«Almanaque» é uma palavra de origem árabe, que há séculos deu origem a diversas publicações anuais. É uma peça de comunicação muito específica. Se o seu design gráfico pode ser muito variado, o editorial tem algumas características obrigatórias, datas, calendários, informações e efemérides regulares.
Na casa rural dos meus saudosos Pais, na minha aldeia raiana, Bismula, concelho do Sabugal, já por lá andava, em cima de uma mesa velha de madeira, o almanaque «Borda d’Água», que embora criança, já me chamava a atenção pelo seu invulgar grafismo. Ainda nos dias de hoje mantém a mesma apresentação desde 1929, ano da sua primeira publicação. Com a existência de noventa e três anos, quase um século de idade, continua com actualidade.
A sua imagem, o seu conteúdo, teve tal impacto em mim, que todos os anos adquiro o verdadeiro almanaque o «Borda d’´Água – reportório útil para toda a gente».
Colocado nas nossas mãos, observamos na capa que «para o ano 2022 (comum), contendo todos os dados astronómicas e religiosos e muitas indicações úteis de interesse geral».
Ao folheá-lo encontramos um manancial de informações, um reportório útil a toda a gente, prognósticos para todo o ano, conselhos práticos baseados na sabedoria popular, na astrologia, previsões meteorológicas, fases da lua, horários do nascer e pôr do sol, indicações para as sementeiras e colheitas do sector agrícola, trabalhos na agricultura e jardinagem e nos animais, a festa litúrica de cada dia, as festas e feiras anuais de todo o território nacional, os oráculos, o signo mensal. Na página de cada mês, também não falta uma nota em letras minúsculas dos dias vencidos e para vencer, isto é, os dias que já ficaram e aqueles que temos ainda que percorrer para chegar ao fim do ano.
Na contracapa, «O Juízo do Ano», vemos que o ano de 2022 será dirigido pelo planeta Mercúrio, o mensageiro dos deuses. No horóscopo, com doze signos, o ano na China será dedicado ao tigre e à água. Cuidado com o perigo amarelo…
Traz-nos uma reflexão sobre as dificuldades do isolamento e do confinamento que a pandemia acarretou a todos nós, com as respectivas consequências.
Com tantas mudanças no mundo, diremos em constante mudança, a maioria dos almanaques ainda mantém a sua matriz de nascença.
Na concorrência, com muitas semelhanças gráficas, há a venda de «O Seringador T», com a idade de cento e cinquenta e sete anos, um «reportório crítico-jocoso e prognóstico». Além de diversa informação, são obrigatórias as suas anedotas, as quadras da capa, do «juízo do ano, morituri te salutant – crescei e multiplicai-vos… palavras do Senhor aos Apóstolos e à multidão, ao texto da última página e contracapa, a tia Brízida e o Seringador».
As palavras de Jesus Cristo, lembra-me o grito frequente da peça de teatro, «A Avenida Liberdade», a decorrer no Casino do Fundão, levada a efeito pela companhia «ESTE», com o grito insistente, «cresçam, multipliquem-se e… democratizem-se».
A maioria dos meus leitores leu, lê, comprou ou compra, por achar piada, graça, interesse na informação diversa, o «Borda d’´Água», o «Seringador» e principalmente, por motivos religiosos, litúrgicos, cultura geral, e outros, os publicados pela Casa de Santa Zita, Missionários do Verbo Divino, do Espírito Santo, da Consolata e tantas outras instituições.
Não se esqueçam, comprem, leiam, consultem, peçam emprestado, os almanaques publicados na Língua de Camões… na certeza de que nos enriquecemos culturalmente, e encontramos sempre motivos de interesse.
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«Aldeia de Joanes», crónica de António Alves Fernandes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Março de 2012)
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