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Página Principal  /  01 - Ficção • Casteleiro • Concelho do Sabugal • Distrito da Guarda • Guarda • Histórias da Memória Raiana • Outeiro São Miguel • Região Raiana  /  Histórias da memória raiana (3.3)
11 Julho 2021

Histórias da memória raiana (3.3)

Por Capeia Arraiana
01 - Ficção, Casteleiro, Concelho do Sabugal, Distrito da Guarda, Guarda, Histórias da Memória Raiana, Outeiro São Miguel, Região Raiana antónio alves fernandes, antónio emídio, antónio josé alçada, antónio martins, fernando capelo, franklim costa braga, georgina ferro, josé carlos lages, josé carlos mendes Deixar Comentário

:: :: JOSÉ CARLOS MENDES :: :: No primeiro episódio o António Emídio «apresentou-nos» a família do Luís do Sabugal quando este se preparava para ingressar no Outeiro de São Miguel. Na «terceira temporada» o José Carlos Mendes fala-nos da emigração para França… (Capítulo 3, Episódio 3.)

Histórias da Memória Raiana - Capítulo 3 - Episódio 3 - José Carlos Mendes - capeiaarraiana.pt
Histórias da Memória Raiana – Capítulo 3 – Episódio 3 – José Carlos Mendes – capeiaarraiana.pt

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HISTÓRIAS DA MEMÓRIA RAIANA
Capítulo 3 – Episódio 3

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O primeiro trabalho deste seu amigo, o Balé na construção civil em Paris (foto original: Gérald Bloncourt)
O primeiro trabalho deste seu amigo, o Balé na construção civil em Paris (foto original: Gérald Bloncourt)

JOVEM PORTUGUÊS INTEGRA-SE NA SOCIEDADE FRANCESA E ANDA FELIZ

Apesar de já «definitivamente» instalado na sua nova situação de emigrante em Dijon (França) e com trabalho qualificado e bem pago, o Balé Narciso Nobre, do Casteleiro e filho de pai «alfaiatenho», não quis deixar de manter o contacto com o Sr. Luís, até porque o seu pai lho recomendava sempre: «Olha, tu respeita este senhor que sempre gostou de nós lá em Alfaiates, tá bem?»

E o Balé assim faz…

Terra de muitos encantos o Casteleiro! (Foto: Miguel Cameira)
Terra de muitos encantos o Casteleiro! (Foto: Miguel Cameira)

Carta de agradecimento de Balé para o Sr. Luís

Senhor Luís,

Veja como é bonita a minha terra. Esta fotografia do Casteleiro mostra as cores e especialmente o verde da minha aldeia.

Tenho muito orgulho em ter nascido aqui, nesta planície entre montanhas. Sei que as terras da Raia são muito bonitas, mas acho que a minha também não lhes fica atrás. Concorda, Sr. Luís?

Folgo muito em lhe escrever esta carta grande porque a minha vida deu agora mais um pulo forte e estou a ganhar bem melhor do que na última carta que lhe mandei.

Mas antes de mais, permita que recorde as suas palavras, no bonito postal que me mandou no mês passado, e que dizia assim:

«Caro Balé,

Desculpa chamar-te assim, mas já que tu disseste que na tua terra te tratam assim, assim te trato também.

Pois bem, antes de mais, quero dizer-te que me lembro muito bem do teu pai, Narciso, e do teu tio, o acordeonista das nossas aldeias todas.

Depois, digo-te que folgo em saber que estás a resolver bem a tua vida aí na França.

Pelo endereço que me enviaste, em Dijon, estás portanto muito longe de Paris. Mas se trabalhas no que gostas e te pagam bem como dizes, o que importa é isso.

Desejo-te que tudo te continue a correr bem.

Dá os meus cumprimentos ao teu pai e ao teu tio e também para ti, deste que se assina

Luís»

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Senhor Luís,
Gostei muito deste seu postal. É mais uma maneira de me manter ligado às nossas bonitas terras. Hoje queria nesta carta contar-lhe a minha vida agora bem melhor e já organizada aqui por estas terras de França….

Os portugueses construíram muitas linhas da SNCF-Caminhos de Ferro Franceses
Os portugueses construíram muitas linhas da SNCF-Caminhos de Ferro Franceses

…Depois de dois meses a viver num bidonville de Paris, e de uma carrada de desgraças pois não estava habituado a trabalhar na construção civil, fui ajudado por um amigo do meu pai, que veio comigo e muito me ajudou durante a passagem a salto, a atravessar a Espanha toda a pé, depois de me ajudar e ele e outros lá da terra (do Casteleiro, como o Sr. Luís sabe), tive sorte, outro amigo do meu pai que trabalhava na SNCF (Société Nationale des Chemins de Fer de France) – que é a CP cá do sítio. Esse amigo do meu pai arranjou-me lá trabalho. Sempre era melhor do que andar nos andaimes dos prédios em obra. Mas na SNCF não julgue que era fácil: muitas vezes queriam que a gente carregasse com os carris e com aquela espécie de caibros gigantes com que se fazem as linhas para os comboios passarem.

Mas já deu para comprar um carro. É uma catrel da Renault.

Mas sempre lhe digo que na SNCF era demais.

Ninguém imagina a dureza e o esforço físico destes trabalhos.

Estive lá mais três meses, mas agora despedi-me porque outro «compagnon de route», como eles aqui falam, arranjou-me para ir para uma grande, muito grande empresa em Dijon que trabalha com a Argélia e a Líbia, a Tunísia e até com Marrocos.

São túneis destes os que vamos construir na Argélia
São túneis destes os que vamos construir na Argélia

…Fazem túneis e grandes obras de engenharia para a tropa e abrigos gigantescos para protecção dos civis e das populações daquelas zonas em guerra permanente há já alguns anos, depois das independências.

Assim, Sr. Luís, daqui por seis dias, na semana que vem, vou para Dijon e toda a gente me diz que tive uma grande sorte pois naqueles trabalhos fora da França ganha-se muito bem – só é preciso é ter todo o cuidado, não vá uma bomba ou um morteiro cair ali onde a gente está.

Mas não há-de ser nada.

Sr. Luís,
Por hoje é tudo. Darei notícias logo que possa.
Receba os meus respeitosos cumprimentos.

Deste que se assina
Balé Nobre, do Casteleiro.

Rua do Casteleiro a precisar de obras nas casas
Rua do Casteleiro a precisar de obras nas casas

Quem é o Senhor meu Pai, Narciso Nobre?

Acabo de receber outra carta sua e vou responder. Nas sua carta dizia o Senhor Luís assim:

«Caro Jovem Balé, do Casteleiro,

Recebe da minha parte os melhores cumprimentos.

Folgo em saber que a vida te vai correndo bem aí nas terras de França.

Oxalá que tudo assim continue e que cada vez estejas melhor.

Agradeço a tua resposta.

Como já te disse, lembro-me dos Nobres de Alfaiates, mas, sinceramente, há muito tempo que pouco sei deles.

Podes dizer-me o que é feito?

Olha que eu conheço o Casteleiro e conheço algumas pessoas de lá.
Recebe os meus mais sinceros cumprimentos,

Luís.»

E a minha resposta, que lhe dou com todo o prazer é a seguinte:

Senhor Luís,

Com todo o respeito, aqui lhe vou responder sobre como tem andado o meu – do meu tio pouco sei também, pois já não vai ao Casteleiro e eu quase não vou a Alfaiates.

Quanto ao meu pai, ele cá anda, já velhote mas bem bom.

Faz a sua vida no Casteleiro e arredores.

De certeza que já ouviu dizer que há lá um senhor que faz as barbas e corta os cabelos, mas que também trata dos dentes quando estão a cair e que até dá medicamentos e receita o que é preciso quando os garotos ou os pais estão doentes e não há médico por perto.

Pois essa é a vida de todos os dias do meu Pai.

A todos ajuda e está sempre em contacto com os médicos da zona, sobretudo com o Dr. Salgueiro, de Caria.

Aquilo funciona sempre, porque o meu Pai tem um grande livro onde estuda tudo e depois receita e o médico diz sempre que foi muito bem receitado o medicamento que o meu Pai mandou tomar. Está a ver?

Todas as pessoas do Casteleiro gostam muito dele.

Receba mais uma vez os meus cumprimentos,
Deste que se assina
Balé Nobre, já em Dijon – a 350 km de Paris, para Sul.

Dijon, França, 20 de Junho de 1966

:: ::
José Carlos Mendes

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Os episódios das «Histórias da Memória Raiana» são escritos semanalmente por um autor diferente. Participaram na «primeira temporada»: António Emídio, Fernando Capelo, José Carlos Mendes, Ramiro Matos, António José Alçada, Franklim Costa Braga, António Martins, António Alves Fernandes, Joaquim Tenreira Martins, Georgina Ferro e José Carlos Lages.

Na «segunda temporada» continuam a saga o António Emídio, Fernando Capelo, José Carlos Mendes, António José Alçada, Franklim Costa Braga, António Martins, António Alves Fernandes, Georgina Ferro e José Carlos Lages.

Nesta «terceira temporada» o José Carlos Mendes dá-nos notícias do Balé Narciso Nobre…

Total de episódios publicados: 23.

Apesar de fazer referência a nomes e lugares verdadeiros da região raiana dos territórios do Sabugal esta é uma obra de ficção e qualquer semelhança com nomes de pessoas, factos ou situações terá sido mera coincidência (ou talvez não!)

José Carlos Lages

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Capeia Arraiana

Diariamente desde 6 de Dezembro de 2006.

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