Para início de conversa, obrigo-me a alertar o estimado leitor que não vou revelar nada que, comumente, se não saiba e sabe-se que há gente arrogante e incomodativa que passa a vida a consumir os outros. Sabe-se ainda que quem enferme de sobrancerias gosta de se fazer notar e adora passar por quem não é.
Nesse exercício impostor, o presunçoso vai confundindo o real com o que pretende representar e acredita ser merecedor de admiração por competências que não possui. Não deixa, no entanto, de ser frágil e inseguro e as atitudes que assume são pouco mais que uma débil defesa que deixa a nu muita vulnerabilidade.
Assim, antes de relatar um episódio a que recentemente assisti, queria enquadrar, no que acabo de expor, o herói da minha estória.
Com efeito, a criatura a que aludo é pessoa altiva de meter dó e tem o hábito de estacionar um vistoso espadalhão, já do século passado, em frente a uma loja de produtos agrícolas onde, de quando em vez, ocorrem descargas.
Sucedeu, há dias, que o estafermo numa demonstração ultra-arrogante e alegando uma pressa desmedida que não conseguiu provar, surgiu a exigir a imediata retirada da furgoneta que descarregava visto que ela obstruía a saída do seu automóvel.
Entrado, pois, em acesa discussão com um dos funcionários da loja, quase chegando a «vias de facto», ripou do telefone e, num pronto , fez com que surgissem primeiro a policia e, pouco depois, o reboque.
Vinda a autoridade, o agente inteirou-se do problema e achou por bem fomentar uma resolução sem demoras solicitando ao condutor da carrinha que a desviasse uns metros para que a arrogante personagem pudesse seguir viagem. Dirigindo-se, então, ao funcionário envolvido na contenda, questionou:
– Mas porque é que o senhor não desvia a carrinha?
– Ó Senhor policia, a carrinha não é minha nem sou eu o condutor.
– Não é o condutor? Então quem é?
– É o senhor Manel que está lá dentro a arrumar as caixas.
Vaticinando a solicitação do polícia o senhor Manuel que, imperturbável, havia assistido ao grosso da discussão, foi-se aproximando deixando ler no seu olhar calmo a sabedoria de uma longa vida.
Logo o polícia o interpelou:
– Olhe lá, então o senhor não retira o veículo porquê?
– Ora essa senhor guarda! Eu só não retirei ainda porque ninguém me pediu para o fazer e enquanto esse amarrafado enrouquece a insultar o meu empregado eu vou descarregando o material que é serviço que ninguém fará por mim. Mas, sim, se é para tirar a carrinha, eu tiro já.
Foi-se pondo ao volante e lançou ao reivindicador:
– Oiça lá. O senhor já falou comigo? Já me pediu alguma coisa?
– Eu não! – respondeu o outro mal refeito da surpresa da pergunta.
– Então, se não, de que é que o senhor se queixa? Sabe o que lhe digo? Prepare-se para pagar o reboque que não fui eu que o chamei.
O polícia não disfarçou um breve sorriso e eu percebi que a arrogância estúpida se trata com serenidade e inteligência.
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«Terras do Jarmelo», crónica de Fernando Capelo
(Cronista no Capeia Arraiana desde Maio de 2011)
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Boa noite meu amigo
Pois esse emigrante não foi muito sereno!
Mas, lá está, quando a arrogância estupida ultrapassa limites as coisas podem complicar-se.
Aquele abraço.
Amigo Capelo:
Há muito disso, aqui no Sabugal, havia, digo havia porque já não pertence ao mundo dos vivos, durante o tempo do Estado Novo um tipo com uma posição social elevadíssima que um dia um pobre lavrador chegou junto dele, mas como não tirou o chapéu, tirou-lho ele, deitou-o ao chão e pisou-o, dizendo ao lavrador: «Quando se chega ao pé de mim tira-se o chapéu».
Isto durante o tempo do Estado Novo, em Democracia teve comportamentos incríveis, entre eles agredir agentes da autoridade!!! A única vez que o vi enrascado foi aqui no Sabugal quando queria que um emigrante tirasse o carro do sítio onde o tinha estacionado para ele poder estacionar o dele!!!!! Se não fugisse o emigrante matava-o. Agora está a notar-se muito disto nos novos ricos.
António Emídio
Comummente