A Fraternidade Nuno Álvares (Junta Regional da Guarda) tinha no seu Plano de Actividades, agendado no programa anual, a celebração diversificada do seu patrono, na freguesia do Sameiro, no concelho de Manteigas. Uma celebração muito rica, pois por coincidência envolveu a inauguração de uma nova Sede do Núcleo da Guarda, e os festejos do 42.º Aniversário do Núcleo da Covilhã, um dos mais antigos do País.
Não faltou a necessária mobilização, e assim compareceram centralizando-se naquela freguesia, cerca de cem elementos dos Núcleos da Covilhã, Tortosendo, Fundão, Teixoso e Guarda, na Festa Litúrgica de São Nuno, que naquela Paróquia tem este Santo nos altares da sua Igreja, dia do seu festejo. Por essa razão não se estranhou que à nossa chegada soasse o estrondo de foguetes da alvorada.
Numa rede de dezasseis rotas de percursos pedestres, os fraternos com melhor preparação física fizeram as três rotas, a do Sol, a das Faias e a do Sameiro, enquanto os outros optaram por parte das segundas. Juntos na Cruz das Jogadas, dali partimos rumo à Capela de São Lourenço.
Na Rota do Sol, observa-se uma paisagem de agricultura tradicional, vinhedos, hortas, lameiros, levadas, casas típicas da serra, caminhos, muros ornamentados por verduras e pequenos arbustos aromatizantes.
Na Rota das Faias, surpreende-nos uma vegetação esplendorosa, paisagens únicas, com os raios do sol a penetrar pelas folhagens daquelas árvores, que no início do século XX ali foram plantadas. Observamos diversas cores outonais com incidência no castanho e vermelho, uma inspiração para artistas e pintores, num local onde se desfruta o silêncio, o ar puro, a tranquilidade, os cheiros da natureza e o refúgio de pastores.
Chega-se ao cimo da montanha, onde se situa a Capela de São Lourenço, reedificada em 1612, com uma imagem de pedra Ançã, do século XIV, guardada no Tesouro da Paróquia de Manteigas.
Estamos num espaço de cultos pagãos, que foram através dos tempos extintos, ali vivendo um ermitão, Domingos Dias, com lendas e milagres, que levaram o Povo à construção daquela Capela.
A fazer a honra àquele Santo Mártir, vemos carvalhos com quatrocentos anos de idade, com um significativo poema de Miguel Torga: «Eis o Pai da Montanha, o bíblico Moisés Vegetal! Falou com Deus também. E debaixo dos seus pés, inominado, tem A LEI da vida em pedra natural!»
Estamos num local de observação a 360 graus, pelo que observamos terras e serranias de Espanha, Monsanto, Serra de Malcata, Torre, Vale Glacial do Zêzere, Cântaro Magro e Gordo, Penhas Douradas… quase que tocamos o Céu.
Numa breve palestra com a proteção do São Lourenço, o Eng.º Rafael Neiva e Paulo Manuel dos Santos Costa dissertam sobre o valor florestal daquela região, da plantação e reflorestação, da defesa do ambiente, da transumância, dos baldios… da natureza.
Ali partilhamos a primeira refeição, criando forças para iniciar a terceira rota, a Rota do Sameiro, numa caminhada em declive para aquela aldeia.
Percorremos bosques encantados, mágicos, enquadrados com riquezas históricas, com beleza e natureza.
Cansados, mas felizes por esta caminhada, chegou a hora do almoço, para às 15 horas, na Capela de São Nuno, conjuntamente com a comunidade local do Sameiro, assistirmos à Eucaristia, celebrada pelo Assistente Regional, o Cónego Manuel Alberto Pereira de Matos, evocando-se São Nuno de Santa Maria como herói e santo.
Ficam na memória de todos as palavras registadas na frontaria da Capela de Santa Eufémia, um alerta muito apropriado para todos nós: «Ser cristão é ser missionário. Como são belos sobre os montes, os pés de mensageiros que anunciam a Boa Nova.»
Em tempo de castanhas não podia faltar o magusto partilhado por todos os fraternos, aproveitando este convívio para, na presença de um sugestivo Bolo do 42.º Aniversário do Núcleo da Covilhã, se cantarem os parabéns em uníssono.
A este propósito, ainda estão no meio de nós dois dos seus fundadores, o escuteiro Jorge Carapito e Manuel Gonçalves.
Presente neste evento escutista, Manuel Gonçalves, com um regozijo visível no seu rosto, afirmou «que durante estas mais de quatro décadas de idade do núcleo covilhanense, são incontáveis os encontros maravilhosos com os fraternos, familiares, ações de voluntariado nas áreas sociais, ambientais, sem esquecer a realização anual da Festa de Nossa Senhora do Bom Pastor, na Serra da Estrela».
Já o sol se escondia a poente da Serra, para as bandas das Penhas Douradas, quando todos unidos e entrelaçados cantaram a Canção do Adeus.
Uma palavra de gratidão para todos os fraternos, que juntaram esforços para que esta tão importante e saudosa jornada tivesse sido um êxito, sem esquecer o apoio da Câmara Municipal de Manteigas, da Junta de Freguesia do Sameiro, do animador turístico, o escuteiro Paulo Manuel dos Santos Costa, e do Eng.º Rafael Neiva.
Rotas e caminhadas aconselhadas o todos os amantes da natureza.
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«Aldeia de Joanes», crónica de António Alves Fernandes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Março de 2012)
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