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Página Principal  /  Angola • Concelho do Sabugal • Guarda • Histórias da Memória Raiana • Outeiro São Miguel • Região Raiana  /  Histórias da memória raiana (4.4)
28 Novembro 2021

Histórias da memória raiana (4.4)

Por Capeia Arraiana
Angola, Concelho do Sabugal, Guarda, Histórias da Memória Raiana, Outeiro São Miguel, Região Raiana antónio emídio, antónio josé alçada, fernando capelo, georgina ferro, josé carlos lages, josé carlos mendes, ramiro matos Deixar Comentário

:: :: ANTÓNIO JOSÉ ALÇADA :: :: No primeiro episódio das «Histórias da Memória Raiana» o António Emídio «apresentou-nos» a família do Luís do Sabugal quando este se preparava para ingressar no Outeiro de São Miguel. Na «quarta temporada» o António Jos´é Alçada fala-nos da importância do livro «A Cidade e as Serras» na vida de uma menina angolana... (Capítulo 4, Episódio 4.)

Histórias da Memória Raiana - Capítulo 4 - Episódio 4 - António José Alçada - capeiaarraiana.pt
Histórias da Memória Raiana – Capítulo 4 – Episódio 4 – António José Alçada – capeiaarraiana.pt

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HISTÓRIAS DA MEMÓRIA RAIANA
Capítulo 4 – Episódio 4

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Alguém me dá um livro?...
Alguém me dá um livro?…

O GOSTO PELA LEITURA

O Luís quando esteve a cumprir o serviço militar chegou a estar destacado no Negage, na zona de Carmona, onde existia uma Base Aérea. O Negage era uma cidade muito movimentada, tendo em conta a economia que uma Instalação da Força Aérea potenciava.

Havia uma cantina onde o Luís gostava de ir. Também vendia livros de bolso da colecção Europa/América a um preço muito acessÍvel.

Uma menina negra estava a ler sentada no chão um dos livros: «A cidade e as serras», de Eça de Queiroz.

«Adopteia-a. A sua famíla faleceu com a queda de um avião mesmo na sua palhota, em Cuílo, não muito longe daqui. A sua sorte foi estar em casa de uma tia, que conheço bem. É muito esperta a mocinha. Passsa a vida a ler!»

O Luís agachou-se e aventurou-se a questionar o motivo daquele livro e não outro. Ela sentiu dificuldade, evitando olhar para aquela roupa verde, mas educadamente respondeu que sonhava um dia conhecer Portugal.

Pediu para ela ler um pouco. A serra lembrava-o a longínqua Beira Alta e as saudades da família e amigos. Começou então muito devagarinho sem tirar os olhos do emaranhado das letras escritas pelo Eça. Às vezes emprerrava mesmo. Por um lado o Realismo Queirosiano não era fácil. Mas por outro a fonética era na realidade um problema para os africanos.

O Luís levantou-se e perguntou ao homem se, de quando em vez, poderia passar pela cantina e ensinar a menina a ler com mais fluidez. Sem dúvida que se sentia o seu gosto pelas letras.

«Seria um gesto de coração. A criança está horas a olhar para as letras, mas com tanto que fazer, tenho muita dificuldade em a ajudar. Ficaria-lhe muito agradecido.»

De facto o Luís passou a ler com a criança, quando tinha disponibilidade. Ajudava-a nas dúvidas que trazia da Escola. Trouxe-lhe alguns livros mais ligados à Beira, como «Manhã Submersa», ou algumas obras de Raul Brandão, escritor que passava os verões na Nespereira, como o «Portugal Pequenino». Liam em conjunto procurando o Luís explicar-lhe o sentido das frases.

Porém o livro «Mar de Setembro», de Eugénio de Andrade, na realidade lhe prendeu profundamente aquele olhar negro e brilhante.

Ganhou então coragem e pediu ao Luís para ficar com aquele livro. Por um lado nunca tinha visto o Mar, e Setembro, foi aquele mês trágico que a atirou para a custódia do português. A musicalidade de Andrade, foi a luz que necessitava para a ajudar a «se encontrar».

Em alguns meses já conseguia escrever textos e o homem da cantina um dia ofereceu rancho melhorado na sua casa, mesmo por cima, onde a D. Maria cozinhava divinalmente. Os filhos já estavam na Universidade, um em Luanda e outra em Lisboa. A jovem Maribel, era a companhia, ou a neta prematura, que acabava por ser o orgulho daquela gente, dada a sua educação e maneira de ser.

Meses mais tarde, quando voltou ao aquartelamento de Henrique de Carvalho, na Companhia de Caçadores, recebe uma postal da jovem, a agradecer todo o apoio sendo presentemente uma das melhores alunas da classe feminina.

O facto é que os anos passaram. O Luís regressou, desmobilizado para a reserva territorial, e voltou para o Casteleiro.

Certo dia, bons anos depois, recebe um postal aéreo. Vinha de Angola. A tal jovem que teve a sua ajuda, conseguiu aproveitamento nos exames de admissão para ingressar na Faculdade de Letras, de Luanda. Reconhece que graças ao livro oferecido pelo Luís, nunca mais parou de ler e escrever, principalmente poesia, e mostrava gratidão por esse facto.

E termina a carta com um singelo poema de reconhecimento:

«Um dia de verde mansinho,
Vem militar direitinho,
Ensinar jovem cassula,
A conhecer palavras de formusura.

Semente terá germinado,
No poema do Mar de génio,
Vivendo o livro nunca terminado,
E trazendo-lhe palavra do Eugénio.

Sons de gratidão não faltarão,
Quando alguém preza de nobreza,
Ajudando alguém perdido na escuridão,
Amigo Luís, obrigado,
Nunca mais se sentirá aquele Setembro de tristeza!»

Lunda Norte, 22 de Novembro de 2021

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António José Alçada

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Os episódios das «Histórias da Memória Raiana» são escritos semanalmente por um autor diferente. Participaram na «primeira temporada»: António Emídio, Fernando Capelo, José Carlos Mendes, Ramiro Matos, António José Alçada, Franklim Costa Braga, António Martins, António Alves Fernandes, Joaquim Tenreira Martins, Georgina Ferro e José Carlos Lages.

Nesta «quarta temporada» o António José Alçada fala-nos da importância do livro «A Cidade e as Serras» na vida de uma menina angolana.

Total de episódios publicados: 32.

Apesar de fazer referência a nomes e lugares verdadeiros da região raiana dos territórios do Sabugal esta é uma obra de ficção e qualquer semelhança com nomes de pessoas, factos ou situações terá sido mera coincidência (ou talvez não!)

José Carlos Lages

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Capeia Arraiana

Diariamente desde 6 de Dezembro de 2006.

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