de 80, com a inauguração do quartel, aparecem mais bombeiros, mais formados e com mais viaturas.
É também a partir de meados desta década que os incêndios florestais começam a ser mais frequentes e mais devastadores.
O Estado atribuiu aos Bombeiros o seu combate e criou compensações para tal, com despesas ressarcidas mais ou menos a pedido e apoios dependentes da maior ou menor influência dos dirigentes ou comandantes.
Foram-se criando regras para essas reposições e apoios, até às que agora vigoram, (Diretiva Financeira da ANEPC) que definem que só pode haver incêndios rurais de 15 de maio a 15 de outubro, pelo menos só repõem as despesas nesse intervalo de tempo.
Independentemente dessa definição, que merece reflexão, e as alterações climáticas têm vindo a desmentir, (o Concelho já teve anos com mais incêndios rurais em fevereiro e março que em julho ou agosto), habituaram-se as Associações a ver ressarcidas as despesas.
Primeiro, ainda no tempo do extinto Serviço Nacional de Bombeiros (SNB) no nosso caso, dependentes da Inspeção Regional de Bombeiros do Centro (IRBC), com cálculos um pouco arcaicos. No fim do verão o Comandante apresentava as despesas que entendia, e a IRBC pagava as que achava razoáveis. Ainda recordo uma reunião para esclarecer os cálculos, a que me desloquei para perceber porque recebia o Sabugal cerca de 90% das despesas apresentadas e vi gente não questionar o porquê de receber apenas 30% do apresentado. Deu-me uma ideia de como eram calculadas.
Felizmente as regras alteraram, as exigências e os prazos também, e de há uns anos a esta parte as despesas apresentadas são ressarcidas.
Nos primeiros anos, ressarcidas no ano seguinte, às vezes já em cima da nova época, mas as Associações já estavam a contar.
Foi melhorando, com a tentativa de pagar no ano civil, às vezes a 31 de dezembro, que entrava nas contas apenas em 2 ou 3 de janeiro, causando alguns problemas na contabilidade do «deve/haver», que se pretendia fechar a 31 de dezembro.
O sistema foi aprimorando, e anos houve em que ia sendo pago durante a época e estava «arrumado» o assunto em meados de dezembro.
Em 2019 voltou ao 31 de dezembro, de 2020 ainda não foram pagas despesas referentes a outubro, e 2021, até ao momento em que escrevo, nada.
Mesmo das compensações ao pessoal que costumam ser pagas no fim do mês a que se referem, ficou para trás a segunda quinzena de outubro.
Já todos percebemos que o orçamento de 2021 não comporta estes valores, senão alguns teriam sido pagos. Pode ser uma boa desculpa, mas não cola, a da penhora das contas da ANEPC (segundo as notícias). Houvesse disponibilidade e haveria outras formas de efetuar o pagamento.
Some-se a isto o possível atraso nos pagamentos do transporte de doentes (a falta de orçamento vai tocar a todos) e teremos o quadro completo.
O executivo da LBP também está em transição; O anterior já não está e o novo ainda não chegou, por isso o silêncio. Silêncio da ANEPC e do Ministro, que do alto da sua arrogância espera ser reconduzido.
Se na viragem do século as Associações tinham capacidade financeira, o mesmo não se passa agora. A maioria gere o dia a dia, e um atraso na reposição dessas verbas até que haja orçamento, pode causar gravíssimos problemas. Os incêndios e o seu combate, com os custos associados, não se compadecem com as crises políticas, e os fornecedores já tiveram a sua dose com a pandemia.
Oxalá esteja enganado, e o silêncio referido acima não se transforme em estrondo quando algumas Associações se virem obrigadas a submeter-se a planos de recuperação.

No âmbito do «Rosto detrás da máscara» apresento-vos o Filipe…

Nome: Filipe Miguel Barreiros Esteves
Posto: Bombeiro de 2.ª classe
Idade: 42 anos
Situação familiar: união de facto
Filho: Duarte (dois anos)
Situação profissional: Bombeiro
Ingresso: 22 de Janeiro de 2009
Ingresso na carreira de Bombeiro: 14 de Setembro de 2014.
Pai: José Guilhermino Teixeira Esteves
Mãe: Maria Irene J. M. Barreiros Esteves.
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O Filipe na primeira pessoa…
Certo dia alguém me perguntou porque escolhi ser bombeiro. Bem, minha resposta foi objetiva:
Não me tornei bombeiro em momento algum, sempre foi um objectivo e forma de vida, já desde a escola primária dizia que quando fosse adulto queria ser Bombeiro. Ser Bombeiro vai além de uma profissão, é uma missão, um compromisso com a sociedade. Um Bombeiro nunca encerra a sua atividade profissional, sai do quartel após inúmeras horas de trabalho e a qualquer momento tem a consciência de que talvez possa ser chamado a ter que atuar numa ocorrência. Percebemos facilmente, quando estamos fardados, a expressão de alívio nos rostos das pessoas, percebemos que somos bem-vindos e que a nossa presença transmite segurança e proteção, percebemos que as pessoas se esquecem de que dentro da farda está um ser humano frágil como elas, mas elas nos veem como alguém que fará a diferença se algo de pior acontecer.
O olhar de respeito e confiança que recebemos das pessoas produz em nós dois sentimentos paralelos: um profundo contentamento e alívio e, ao mesmo tempo, uma ansiedade traduzida pelo receio de não correspondermos ao que esperam de nós. Carregamos a sensação de estarmos a ser observados por onde passamos, de sermos identificados como os primeiros a serem abordados num caso de perigo iminente, perdemos a nossa identidade pessoal e somos vistos pela nossa identidade profissional, deixamos de ser o Zé, a Maria… e passamos a ser referenciados como o Bombeiro, a Bombeira…
O que poucos sabem sobre nós é o que acontece «por debaixo da máscara», enquanto socorremos alguém, dependendo da natureza da ocorrência, mas guardamos as nossas fragilidades e as nossas dores no bolso e seguimos dispostos a dar o nosso melhor em prol de quem precisar do nosso socorro.
Durante as missões, ignoramos o cansaço extremo, o frio, o calor, as dores físicas, a fome… a sede. Tudo isso fica irrelevante diante da dor do outro.
Acabamos por arranjar força, não se sabe de onde, mas nunca abandonamos uma causa. Ser Bombeiro é a minha missão, o meu compromisso em «ajudar» a sociedade.
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A pré-inscrição para a «escola de bombeiros» pode ser feita… (Aqui.)
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«A vida do Bombeiro», opinião de Luís Carriço
(Presidente da Direcção da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Sabugal.)
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