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Página Principal  /  Angola • Covilhã • No trilho das minhas memórias • Opinião/Crónica  /  Vivências da poetisa Isabel Sango
26 Novembro 2021

Vivências da poetisa Isabel Sango

Por António José Alçada
Angola, Covilhã, No trilho das minhas memórias, Opinião/Crónica antónio josé alçada Deixar Comentário

Conheci a poetisa Isabel Sango no grupo da Associação dos Escritores Angolanos Independentes, onde no confinamento, lhe fiz uma entrevista para o Jornal da Caserna, em Abril de 2020, recorrendo ao mail para estabelecermos o primeiro contacto.

Poetisa angolana Isabel Sango
Poetisa angolana Isabel Sango

Através de troca de mensagens propus-lhe fazer um livro que o editor baptizou de «Vivências Paralelas». Para ambos foi a primeira prova de «fogo». No meu caso a internacionalização e lutar para ser tentar escrever poesia. Para Isabel Sango foi o concretizar de um sonho de um livro publicado.

Conheci-a pessoalmente no dia da minha libertação, em Luanda, na primeira semana de Setembro de 2020, no dia véspera de uma aventura de 1500 quilómetros cujo destino era Dundo, na Lunda Norte. Nessa altura ainda se viviam os confinamentos obrigatórios e não haviam voos domésticos.

No dia do lançamento do «Vivências Paralelas», dia 11 de Fevereiro de 2021, fiz um artigo na Capeia Arraiana intitulado «Carta a Garcia» agradecendo-lhe a oportunidade que me deu. Garcia é seu nome materno.

Passado este tempo, e com convites sucessivos para participar em tertúlias literárias, tendo-me valido o prémio de melhor escritor em Ebook, entendi desafiá-la para uma entrevista, cuja publicação calha no dia do seu aniversário.

– Poetisa Isabel Sango, muito obrigado por esta entrevista à Capeia Arraiana. Quando sentiu vontade do gosto pela escrita?

– Datar de forma precisa e assertiva sobre quando senti a vontade de começar a escrever com certeza eu não conseguiria mas, lembro-me de alguns acontecimentos que impulsionaram em mim o gosto pela Escrita.

Quando os meus pais se separaram, eu e as minhas duas irmãs mais velhas, Luisa e Maria, ficamos a morar com o meu pai.

As minhas manas estudavam no período diurno e eu no matinal. Sempre que chegava a casa meu pai, para além de consultar os meus cadernos e obrigar- me a falar sobre o que aprendemos, ele também me obrigava a copiar textos do meu agrado para melhorar a minha caligrafia.

Comecei a prestar atenção nos personagens, nas histórias que os textos me passavam. Daí então, fui ganhando o gosto pela escrita, e sempre que terminava de copiar o texto eu elaborava de seguida um texto narrativo, descrevendo as coisas que mais me marcavam com a ausência de minha mãe, e criava historietas onde meus pais eram os protagonistas. Alterava apenas o nome deles e, dava sempre um final feliz.

– Noto que em Angola os jovens escritores e escritoras optam pela poesia, como estilo preferencial. Vê algum motivo especial?

– Até então, eu apenas escrevia Romance até descobrir a beleza que se escondia nas entrelinhas dos textos poéticos.

Sou muito observadora, cautelosa e comunicóloga, talvez por ter o sobrenome Sango, que na língua portuguesa significa quer Notícia ou Risos.

Só de pensar que posso alertar, prevenir, entreter e informar um determinado público com um texto criativo e curto, isto já chama a minha atenção. O especial para mim nos textos poéticos é o facto de eu falar sobre tudo que me vem na alma, sem receios, sem estar dependente de alguém, usando a subjetividade. Gosto dos textos que me tiram da zona de conforto que suscitam em mim uma reflexão profunda, uma análise crítica e/ou mudança de atitude.

De igual modo é de minha preferência elaborar e disponibilizar textos do mesmo tipo para o meu público alvo.

– Sendo ainda estudante universitária, cursando Administração e Gestão de Empresas, porque não optou pelas Letras?

– Antes de eu ter ingressado na Universidade, deparei-me com pessoas muito negativas que na qual eu confiei que lessem os meus textos e que dessem um parecer. Naquela altura nem eu e nem eles entendíamos sobre o significado da literatura, e muitas foram as que me acabaram por desencorajar.

Apenas, em 2018, é que eu dei passos significativos. Mas até eu dar, já me encontrava matriculada no curso de Gestão.

– Sei que tem tido muitos convites para ir à Rádio e Televisão falar sobre literatura, direito das mulheres e inclusivamente declamar poemas. Qual foi o momento mais marcante destas imensas oportunidades que tem tido?

– Sem sombras de dúvidas foram três os momentos marcantes:

O primeiro momento foi quando fui à Rádio Cacuaco. Eles disponibilizaram duas horas de antena para nós, com tema voltado ao papel da mulher na literatura, e o facto de eu me ter sentado com a poetiza Geruzilda, Yermarília Tomás, declamadora Leila Kany e a apresentadora Maria Massanza. Foi muito marcante para mim.

No segundo momento marcou-me o convite feito pelo escritor Adão Zina, o qual eu respeito e admiro, para que eu declamasse o poema do poeta maior, Dr. Agostinho Neto, com o tema Adeus na Hora da Largada, dedicado a todas as mães negras que perderam os seus filhos na guerra colonial, no programa Jovem Mania da TPA2. Senti tanta responsabilidade ainda mais sendo no dia do herói nacional (data de falecimento do Presidente Dr. António Agostinho Neto), e do mesmo modo senti-me muito privilegiada. Recebi de colegas, amigos e familiares reações positivas, e isso deixou- me intensamente feliz.

O terceiro momento, foi o facto de eu ter vencido o pr´émio Super-fã da Record TV, com o meu vídeo onde eu declamava de forma criativa o poema «Na Record TV você só tem a ganhar». Nesse trabalho, eu relatei de forma cronológica tudo que apresentava na Record TV, no período das zero às 24 horas. Não foi o prémio em si que me marcou mas sim o facto de ter sido um concurso realizado a nível nacional.

– Sei que partilhámos uma obra tendo sido marcante para ambos. Foi a sua primeira obra publicada e a minha primeira obra de poesia. Pode-me dizer em poucas palavras como caracteriza o projecto e, em experiências futuras, com outros autores ou autoras, o que tem de melhorar?

– Admito que antes mesmo de termos publicado o livro e de me propuser o projecto, corria-me nas veias a fome e a ansiedade de ver os meus escritos valorizados dentro de um museu ou seja num livro. Após o lançamento quando toda a poeira baixou, olhando para o que é o «Vivências Paralelas», minha identidade e minha inserção no universo da Escrita, consigo ter diretrizes sobre alguns aspectos que devo melhorar. Falo por exemplo na escolha e nos conteúdos dos textos que devem estar voltados ao tema principal do livro. Falo também de obeceder algumas estéticas do texto.

– Agora uma pergunta difícil mas importante para a curiosidade dos leitores e leitoras de ambos os países. Como encara escrever num idioma europeu, sendo africana?

– Sem sombras de dúvidas a língua ou o idioma é um dos elementos identificativo de um país ou nação. Sem querer ser muito política e levantar a poeira que há muito tempo já repousa, Angola tem um passado político divergente com Portugal, e deste mesmo passado nós tivemos de conceber o idioma Português como sendo presentemente a nossa língua oficial. Porém, fora dela temos as línguas nacionais, como é o caso do Kimbundu, Nganguela, Ombundu, Kikongo, Tchokué e outras. Infelizmente, ainda somos reféns desta herança que nos foi deixada. Nós por si só ainda não conseguimos alavancar os nossos idiomas e fazer com que sejamos percebidos. Estamos tão receosos em ensinar as nossas línguas nacionais, que os nossos pais acabaram por não nos ensinarem também. Este foi um erro que se vem repetindo e, deste modo, corremos o risco de perdemos a nossa identidade cultural com a inexistência dos falantes das línguas nacionais.

– Como sabe sou Professor de Lingua Portuguesa no 1.º Ciclo do ensino oficial angolano. Pese embora gramática não seja literatura gostaria de saber a sua opinião sobre cultura literária e o que faria para que a cultura angolana, em plena ascensão, entrasse numa fase de afirmação?

– É lastimável ensinar- se aos mais novos o que nós aprendemos quando novos, deixados por outros que também na época deles eram novos e por aí em diante.

O estado angolano tem vindo a criar políticas de reformas educativas de modo a atualizar o sistema de ensino Angolano mas ainda assim as aulas de língua portuguesa são muito monótonas e na maioria das vezes antiquadas, tanto é que um aluno do 1.º ciclo encontra dificuldades para fazer a dissertação de algum texto que lhe é submetido.

Para que Angola entre numa fase de Afirmação serão necessárias incluir no estudo da língua portuguesa, dentro do sistema Educativo Nacional, textos dos autores maioritariamente Angolanos. Não quero com isso desprestigiar autores de outros países ou até deste idioma, de modo que se conheça determinados aspetos históricos e que se estude o contexto coloquial de cada texto e o próprio autor. Deste modo, estaremos a traduzir a disciplina de língua portuguesa ao nosso contexto.

– Esperando que seja uma gestora de sucesso, questiono qual seria a sua maior ambição como escritora angolana?

– Na verdade não quero fama. Uma das minhas maiores ambições é de impulsionar a literatura angolana como tal, ou seja, criar conteúdos que mudem vidas, revolucionem mentes e atitudes e que proporcione para Angola um modelo afirmativo de literatura angolana. De modo que, um estrangeiro ao ler quer no livro físico como no e-book, um livro angolano ele diga: este livro é sem sombras de dúvidas pertencente a literatura Angolana.

Talvez tenha sido a entrevista mais díficil que fiz. Mas a frontalidade da poetisa Isabel Sango, mostra, na minha opinião, o caminho que cada povo deve trilhar na sua cultura. O tempo seguramente irá impulsionar, tal como aconteceu no Brasil, uma marca forte no que será a Angola do futuro. E na música até há o Semba que, infelizmente, também está a ser substituído por outros estilos de fusão que o adulteram.

Porém, na literatura esse fenómeno não está a acontecer. Só que na realidade ainda há muito trabalho por fazer.

Luanda, 20 de Novembro de 2021

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«No trilho das minhas memórias», crónica de António José Alçada
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Março de 2018.)

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