O Prémio Nobel da Paz foi este ano atribuído a dois jornalistas de investigação, a filipina Maria Ressa e o russo Dmitri Muratov. Os jornalistas laureados foram distinguidos «pela sua corajosa luta pela liberdade de expressão nas Filipinas e na Rússia» e enquanto «representantes de todos os jornalistas que defendem este ideal, num mundo em que a democracia e a liberdade de imprensa enfrentam condições cada vez mais adversas», justificou a presidente do Comité Nobel Norueguês, Berit Reiss-Andersen.

«Sem liberdade de expressão e liberdade de imprensa, será difícil promover com êxito a fraternidade entre as nações, o desarmamento e uma ordem mundial melhor, para sermos bem-sucedidos no nosso tempo», sustentou Berit Reiss-Andersen, acrescentando que a atribuição do Prémio Nobel da Paz aos dois jornalistas «está, por isso, firmemente ancorada nas disposições da vontade de Alfred Nobel» expressas no seu testamento.

Maria Ressa, de 58 anos «usou a liberdade de expressão para expor o abuso de poder, o uso da violência e o crescente autoritarismo» nas Filipinas, onde dirige o jornal Rappler (um órgão de comunicação social digital que se dedica ao jornalismo de investigação e que a laureada cofundou em 2012), afirmou ainda a Presidente do Comité Nobel Norueguês destacando, por outro lado, o papel desta jornalista e do jornal Rappler na denúncia da «controversa e assassina campanha antidroga do regime do presidente Rodrigo Duterte» cujo número de vítimas mortais já é tão elevado que «se assemelha a uma guerra travada contra a própria população do país». Berit Reiss-Andersen enalteceu, por outro lado, a forma como Maria Ressa e o seu jornal têm contribuido para «documentar como os meios de comunicação social estão a ser utilizados para espalhar notícias falsas, assediar adversários e manipular o discurso público».

Por sua vez, Dmitry Muratov, de 59 anos, é um dos fundadores do jornal independente Novaya Gazeta, surgido em 1993 e de que é chefe de redação, há 24 anos. Segundo o Comité Nobel, trata-se do «jornal mais independente da Rússia, com uma atitude fundamentalmente crítica em relação ao poder». Neste jornal trabalharam igualmente Anna Politkovskaya, a jornalista de investigação que foi assassinada em 2006, bem como outros cinco jornalistas deste órgão de informação que foram mortos por terem defendido a liberdade de imprensa e a liberdade de expressão.
«O jornalismo livre, independente e baseado em factos serve para proteger contra abusos de poder, mentiras e propaganda de guerra», salientou ainda Berit Reiss-Andersen. «Pelo seu jornalismo baseado em factos e na sua integridade profissional», o Novaya Gazeta é «uma importante fonte de informação sobre aspetos censuráveis da sociedade russa raramente mencionados por outros meios de comunicação social», esclareceu a presidente do Comité Nobel Norueguês, acrescentando, que o Comité Nobel «está convicto de que a liberdade de expressão e a liberdade de informação ajudam a assegurar um público informado e que estas liberdades são pré-requisitos cruciais para a democracia e a proteção contra a guerra e os conflitos».
Após a atribuição do prémio Nobel da Paz a Maria Ressa e Dmitri Muratov, o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, apelou, num comunicado, à defesa da liberdade de imprensa no mundo. «No momento em que felicitamos os laureados, reafirmamos o direito à liberdade da imprensa, reconhecemos o papel fundamental dos jornalistas e encorajamos os esforços a todos os níveis para apoiar órgãos de comunicação social livres, independentes e plurais», afirmando que «nenhuma sociedade pode ser livre e justa sem jornalistas capazes de investigar infrações, de informar os cidadãos e de pedir contas aos dirigentes».
O Secretário-Geral das Nações Unidas declarou-se, por outro lado, preocupado com o crescimento de um «discurso anti-comunicação social», bem como a «atos de violência e de assédio crescentes contra os jornalistas, pessoalmente e na internet».
Esta preocupação não pode deixar de ser partillhada por todos quantos têm bem presente que a liberdade que hoje damos por adquirida – a liberdade de expressão – é um bem sempre ameaçado, quantas vezes das formas mais insidiosas. É uma liberdade frágil que só conseguirá sobreviver enquanto houver jornalistas que não desistem de exercer, com isenção e rigor, o seu papel de jornalistas e enquanto houver órgãos de comunicação social livres e independentes.
Na verdade, e evocando as palavras da presidente do Comité Nobel Norueguês, é preciso ter consciência plena de que a salvaguarda da liberdade de expressão é uma condição imprescindível para a democracia e para a paz duradoura, tanto em Portugal, como nos restantes países do mundo.
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«Portugal e o Futuro», opinião de Aurélio Crespo
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Julho de 2020.)
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