Chegaram ao fim as duas semanas de todas as promessas locais. No concelho do Sabugal no boletim eleitoral para a Câmara Municipal do Sabugal venceu o PSD! Venceu Vítor Proença! Para a Assembleia Municipal venceu o PSD! Venceu Manuel Meirinho! Para as Juntas de Freguesia houve de tudo com destaque para a vitória do PS na Junta da União de Freguesias do Sabugal e Aldeia de Santo António. Por um voto se ganha, por um voto se perde! Depois dos factos vamos aos argumentos…

Ao longo deste artigo de opinião vou fazer algumas declarações de interesse. Não porque seja obrigado mas porque me sinto eticamente vinculado por um código deontológico que subscrevi já lá vão muitos anos.

Depois do calor próprio e necessário da «pré» e da «campanha eleitoral» em que se deve dar espaço aos protagonistas que se assumem políticos e que aparecem, uns mais que outros, de quatro em quatro anos ou mesmo apenas uma vez na vida durante dois ou três meses antes das eleições é agora tempo de fazer o rescaldo e a análise dos resultados à vontade dos eleitores que se dignaram deslocar às mesas de voto.

A abstenção

Fui presidente de mesa eleitoral onde resido na freguesia da Póvoa de Santo Adrião no concelho de Odivelas. A convocatória indicava as 06:30 horas da manhã para marcar presença. Terminei, após a contagem dos votos e a entrega dos boletins e documentos cerca das 23:00 horas.

A minha mesa, constituída por cinco elementos, registou mais de 55% de abstenção. Ficámos (temos de ficar) desconfortáveis, desiludidos com estes resultados. Por aqui não há a desculpa da emigração, dos idosos e outras que dão jeito. Apenas o desinteresse pela responsabilização dos políticos que vão assumir as decisões nos próximos quatro anos. Sinto que é uma dedicação em vão.

No concelho do Sabugal registou-se uma abstenção de 42,52% um pouco abaixo dos 46,35% nacionais. Não votar é uma liberdade a que todos têm direito mas que considero reles e desrespeitosa por todos aqueles que se levantam na madrugada de um domingo para garantir que as secções de voto estejam abertas. Zero respeito para os abstencionistas. Todo o louvor para os que vão votar e mesmo para os que votam em branco. Sou da opinião que os eleitores que votam em branco deviam ter direito a representação nas assembleias com cadeiras vazias.

Aproveito para deixar a minha opinião sobre os deputados que se abstêm. Considero que uma das negações da democracia é ter deputados (eleitos para representar quem acreditou neles) que em votações na Assembleia da República se abstêm. Então o que estão lá a fazer se não têm opinião? Supostamente são os mais «iluminados» para decidir pelos que representam. Deviam saber dizer «Não» ou «Sim». Ou não será bem assim?

Eleição para a Câmara Municipal do Sabugal

Se é verdade que se costuma dizer que não é a oposição que ganha mas sim o poder que perde nas eleições autárquicas por um voto se ganha, por um voto se perde. Não há vitórias morais como, por exemplo, no futebol.

Assim na eleição para a Câmara Municipal do Sabugal ganhou o PSD com a lista liderada pelo candidato Vítor (sem «c») Proença com 3403 votos (47,09%) e quatro mandatos. Perdeu a lista socialista que tinha como cabeça-de-lista Victor (com «c») Cavaleiro que contabilizou 2907 votos (40,22%) e três mandatos. Assim num total de sete mandatos o PSD tem a maioria com quatro.

Em terceiro lugar ficou o candidato do CDS-PP (Romeu Bispo) com 299 votos (4,14%). Esta lista surgiu contra-natura em relação ao panorama nacional em que os centristas aparecem na grande maioria das autarquias coligados ou aliados ao PSD. Considero que este projecto serviu apenas e exclusivamente os interesses do candidato à Assembleia Municipal (José Escada) e a possibilidade que se concretizou da sua eleição.

Existe uma clara e evidente desavença local entre o responsável centrista e a estrutura social-democrata numa luta diria quase fratícida e que se resume a questiúnculas pessoais ignorando os superiores interesses políticos dos dois partidos a nível concelhio, distrital e nacional.

Quando surgiu a candidatura do CDS-PP perguntei a algumas pessoas bem informadas do concelho do Sabugal se Romeu Bispo e José Escada eram militantes ou próximos dos centristas. Ficou claro para mim que o partido serviu apenas como barriga de aluguer para motivações pessoais. A responsabilidade da decisão será (é) por inteiro do presidente da concelhia centrista. Infelizmente a comunicação durante a campanha foi pautada por alguma arrogância de quem tudo sabe e os outros estão todos errados. Quase me apetecia contar a anedota daquele idoso que ia a conduzir em contra-mão e ligou à mulher…

O Chega personificado por um ilustre desconhecido alcançou 206 votos  (2,85%) e começa a ser uma força pol´ítica a ter em conta no futuro.

A CDU, coligação do PCP com Os Verdes, é um fenómeno local que é personificado pelo seu militante João Manata. Depois do tremendo erro de casting na escolha do candidato à Câmara Municipal do Sabugal que não se mostrou à altura da responsabilidade nem antes nem depois a CDU mantém os dois lugares (João Manata e João Duarte) na Assembleia Municipal. Voltou a funcionar o carisma daquele que costumo dizer ser o comunista que conheço com mais amigos padres mais não seja porque lhes trata do relógio da torre da igreja. Não é por acaso que no distrito da Guarda apenas foram eleitos três candidatos da CDU para as Assembleias Municipais e dois foram no… Sabugal.

Os brancos no concelho do Sabugal contabilizaram 182 votos e reafirmo que me merecem todo o respeito em oposição aos abstencionistas que parecem rimar com negacionistas.

Destaques positivos e negativos

Positivo – Vídeo de apresentação da candidatura de Vítor Proença (PSD) com muitos pormenores da vida do candidato e, em especial, o destaque que deu à «sua» estrada em direcção a Vale das Éguas. Campanha limpa sem romper com o passado mas afirmando ter ideias e vida própria para o futuro.

Positivo – Capacidade da candidatura de Victor Cavaleiro (PS) de chamar ao Sabugal ministros (Ana Mendes Godinho, Ana Abrunhosa, José Luís Carneiro) e altos representantes socialistas com propostas e promessas para o concelho do Sabugal. Os sabugalenses agradecem e ficam a aguardar a concretização das mesmas. A vida académica personalizada no percurso do candidato Victor Cavaleiro foi o cartão de visita para se apresentar e disponibilizar as suas valências ao serviço dos sabugalenses. São valores a «aproveitar» durante os próximos quatro anos.

Negativo – Campanha com linguagem imprópria e desnecessária de José Escada, candidato à Assembleia Municipal do CDS-PP. E já agora… a palavra «pasquim» costuma deixar um sabor a trampa na boca de quem a profere! (Declaração de interesse.) 

Negativo – Divulgação da campanha eleitoral do Partido Socialista exclusivamente (ou quase) nas redes sociais locais da candidatura. No Capeia Arraiana o espaço foi disponibilizado pessoalmente ao candidato mas não foi aproveitado. Nós por cá estamos de consciência tranquila. (Declaração de interesse.)

A finalizar e em defesa da honra (declaração de interesse) – Aprendi na minha vida académica e mais tarde durante mais de 30 anos como profissional de comunicação social que a palavra «entrevista» quer dizer «olhos nos olhos». Não me foi possível estar o tempo suficiente no Sabugal para fazer entrevistas pessoais aos cinco candidatos e, por isso, impossibilitado de fazer um trabalho rigoroso. Podia ter enviado perguntas por email mas, como aprendi nos bancos da universidade e das redacções, em mais de 90% dos casos essas perguntas não são respondidas exclusivamente pelos destinatários. Sei que é muito fácil fazer «copy+paste» para ter respostas fofinhas e politicamente correctas, mas…

Al´ém disso teria de terminar as minhas entrevistas aos candidatos com uma pergunta: «Sabe onde fica o Faleiro?» e tenho a certeza que dos cinco apenas um candidato me saberia responder «sem ajudas».

Aqui fica a clarificação da «outra verdade» até porque quem não se sente não é filho de boa gente e eu sou filho de raianos!

Eleição para a Assembleia Municipal

Não há muito a acrescentar. Ganhou Manuel Meirinho, re-candidato do PSD. Embora alguém me tenha dito que não é do seu interesse a divulgação em directo das assembleias municipais para evitar que possa haver o aproveitamento de, por exemplo, Ricardo Araújo Pereira, de algumas cenas politicamente incorrectas durante as mesmas aqui fica o meu pedido público: «Transmitam em directo e online com acesso a todos as assembleias municipais.»

Também aqui o PSD venceu com 3245 votos (44,90%) e o PS ficou em segundo com 2771 (38,34%). Os factos dos números indicam 15 membros para o PSD, 13 para o PS, dois para a CDU e um para o CDS-PP.

Eleição para as Assembleias de Freguesia

Nas eleições para as Assembleia de Freguesia o destaque vai, naturalmente e com estrondo, para a vitória da lista do PS encabeçada por Nelson Aguiar (com Celino Augusto e Sandrine Vinhas) na União de Freguesias do Sabugal e Aldeia de Santo António destronando Francisco Baltazar por 770-766. Também aqui, por um voto se ganha, por um voto se perde! Os socialistas voltaram a uma junta que lhes pertencia desde o 25 de Abril. Os vencidos devem, agora, reflectir sobre o que correu mal e o que ficou por fazer…

Na freguesia dos Fóios concorreram três listas. Duas independentes (Jacques Henriques e Antoine Tavares) e uma liderada por Pedro Henriques do Partido Socialista. Venceu a FI (Fóios Independente) de Jacques Henriques com 101 votos. Antoine Tavares e José Manuel Campos foram os grandes derrotados da noite com 59 votos. A lista do PS contabilizou 43 apoiantes. Umas eleições renhidas como há muito não se via.

Em Pousafoles do Bispo, Penalobo e Lomba houve um empate (133 votos) entre a lista do PSD e a independente PPL. As eleições serão repetidas no próximo domingo, dia 3 de Outubro. Também aqui alguém vai ter que ganhar.

Na União das Juntas de freguesia de Ruvina, Ruivós e Vale das Éguas a que pertencem o anterior e o novo presidente da Câmara (também aqui deixo uma declaração de interesse) apenas se apresentou uma lista. Os resultados finais foram: PPD/PSD: 101 votos e… «Em Branco», 28 votos e «Nulos», 11.

Estes 28 votos em branco podem querer significar que pode ser feito muito mais pelas três freguesias do que até aqui. Protagonismo, proactividade, defesa dos interesses por igual e saber ouvir os fregueses das três aldeias agindo na resolução dos problemas, pede-se e precisa-se!

Notas finais

O presidente da concelhia do PS do Sabugal, Lu´ís Gonçalves, na página no facebook do «PS Sabugal – Juntos por um Sabugal Melhor» assumiu a total responsabilidade da derrota e a finalizar deixou uma mensagem enigmática: «Uma análise profunda e sóbria terei que fazer quanto ao futuro, não querendo precipitar-me, mas referindo e sublinhando a vermelho que não estou agarrado a nada! Nos próximos dias darei a conhecer ao Sabugal a minha decisão!»

A concelhia do Partido Socialista do Sabugal onde os seus militantes decidem a estratégia partidária parece dar a ideia para quem «espreita de fora» que vive de ciclos cada quatro anos. Como se houvesse duas equipas e como quem diz «desta vez somos nós». Mas não deixa de ser surpreendente que tenham deixado o seu melhor activo militante e quem melhor conhece os dossiês camarários no banco de suplentes… a casteleirense Sandra Fortuna.

E se dúvidas houvesse Alexandre Lote, presidente da Federação do PS da Guarda reconhece que o Partido Socialista teve uma derrota no distrito: «O resultado global no distrito da Guarda não foi um bom resultado para o PS e ficou claramente aquém das expectativas, por ter perdido a liderança de três autarquias e obtido um mau resultado na candidatura à Câmara da Guarda.»

Nota de rodapé

Os americanos têm dificuldade em entender o desporto europeu. Primeiro porque para eles os desportos principais são jogados com as mãos. Na Europa o destaque vai para o pontapé na chincha, vulgo futebol. E por outro lado porque não concebem que os jogos terminem empatados. E isso pode explicar a dificuldade na afirmação do «soccer» europeu no continente norte-americano. Ou seja, no desporto e não só, ou se ganha ou se perde! Tudo o resto é como recorda o presidente da Correia do Norte: «Já o meu avô dizia que eleições com mais de um candidato só dão problemas!»

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«A Cidade e as Terras», opinião de José Carlos Lages
(Fundador e Director do Capeia Arraiana desde 6 de Dezembro de 2006)
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