A tentativa de contagem da população portuguesa começou com D. Afonso III em 1260/1279, a que davam o nome de Rol de Besteiros, isto é, apuramento dos homens válidos para a guerra. No tempo de D. João I, entre 1421 e 1422, fez-se novo Rol de Besteiros. O primeiro numeramento em Portugal, já sem fins militares, fez-se no reinado de D. João III entre os anos de 1527 e 1532, com base no número de fogos. Apurou-se que Portugal teria então 1.262.376 habitantes. Já apresentei o texto deste numeramento, de que possuo cópia, no 3.º volume da minha obra «Para que não se Perca a Memória de 400 Anos de Vida em Quadrazais». (Parte 2 de 2.)
(Continuação.)
Vários foram os recenseamentos ou numeramentos feitos posteriormente a 1527/32.
Em 1636/39 Filipe III mandou fazer uma Contagem de Homens Válidos ou Resenha de Gente de Guerra, novamente para fins militares, em que só contavam os homens válidos. A intenção era saber quantos homens válidos poderia levar para a Guerra de Castela contra a Catalunha.
Apurei que no século XVII a Quinta das Águas do Bacelo já era anexa de Quadrazais.
Em 1706/08 Quadrazais tinha 220 vizinhos (fogos), segundo a Corografia Portuguesa do Padre Carvalho da Costa. O Sabugal tinha 350, a Nave tinha 170, Rendo 110, Casas do Ouzendo 30, Souto 36. Os vizinhos do Souto devem estar mal contados, tendo em conta que em 1527/32 tinha 160 moradores (fogos). Novamente sobressai Quadrazais sobre as outras freguesias do concelho do Sabugal, à excepção do próprio Sabugal.
No tempo de D. João V, entre 1732 e 1736, fez-se novo censo da população, conhecido por Censo do Marquês de Abrantes. Não possuo dados desse censo, se é que chegou a ser concluído.
Em 1758 o Abade Paulo Correia da Costa, em resposta ao Inquérito Paroquial, descreve Quadrazais como pertencente à Província da Beira, Bispado de Lamego, comarca de Castelo Branco e termo da vila do Sabugal. Nessa altura tinha 190 vizinhos (fogos), com 408 pessoas maiores e 121 pessoas menores, todas fazendo o número de 529. Não sei se nas pessoas menores já estão incluídas as crianças, que poderiam ser umas 100.
Note-se que de 1706/08 para 1758 os vizinhos (fogos) passaram de 220 para 190. Não inclui as Casas do Ouzendo, que são descritas à parte como tendo 66 fogos e 194 habitantes, dos quais 162 maiores e 32 menores. Também não inclui a Quinta das Águas do Bacelo que tinha 2 fogos e 4 pessoas.
Dona Maria I, entre 1776 e 1798, mandou fazer novo censo, que ficou conhecido por Censo de Pina Manique. Neste censo Quadrazais, ainda incluído na comarca de Castelo Branco, surge com 292 fogos, o Sabugal com 262, o Souto com 213, Vale de Espinho 119, Fóios 20, Rendo 200 e Nave 157. Vila do Touro tinha 264; do concelho de Sortelha temos a vila de Sortelha com 124, Casteleiro com 132, Santo Estêvão 100 e Malcata 82. Não se fala do Ouzendo, pelo que é presumível que esteja englobado em Quadrazais. Se retirarmos a Quadrazais cerca de 70 fogos do Ozendo, ainda fica com 222 fogos, acima do resto das freguesias, à excepção do Sabugal. Em cerca de 40 anos Quadrazais aumentou em 32 fogos, valor muito baixo, com uma média anual inferior a 1.
Em 1801 fez-se o primeiro censo digno deste nome, com base nos números fornecidos pelos párocos, mais fiáveis, feito por províncias, comarcas e concelhos.
Quadrazais tinha 313 fogos e 1.030 habitantes, sendo 528 homens e 502 mulheres. Em cerca de 5 anos Quadrazais, incluindo o Ozendo, aumentou 21 fogos, valor normal.
Foram os governos dos Liberais, pós 1822, que dividiram o país em províncias, distritos, concelhos e freguesias.
Não ponho a hipótese destes números estarem errados pelo facto de só ser considerado vizinho (desde 1561 a 1830) quem estivesse inscrito nas «Cartas de Padrão» municipais. Estas excluíam os dependentes (trabalhadores) que estavam isentos de tributos e de prestação militar, uma vez que não dispunham de rendimentos e de património suficientes para nelas poderem estar inscritos.
Em 1849 ainda recorreram aos párocos no novo censo. O Sabugal tinha duas anexas: Torre e Colónia Agrícola (Peladas).
De 1800 a 1855 nasceram 1.968 crianças em Quadrazais, 6 das quais de pai incógnito. Daquelas eram rapazes 978 e 990 eram raparigas. As mortes também devem ter sido muitas.
Em 1862 Quadrazais tinha 400 fogos, mais 108 que em 1798, pouco em 64 anos, com um crescimento anual inferior a 2 fogos, e 1.600 habitantes.
Só em 1864, no reinado de D. Luís, é que o Recenseamento Geral da População seguiu as orientações internacionais. Em 1864 Quadrazais tinha 1.664 habitantes. O Soito tinha 1.426, o Casteleiro 846, Aldeia da Ponte 1.012.
Em 1868, conforme 2.ª edição da obra do Padre Carvalho da Costa, Quadrazais tinha 403 fogos, um aumento de três fogos em seis anos. Não parece razoável mas pode ter havido razões para isso, como as doenças.
Em 1877, Joaquim de Azevedo, na «História Eclesiástica da Cidade e Bispado de Lamego», situa Aldeia da Ponte no distrito (militar) de Riba Côa e na comarca de Trancoso, com 167 fogos e 340 almas, Alfaiates com 150 fogos e 430 almas, Fóios com 8 fogos e 29 almas, Forcalhos, pertencente à comarca de Trancoso, com 36 fogos e 104 almas, Nave com 158 fogos e 360 almas, Quadrazais, abadia da mitra e Papa, com 220 fogos e 600 almas, Rendo com 110 fogos e 320 almas, Sabugal com 270 fogos e 390 almas, Souto com 202 fogos e 683 almas, Vale de Espinho com 47 fogos e 139 almas.
Em 1878 Quadrazais tinha 1.824 habitantes, o Soito 1.282, o Casteleiro 890, Aldeia da Ponte 1.067.
Quadrazais teria descido de 292 fogos em 1798 para 220 em 1877, uma descida de 72 fogos, e teria descido de 403 fogos de 1868 para 220 fogos em 1877. Algo não bate certo em Joaquim de Azevedo, já que em 1890 tinha 459 fogos. Parecem-me mais dignos de crédito os números da 2.ª edição da obra do Padre Carvalho da Costa, que apresenta Quadrazais com 403 fogos, tendo subido para 459 em 22 anos.
Seguiu-se o censo de 1890 e, a partir deste ano, os censos passaram a fazer-se de 10 em 10 anos.
De 1855 a 1899 nasceram em Quadrazais 2.658 crianças (4 delas de pai incógnito), sendo 1.328 do sexo masculino e 1.330 do feminino.
É em 1950 que Quadrazais atinge o valor mais alto em população (2.720, incluindo o Ozendo). Isto apesar de, entre 1940 e 1945 terem morrido 100 crianças, o equivalente a 23,3% dos nascimentos desse período. O tifo foi a causa dessa mortandade que levou a minha irmã mais velha com a idade de 5 anos.
De 1864 em diante a população do Sabugal inclui a das anexas Torre e Colónia Agrícola (Peladas). Desde a reorganização de freguesias em 2012/2013, o Sabugal e Aldeia de Santo António juntaram-se numa união de freguesias.
De 1890 a 1950 Quadrazais ocupa o primeiro lugar no número de habitantes, embora incluíndo a população do Ozendo.
A partir de 1960 até 1970 o Soito toma o primeiro lugar. E de 1981 até 2001 a diferença para o Soito torna-se cada vez maior, tendo sido mais do dobro a partir de 1991.
O Censo de 2021 revela que Quadrazais, (380h.), incluindo o Ozendo, perdeu 77 habitantes em 10 anos e tem agora um terço da população do Soito (1.143h.). Mas, mesmo assim, continua a ser a 3.ª freguesia do concelho de Sabugal em número de habitantes, crendo que só o Sabugal, sem a Aldeia de Santo António teria mais. Só conheço o número de habitantes do Sabugal integrado na união com a freguesia de Aldeia de Santo António( 2.608).
Para onde caminhas, Quadrazais? Para as Quintas de Quadrazais?
Atenção: Estes números podem não ser absolutamente correctos, pelo menos até 1830, altura em que acabou a inscrição nas Cartas de Padrão, que excluíam muitos não inscritos.
Quem fazia os censos? Ia às aldeias e quintas, onde só havia acesso a pé ou de cavalo? Sabia ler e escrever para assentar os dados recolhidos?
Comunicava com todas as pessoas ou só tinham em conta os registados? Ou o recenseamento era feito nas Câmaras que recebiam os dados de padres, de ordenanças ou outras pessoas?
Os padres eram mais fiáveis porque conheciam bem as pessoas com quem conviviam e cujo registo de baptismo ou casamento faziam. Só eles ou poucos mais sabiam ler e escrever. Por isso, é de desconfiar de censos feitos em gabinetes sem ir às aldeias. Não havia papel e canetas em abundância. O Padre Carvalho terá escrito aos párocos? O serviço de correio público começou em 6 de Novembro de 1520, no reinado de D. Manuel. O seu transporte era feito nas diligências, puxadas por cavalos. Quantos dias seriam precisos para que uma carta enviada de Lisboa chegasse ao Sabugal e depois do Sabugal a Lisboa?
Nota: Hermínio Fernandes afirma que o primeiro numeramento não foi o de D. João I em 1527/32 mas sim um de D. Manuel I, que mandou fazer em 1496/97 o numeramento dos moradores da Beira.
Apenas um lapso do nosso Amigo FCB. No Casteleiro, ao que investiguei oportunamente, em 1991, havia 563 moradores.
podem ler isso aqui:
https://capeiaarraiana.pt/2013/08/05/casteleiro-a-maior-freguesia-do-concelho/
É uma crónica de 2013.
Abraço a todos e obrigado pela atenção.
JCM
Por favor confira se os censos 1991 para a Freguesia do Casteleiro tem o mesmo numero de habitantes que a Freguesia do Sabugal? Penso que houve um lapso ao inserir os números. Obrigada
Viva Alcina
Sim. Há, de facto, uma incorrecção nos dados do Casteleiro. Estou à espera da correcção pelo autor (Franklim Costa Braga) e depois faço uma actualização.
Os meus agradecimentos a todos (e em especial à Alcina) que nos ajudam a deixar testemunhos e documentos históricos correctos. A divulgação e partilha destas crónicas são uma grande ajuda para construir um arquivo eterno das nossas origens e das nossas gentes sabugalenses.
Por outro lado o meu grande agradecimento ao autor, Franklim Costa Braga, pelo enormíssimo trabalho de pesquisa e investigação histórica de dados que começam nos longíquos anos de 1500 do século XVI.
Cumprimentos raianos
Viva Alcina
Corrigido.
Obrigado pela observação