Custa-me falar dos que mais gosto, sobretudo daqueles que já não estão. E, quando falo, custa-me começar. Porém, esta vacuidade, não constitui nenhum esquecimento. Bem pelo contrário.
Existem, sim, tempos de silêncio que nos separam de quem já pereceu sem que essa espécie de mudez fragilize recordações. Lá bem no fundo de um tempo comum, partilhámos o que se tornou impossível desmemoriar.
Não se trata, portanto, de nenhum lapso de memória que transcorra qualquer vigência. Trata-se, antes, de um apego, quiçá pouco notado, a vários passados, todos eles marcantes e íntegros. Ainda que pouco minuciados, eles integram, de forma relevante, a continuidade do nosso presente.
Reporto, pois, tempos introversos embora vivos e inapagáveis que se revelam mais doridos quando transportados em palavras.
Ainda assim, não será apenas pela palavra magoada que não são proseados com reiteração. Haverá, certamente, outra qualquer razão, tão enigmática que, sabendo-se embora que existe, não se sabe desvendar.
Todavia, a persuasão é de que se não ausentaram esses seres pouco trazidos à palavra. Eles instalaram-se no nosso espírito e andam por aí, nos lugares que nos são comuns, impondo-nos memórias, reensinando-nos cada um dos nossos presentes e esboçando-nos, indubitavelmente, o nosso futuro.
Afinal, são seres que nos habitam e eu juraria que ainda não partiram.
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«Terras do Jarmelo», crónica de Fernando Capelo
(Cronista no Capeia Arraiana desde Maio de 2011)
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Muito bonito. Partilho esse sentir.