Octávio Gil Morgadinho, nasceu a junho de 1939, na Vila de Silvares (Fundão), onde predominavam as actividades rurais, complementadas com o trabalho árduo das Minas da Panasqueira, onde o seu pai coordenou o comércio com serviços de apoio à empresa mineira.

«O tempo do Advento é para nós solicitação e estímulo. A esperança cristã cumpre-se na atenção aos acontecimentos, na realização de actos concretos que testemunham a presença do amor de Cristo em nós.»
Padre Octávio Gil Morgadinho
Octávio Gil Morgadinho é o mais velho de dois irmãos e uma irmã, cresceu num ambiente de tradição católica, com um pároco muito próximo, (o que hoje não acontece, alguns nunca atendem os telemóveis), precaridades sociais e económicas. Naqueles tempos os seminários eram as escolas, as instituições educativas, para os alunos mais pobres darem continuidade aos seus estudos primários. Assim aconteceu ao aluno Octávio Morgadinho, que aos onze anos inicia a frequência no Seminário do Fundão.
Aos vinte e três anos termina o Curso de Teologia, e embora a idade canónica da ordenação sacerdotal, fosse de vinte e quatro anos, inacreditável tal norma, obteve a dispensa do tempo, e é ordenado conjuntamente com o meu saudoso conterrâneo, Manuel Joaquim Martins, em Trancoso em 19 de agosto de 1962, por Policarpo da Costa Vaz, Bispo da Guarda, (que falava…falava…e cansava.)
Estava-se na alvorada do Concilio Vaticano II, determinado pelo Papa João XXIII, iniciado em outubro de 1962, que o irá marcar profundamente, (depois de tantos anos, ainda há tanto para cumprir), assim como as leituras do Beato Charles de Foucault, o Diário de um Pároco de Aldeia de Georges Bernanos e o Poder e a Glória de Graham Greene.
É nomeado coadjutor das paróquias de São Pedro e Santa Maria em Trancoso de 1962 a 1965. Entre 1965 e 1969, regressa à Guarda para também coadjuntor da paróquia de São Vicente.
Recentemente recordou esses anos de coadjutor em Trancoso e Guarda:
«Atravessei períodos de alguma conflitualidade na forma de estar e nas relações no interior e para o exterior da Igreja. Na minha diocese de origem – Guarda – a reação perante as decisões do Concílio provocou divergências no clero, acusações de infidelidade e desvios da ortodoxia. As questões sociais, os compromissos da Ação Católica, o desenvolvimento da contestação da guerra colonial e do regime político. O meu percurso sacerdotal atípico tornou-se mais sensível para os que estão nas franjas da Igreja e próxima dos seus valores.»
Ontem como hoje, alguns problemas ainda se mantêm em muitas hierarquias eclesiais e não só. As vozes contestarias, discordantes são muitas vezes silenciadas e as suas protagonistas encostadas à parede, causadas com a ausência do diálogo e de um cuidado «que a Igreja deve cuidar na sua linguagem».
Também os seus desabafos e intervenções escritas em Trancoso, Guarda, Barroca Grande (Fundão), principalmente a carta heróica, que desta localidade escreveu em dezembro de 1969, dirigida ao Bispo da Guarda, na época Policarpo da Costa Vaz.
O resultado destas discordâncias, «histórias complexas», tiveram um caminho, ao fim de algum tempo de indefinição do Paço Episcopal Egitaniense, ida para Lisboa, frequência de um Curso de Capelão na Academia Militar.
Segue como Alferes Miliciano Capelão para a Guiné-Bissau, uma Via-Sacra dos anos 1970 a 1972, que vai percorrer espaços que me foram tão próximos, que também anteriormente calcorreei de outubro de 1968 a dezembro de 1970, período da minha estadia militar naquelas paragens.
Chegado aquele território em setembro de 1970, integrado num Batalhão de Caçadores, no seu diário de guerra, escreve em 8 de outubro de 1970, no Cumeré, realça que a viagem marítima decorreu com normalidade, com os porões do navio repletos de soldados e nunca observou em Bissau tanta desorganização e anarquia. A seguir a anarquia veio a fome, com os primeiros dias de comissão militar a rações de combate insuficientes e bebidas esgotadas.
Vive a realidade da guerra em colunas militares em ataques aos quarteis de Bissorã, Bissum, Biambe, Encheia, Olassato, páginas de arrepiar qualquer leitor, mas de perfeita realidade. Nestes aquartelamentos foi padre, psicólogo, sociólogo, estudante e professor. Naquele mister dirigiu uma escola regimental para militares e para população local, ação pedagógica, que lhe valeu um valor do Comando Militar da Guiné.
Regressado à Metrópole, solicita ao Bispo da Guarda um trabalho pastoral, sendo informado por aquele dignatário da Igreja, que a Diocese não tinha paroquia para lhe atribuir.
Com esta decisão episcopal segue outros caminhos pastorais na Diocese de Lisboa, na paróquia de Nossa Senhora de Fátima na Parede, onde entre os anos de 1980 e 2020, desenvolveu uma ação sacerdotal intensa, de grande valor junto daquela comunidade em todas as suas vertentes, que lhe mereceu a estima dos paroquianos, com realce dos movimentos juvenis.
Com a seu percurso académico universitário, formando-se em Letras na Universidade Clássica de Lisboa e Filosofia, habilitou-se com professor de Filosofia na Escola Secundária de São João do Estoril entre anos de 1980 a 2002 e orientador de estágios de Filosofia.
Tem publicado assiduamente muitos textos sobre diversos temas de caracter familiar e pedagógico no Jornal da Família da Obra de Santa Zita.

Em 2014 publicou a obra «Desafios – Educação, Família e Escola». Em julho de 2021, acaba de publicar, «Um percurso ao serviço de Deus e dos homens», livros de leitura obrigatória, neste Advento, tempo de conversão, de abertura, e disponibilidade para Deus aconteça na nossa vida culminando o seu auge na Festividade do Natal.
Esta crónica só foi possível com o envio gentil daqueles dois livros, por parte de Fernando Firmino, residente em Setúbal, conterrâneo do Padre Morgadinho, que publicamente lhe agradeço.
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«Aldeia de Joanes», crónica de António Alves Fernandes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Março de 2012.)
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Duas (muito breves) palavras, apenas!
1) Aprecio o “site” de referência CAPEIA ARRAIANA e, em particular, as crónicas, sempre curiosíssimas, do Sr. ANTÓNIO FERNANDES, cuja fraterna relação com as origens permanece bem viva, e que nos habituou a que com ele possamos reflectir sobre a especial importância da nossa memória colectiva, onde se integra o percurso biobibliográfico do respeitado Sr. DR. PE. OCTÁVIO MORGADINHO.
2) Neste contexto, não será demais enfatizar aqui a figura solidária de um Homem cujo perfil sacerdotal e docente ultrapassa de longe o âmbito do território diverso da Igreja diocesana Egitaniense e nos convida a alargar os horizontes socioculturais e do próprio pensamento filosófico contemporâneo (a este propósito, importa relembrar a admirável originalidade da sua Tese de Mestrado, consagrada a um Autor célebre, PAUL RICOEUR, um estudo criteriosamente aprofundado, dentro da melhor ortodoxia pós-conciliar e dos inovadores e reconhecidos métodos pedagógicos do REV. MORGADINHO).
GRATO pela atenção e Cordialmente,
Fernando FIRMINO [Setúbal]
Obrigado pela atenção do cronista que conheci nos meus velhos tempos de deambulação por aquelas terras quando o saudoso P. Manuel Joaquim Martins, meu amigo e companheiro de carteira durante a maior parte do curso do Seminário, foi Pároco de Aldeia de Joanes e Aldeia Nova. Continuei depois a acompanhar as publicaçes até lhe perder o rasto. Obrigado também ao Fernando Firmino, silvarense militante que não deixa escapar nada do que vai acontecendo aos seus conterrâneos entre os quais me encontro.
Desejo apenas fazer uma correção: A fotografia que ilustra o texto com a legenda “Padre Octávio Gil Morgadinho no «activo» aos 90 anos (foto: D.R.)” não é minha nem eu tenho 90 anos. Oxalá possam publicar um semelhante daqui a oito anos. Tenho presentemente 82 anos completados a 1 de Junho passado. A fotografia é do P. José Batista da Silva que faleceu em Outubro de 2010 com 84 anos. Foi ele que me recebeu na Paróquia da Parede, em Outubro de 1980, com a devida anuência do então Cardeal patriarca de Lisboa D. António Ribeiro. Trabalhei na paróquia em colaboração estreita com ele, acompanhando-o nos últimos 30 anos da sua vida e tornando possível a permanência no seu posto até ao seu falecimento. Aqui lhes presto a minha homenagem. No dia do seu falecimento o Cardeal-Patriarca confiou-me a responsabilidade da Paróquia da Parede do Patriarcado de Lisboa onde permaneci até ser substituído depois de alguma insistência minha para ser dispensado depois de completar 80 anos. Como sei que o António tem um fraquinho pelo escutismo, acrescento um pormenor fui 40 anos Assistente do Agrupamento da Parede.
Recordo com saudade as palavras do P. José Batista da Silva quando eu passei a trabalhar com ele: “Sempre gostei muito da catequese das crianças e tive dificuldade em lidar com os jovens: Fique com os escuteiros” Foi uma boa experiência da minha vida”
Exmo. padre Morgadinho
O erro foi na edição da crónica e do qual me penitencio pela falha.
As minhas desculpas. Corrigido.
José Carlos Lages