Distribuição geográfica das Amas da Roda dos Expostos de Sortelha. Para este estudo foram selecionados os espaços temporais em que os registos revelam maior coerência. Para muitas famílias, particularmente em Sortelha, esta atividade tornou-se um modo de sobrevivência.

Para este estudo sobre a distribuição geográfica das amas da Roda dos Expostos de Sortelha foram selecionados os espaços temporais em que os registos revelam maior coerência.
1 – Entre 1828 e 1839

2 – Entre 1847 e 1855

Entre 1828-1829, a freguesia de Sortelha apresenta 55% das amas de todo o concelho, poderá isto significar que algumas são internas, apesar de os documentos não o referirem. A existência dos serviços administrativos, incluindo a Roda, foi certamente determinante. A explicação da proximidade a Sortelha para explicar o segundo lugar par Águas Belas e Casteleiro, com 11,66%, parece insuficiente, pois Moita também se situa perto a apresenta 0%. Assim, tal resultará de um maior número de exposições ocorridas nessas freguesias.
Nos anos de 1847 a 1855, Sortelha foi claramente ultrapassada por Águas Belas com 28,73%, mas esta tem muito menos população, enquanto a freguesia de Sortelha tem agora 26,43%. A este aumento correspondeu o crescimento de exposições nesta freguesia, situação difícil de explicar mas que deve merecer especial atenção.
Destaque para a ama Maria Gonçalves, em Sortelha, que recebeu vinte e sete crianças. Destas vinte e cinco faleceram antes de completarem um ano de vida e apenas um findou o tempo da criação, mas no segundo mês mudou de ama. Não é possível deduzir a existência de maus tratos ou negligência, pois viria a ser nomeada Rodeira pela Câmara Municipal, o que requeria ser exemplo de conduta.
Quando as crianças eram apresentadas na Roda, muitas vezes, voltavam pelo mesmo caminho tendo agora como ama a mulher que a apresentou.
Trata-se de um forte indicador da existência de cumplicidades entre todos os participantes/atores. O Regedor, que era responsável por acautelar o bem-estar dos expostos e assegurar o encaminhamento para a Roda, é simplesmente omitido nos Assentos de Matrícula. A critica camiliana parece fazer todo o sentido nesta região:
«As amas desciam das terras de Barroso, vermelhaças, grossas, de grandes peitos e quadris. O velho Bragadas dizia que a patifaria era tal que as amas eram as próprias mães dos enjeitados que regateavam o ordenado da criação, antes de darem os peitos exuberantes aos filhos.» (1)
No século XIX não existiam atividades profissionais para as mulheres. Os cuidados com os Expostos apresentavam-se como uma forma de valorização e afirmação perante a dependência para com os homens. Para muitas famílias, particularmente em Sortelha, esta atividade, tornou-se um modo de sobrevivência. Neste contexto, é natural que as mulheres mais valorizadas fossem as que apresentavam boas aptidões físicas para gerar e amamentar os seus filhos e outros que necessitassem!
O conceito de mulher bela era seguramente diferente do atual!
Nota
(1) Castelo Branco, Camilo, Maria Moisés, Alfragide, Leya, 2013, p. 82.
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«Memórias de Sortelha», opinião de António Gonçalves
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Janeiro de 2019)
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