O título desta crónica parece à primeira vista estranho, principalmente para a grande família escutista. Interrogam-se: o que terá a ver o Movimento Mundial do Escutismo, com as «aventuras do Tintim»? É isso que tentarei explicar…
Em 1929 é publicado na Bélgica o suplemento infantil, mundialmente conhecido como «As Aventuras de Tintim». Portugal, em 1936, foi o primeiro país, não francófono, a publicar esta banda desenhada, «O Papagaio com o Tintim», com a particularidade de a publicação já ser a cores, enquanto na Bélgica continuava a preto e branco.
«Tintim», um jovem de quinze anos, de poupa loura, espetada, em cima de uma mota, calças à golfe, órfão, nunca se esquecendo do seu companheiro fiel, o «Milou», um cãozinho fox terrier branco com pelo de arame branco, foi uma criação do belga Georges Remi com o pseudónimo imortal de Hergé. Uma combinação das suas iniciais por ordem inversa, «R» e «G».
«Tintim» era um modelo de virtudes, onde a ingenuidade dava o braço à engenhosidade. Nascera com curiosidade e com coragem, predestinado a desvendar mistérios, neutralizar ameaças e catástrofes, socorrendo sempre os mais fracos, os inocentes, e castigando os maus.
Georges Remi nasceu em Etterberk, a 22 de Maio de 1907, na região de Bruxelas e, em 1921, com catorze anos, aderiu ao Movimento Mundial do Escutismo. E, como aluno da Escola de Santo Bonifácio, chegou a líder da Patrulha Esquilo, com o cognome de Raposa Curiosa. Naquele Movimento encontrou o caminho certo.
Com grande talento para desenhar, com a preocupação de adquirir conhecimentos, a história e a geografia foram os complementos das inúmeras aventuras.
Aos quinze anos, começa a colaborar no jornal dos escuteiros da sua escola, com o título «Jamais Assez» («Nunca é Demais»). Este jornal escolar era o encanto de todos os alunos.
Com a sua dinâmica e empenhamento escutista, foi o autor dos primeiros desenhos, ilustrações e capas, da revista «Le Boy – Scout Belge», uma publicação mensal da Federação dos Escuteiros Católicos.
Salienta-se que Georges Remi encontrou nas fileiras do Escutismo uma excelente e maravilhosa escola de vida. O Movimento Escutista incutiu-lhe «o gosto pela amizade, o amor pela natureza, pelos animais e pela diversidade de jogos». Deve-se afirmar que o «Tintim» tem ali muitas das suas matrizes.
No Escutismo, na sua Lei, há o dever de ajudar o próximo, simbolizando na prática de pelo menos uma boa ação diária, que se regista com o famoso nó na ponta do lenço que todos os escuteiros colocam no pescoço.
Aos dezassete anos tentou frequentar uma Escola Superior de Artes, mas entendeu não ter vocação para a mesma, e que era uma perca de tempo.
É nesse tempo que é convidado pela direção do Escutismo Católico, para ir trabalhar para o jornal «Le Vingtiéme Siécle», em cuja administração se encontrava o dinâmico diretor, o Padre Norbert Wallez, de quem Georges Remi afirmou: «Devo-lhe tudo.»
Aquele sacerdote entusiasmou-o a criar a imagem de um adolescente, que fosse um espelho de virtudes católicas, tendo como companheiro o fiel amigo, um cão.
Talvez muitos escuteiros desconhecessem que o «Tintim» espalhado por todo o mundo nasceu nas mãos de um escuteiro.
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«Aldeia de Joanes», crónica de António Alves Fernandes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Março de 2012)
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