A Mimosa estava na altura de ter a sua primeira cria. Meus tios andavam preocupados e, embora o tempo estivesse maravilhoso, acharam melhor não a levar ao lameiro nesse dia.

Meu tio levantara-se bem cedinho e descera logo à loja a espreitar a nossa Mimosa. Mimou-a com umas palmadinhas e pôs um pouco de feno na mangedoura.
– Ela nem se levantou e parecia gemer.
(disse-nos ele quando chegou lá acima).
A minha tia, que já varrera a lareira e acendera o lume, desembaraçou-se a encostar-lhe a panela de ferro cheia de água e a cafeteira de esmalte azul onde iria fazer o café e desceu, também ela, a ver a sua «mulherzinha».
Achou que ela ainda iria demorar umas horas a parir.
Então, foi ao curral e abriu a capoeira às galinhas, deitou-lhes milho e encheu-lhes de água a pia de pedra. Já o marrano grunhia a bom grunhir à espera da vianda que a tia começara a esmagar na pia grande, antes de lhe abrir o «pintcho» da cortelha.
Depois espreitou os ninhos da capoeira e retirou dois ou três ovos que albergou na aba do avental, abraçou mais umas cepas para o lume, apanhou o caldeiro da vianda vazio e acarretou tudo lá para riba.
Fez o café e enquanto este assentou com uma brasa lá dentro. pôs a mesa para o pequeno almoço. Dependurou o caldeiro das «cadeias» com umas poqueninas de batatas miúdas, beterrabas, nabos e restos de verdura que tinha à mão. Comemos «num aviar»! De seguida, o tio foi trabalhar para a quinta da D. Laurinda e a tia pediu-me para tirar a mesinha e ficar à escuta da Mimosa. Ela ia num instantinho à Alagoinha, para apanhar um braçado de couves e lavar uma bacia de roupa. Eu tinha de ir numa corrida bradar por ela se a vaquinha berrasse.
Não tardou muito quando a ouvi soltar dois berros de dor. Desci as escaleiras num repente e fui espreitar à loja antes de desatar a correr caminho afora.
– Ai mãe! Ai Jesus! Então a vitelinha já vai entrar outra vez para dentro da vaquinha!…
Ó pernas para que vos quero, lá vou eu a gritar a bom gritar ao encontro da tia que largou tudo mal ouviu os meus gritos e desatou a correr também para casa.
Quando voltámos já a vitelinha tentava manter-se de pé ao lado da sua mãe. E a tia explicou-me que as vitelinhas nascem de recuas.
:: ::
«Gentes e lugares do meu antanho», crónica de Georgina Ferro
(Cronista no Capeia Arraiana desde Novembro de 2020.)
:: ::
Leave a Reply