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Página Principal  /  Emigração • Lembrando o que é nosso • Opinião/Crónica • Quadrazais • Região Raiana  /  Quadrazais – terra de acolhimento
09 Julho 2021

Quadrazais – terra de acolhimento

Por Franklim Costa Braga
Emigração, Lembrando o que é nosso, Opinião/Crónica, Quadrazais, Região Raiana franklim costa braga Deixar Comentário

Os quadrazenhos brigavam muitas vezes entre si ou, como lá dizem, andavam muitas vezes «ao barulho» uns com os outros. No entanto, foram sempre acolhedores para os de fora. A muitos até os tratavam por «senhor», tratamento dado a poucos quadrazenhos.

Quem beber água desta Fonte casa em Quadrazais
Quem beber água desta Fonte… casa em Quadrazais

Sempre houve gente de fora a fixar-se em Quadrazais. Crê-se que D. Dinis criou no Sabugal e seu termo, por volta de 1308, um couto de homiziados, criminosos que aí poderiam viver livres, com a intenção de povoar estas terras e preservar a defesa das fronteiras. D. Afonso IV outorgou uma carta de fundação do couto do Sabugal. No reinado de D. Fernando os homiziados do couto do Sabugal passaram a, durante seis meses, poder andar pelo reino a comprar e vender mercadorias.

Certamente que alguns homiziados foram acolhidos em Quadrazais e gozaram deste privilégio de andar pelo país a comprar e vender mercadorias, provavelmente como já faziam os quadrazenhos de nascimento. Temos já nesta altura o quadrazenho-ambulante.

Os coutos, palavra que parece ter origem judaica, não eram propriamente um refúgio de criminosos mas antes um modo de cumprirem a sentença judicial. E o crime cometido não podia ser de aleive (traição). A partir de 1433 exclui-se do asilo nos coutos quem, para além de traição, praticasse heresia, sodomia, homicídio e furto público. As Ordenações Manuelinas excluíram também os moedeiros falsos, os falsários de escrituras e os que tivessem atacado os oficiais da justiça. Por isso, só crimes menores eram ilibados. Podem ficar descansadas as terras que acolheram homiziados pois não se poderá dizer que alguns dos seus habitantes são descendentes de criminosos. Os coutos de homiziados terminaram, de facto, em 1790.

Outra forma usada para fixar moradores foi a isenção de pagamento de portagem, costumagem ou usagem. E outra ainda foi o envio para as regiões fronteiriças de mouros e judeus com o mesmo fim de povoarem e defenderem as terras fronteiriças.

Embora sendo um couto régio de homiziados, o concelho do Sabugal temia vir a ser entregue a um fidalgo. De facto, em 23 de Outubro de 1458, o rei D. Afonso V doou a Vasco Martins de Resende a jurisdição civil e criminal da aldeia de Quadrazais. Mais tarde, anulou essa doação perante os protestos do procurador João Gonçalves nas cortes de Lisboa de 1459.

Século XVII – Já se tinham instalado em Quadrazais 11 casais de fora: 5 de Vale de Espinho, 3 do Sabugal, 1 da Lageosa, 1 dos Fóios e 1 da Vila de Melo).

Viviam em Quadrazais 86 homens de fora: 1 de Alcaide, 1 de Aldeia Velha, 1 de Alfaiates, 1 de Antas de Penalva, 2 do Baraçal, 1 de Cancelos, 1 de Capinha, 1 de Castelo Bom, 1 de Castelo Branco, 1 de Celorico, 3 de Figueiró da Granja (Viseu), 7 dos Fóios, 1 do Fundão, 1 de Idanha-a-Nova, 1 de Jaramilais (Miranda), 1 da Lageosa, 2 de Malcata, 1 de Medelim, 1 de Milhares, 1 da Moita, 11 do Ozendo, 2 de Palhais (Rendo), 1 de Penamacor, 1 do Penedo da Sé (Marmeleiro), 1 de Pousafoles, 1 da Quinta da Caravela (Sabugal), 1 de Ruivós, 1 da Ruvina, 8 do Sabugal, 1 de S. Pedro de Orense, 1 de S. Bartolomeu, 5 do Soito, 2 da Quinta da Torre, 14 de Vale de Espinho, 1 de Vale das Éguas, 1 de Vale de Lobo, 2 de Vila Meã (Valença) e 1 da Vila de Melo.

Aqui se instalaram nesse século 48 mulheres de fora: 1 da Aldeia da Ponte, 2 do Casteleiro, 2 de Castelo Branco, 1 de Chãos (Vila Nova das Donas), 3 dos Fóios, 2 da Lageosa, 3 de Malcata, 1 da Moita, 7 do Ozendo, 1 de Peroviseu, 1 de Portalegre, 1 de Ruivós, 3 do Sabugal, 3 do Soito, 2 da Quinta da Torre, 12 de Vale de Espinho, 1 de Valverde (Castela), 1 de Vila Viçosa e 1 de Viseu.

Possuo relação dos nomes de toda esta gente, mas seria fastidioso mencioná-los aqui.

Instalaram-se, pois, em Quadrazais, pelo menos, 156 pessoas no século XVII. A população de Quadrazais em 1708 era de cerca de 660 pessoas. Em finais do século XVII seriam cerca de 640. Se lhe retirarmos, pelo menos, 156 de fora, sobrariam cerca de 484, sendo os de fora cerca de um terço da população natural de Quadrazais (32,23%).

O que atraía tantos forasteiros a fixar-se em Quadrazais? Por haver aqui trabalho para muita gente na agricultura seria uma razão. Como o quadrazenho era essencialmente comerciante, havia dinheiro para pagamento de salários.

Século XVIII – Instalaram-se em Quadrazais 35 casais de fora: de Alcaide, Alfaiates, Aldeia da Ponte, Antas de Penalva, Baraçal, Casteleiro, Castelo Bom, Figueiró da Granja, Fóios. Forcalhos, Malcata, Melo, Placenza (Espanha), Ruvina, Sabugal, S. João (Viseu), Soito, Vale de Espinho e Vila Boa.

Casaram aqui 114 homens: de Aldeia do Bispo do Campo, Águas Belas, Águas do Bacelo, Almeida, Alfaiates, Aldeia da Dona, Aldeia da Ponte, Aldeia Velha, Antas de Penalva, Bendada, Benquerença, Capinha, Celorico, Covilhã, Figueiró da Granja, Fóios, Folgozinho, Idanha-a-Nova, Linhares, Malcata, Melo, Mesquitela, Moita, Nave, Nespereira, Ozendo, Pousafoles, Quarta-Feira, Quinta de Palhais, Quinta do Penedo da Sé, Quinta da Torre, Quinta das Vinhas (Pouca Farinha), Rapoula, Rosmaninhal, Ruvina, Sabugal, S. Julião da Silva(Valença), Santa Marinha(Coimbra), Santo Estêvão, Soito, Vale das Éguas, Vale de Espinho(25), Valverde(Espanha), Valverde(Almeida), Vigo, Vila Boa, Vila Franca das Naves, Vila Meã(Vila Nova de Cerveira) e Vilarinho(Braga); e 49 mulheres de fora: de Aldeia do Bispo, Antas de Penalva, Belmonte, Casteleiro, Coimbra, Covilhã, Fóios, Idanha, Jarmilo, Malcata, Mérida (Castela), Mesquitela, Murganheira (Vila Boa), Ozendo, Penha Garcia, Quinta da Dona(Nave),Rendo, Sabugal, Santa Ana, S. João(Viseu), Sapos(Coimbra), Soito, Torre, Vale das Éguas, Vale de Espinho, Valongo, Vila de Melo, Vila Franca das Naves, Vila Viçosa(Portalegre) e Vilar de Maçada(Vila Real).

Seriam, pois, pelo menos, mais 233 pessoas de fora. Em 1801 a população de Quadrazais era de 1.030 habitantes. Portanto, no final do século XVIII seria de cerca de 1.010 habitantes. Se lhe retirarmos 233 de fora, ficariam 777. Isto sem contar com os filhos dos de fora do século XVII, que considero já quadrazenhos. Os de fora representariam 30% dos naturais. Isto é, quase um terço. Se considerasse também os filhos dos estranhos que aqui se fixaram no século XVII em igual número ao dos pais, teríamos um total de fora de 389 pessoas, o que equivaleria a 62,64% dos naturais (777-156=621). 389:621=62,64%, quase dois terços da população daqui natural.

Porquê tanta gente a fixar-se em Quadrazais neste século? Sabe-se que o século XVIII foi um século de penúria. Podem ter procurado Quadrazais por ser um lugar onde se poderia viver melhor, com mais produção de alimentos.

1800 a 1855 – Fazendo jus ao dito quadrazenho «quem bebe água da sua Fonte casa em Quadrazais», casaram com quadrazenhas 42 homens de fora: 10 de Malcata, 7 de Vale de Espinho, 4 da Torre, 4 do Sabugal, 2 de Aldeia Velha, 1 de Rendo, 1 da Covilhã, 1 de Freches, 1 de Avelãs da Ribeira, 1 de Vila Boa, 1 da Bendada, 1 de Manteigas, 1 de Pousade, 1 de Vale das Éguas, 1 da Quinta da Junqueira (Alvorge-Coimbra), 1 de Espanha (Elgas), 1 de Alfaiates, 1 de Torre-Tavarel (Viseu), 1 do Cardeal e 1 de Ranhados (Viseu); e casaram com quadrazenhos 22 mulheres de fora: 5 da Torre, 3 do Soito, 3 do Safurdão, 3 de Avelãs da Ribeira, 1 da Lageosa, 1 de Freches, 1 das Águas do Bacelo, 1 das Freixedas, 1 da Freixeda do Torrão (Pinhel), 1 de Penamacor, 1 de Vale de Espinho e 1 de Viseu.

Instalaram-se em Quadrazais neste período 10 casais de fora: 2 de Espanha, 1 de Penamacor, 1 do Jarmelo, 1-ele de Vale das Éguas e ela de Freches, 1-ele da Quinta da Junqueira e ela de Freixedas, 1-ele da Torre Tavarel e ela da Freixeda do Torrão, 1-ele da Nave e ela de Avelãs da Ribeira, 1-ele da Vila de Alvarelhos e ela de Freguesinho (Porto), 1-ele de Junqueira(Alvorge) e ela de Freixedas. Tudo leva a crer que os casais em que ele é de um lugar e ela doutro se devem ter conhecido em Quadrazais.

1856 e 1899 – Fixaram-se em Quadrazais 52 homens de fora que casaram com quadrazenhas: de Aldeia da Ponte, Aldeia Velha, Carvalho (Braga),Casteleiro, Cerdeira, Forcalhos, Gouveias (Pinhel), Lageosa, Malcata, Medelim, Ozendo, Pouca Farinha, Pousade, Rendo, Ruivós, Sabugal, Safurdão, Salvaterra (Idanha), Soito, Torre, Vale de Espinho(10), Vila Boa, Vilar Maior e Zebreira; e 14 mulheres de fora casaram com quadrazenhos: de Avelãs da Ribeira, Castelo Mendo, Lardosa, Malcata, Penamacor, Pomares do Jarmelo, Quinta da Murganheira (Vila Boa), Sabugal, Soito, Torre e Vale de Espinho.

Instalaram-se ainda em Quadrazais 45 casais de fora, sendo que muitos destes eram trabalhadores e trabalhadoras que aqui se conheceram.

O total de fora que se instalaram em Quadrazais no século XIX foi de 240 pessoas. A população total em 1900 era de 1.855 habitantes. Se lhe retirarmos 240 de fora, ficariam 1.615. Os de fora equivaleriam a 14,86% dos naturais. Mas se a esses 240 somarmos os filhos dos de fora no século XVIII (233), ficariam 1.382. Os de fora representariam (473) equivaleriam a 34,23% dos naturais, sem ter em conta os netos dos aqui fixados no século XVII, considerados já quadrazenhos.

1900 a 1939 – Já no século XX, Quadrazais continuou a ser procurado por muitos forasteiros. Casaram com quadrazenhas 38 homens de fora: 1 da Aldeia de João Pires, 2 de Aldeia Velha, 1 de Angola (o ti João Preto), 1 de Benquerença, 2 do Cardeal, 2 do Ferro, 1 de Gouveias, 1 de Malcata, 1 do Meimão, 1 da Miuzela, 1 de Pêga, 2 de Penalobo, 1 de Penamacor, 1 do Pesinho (Fundão), 1 de Seixo do Côa, 1 do Soito, 6 do Sabugal, 1 da Torre, 3 de Vale de Espinho, 1 de Verdelhos, e 3 de Vila Boa.

Casaram com quadrazenhos 5 mulheres de fora: 1 de Aldeia Velha, 1 de Penamacor, 1 de Tábua, 1 de Vale de Espinho e 1 de Vila Real de Santo António.

Estabeleceram-se na aldeia 8 casais de fora: 1 de Castelo Bom, 1 de Penamacor e 6 em que marido e mulher eram de terras diferentes.

1940 a 1965 – Casaram 33 homens de fora com quadrazenhas, sendo naturais das Águas, Alcaria, Aldeia do Bispo de Penamacor, Aldeia de Santa Margarida, Aranhas, Bemposta, Boi d’Obra, Enguias, Évora, Guarda, Mangualde, Monsanto, Penamacor, Pesinho (Alcaria), Ramalde, Salvador, Soito, Sortelha, Torre do Torrenho ou Prova, Vale de Espinho, Valverde (Espanha) e Valverde (Almeida). A maioria dos casamentos deve ter sido antes da emigração.

Nesse período casaram com quadrazenhos 10 mulheres de fora aqui residentes: de Águas, Aldeia de Santo António, Alfaiates, Lagallas (Espanha), Malcata, Medelim, Rendo, Vale das Éguas e Vela. Aqui se fixaram 10 casais vindos de Espanha, Fornos de Algodres, Orca, Pedrógão, Proença-a-Velha, Vale de Espinho e mais 4 em que marido e mulher eram de terras diferentes.

Total das pessoas de fora que aqui se fixaram de 1900 a 1965=122. A população total em 1965 rondaria as 1.072 pessoas (eram já só 1.057 em 1970). Se lhe retirarmos 122 de fora, ficariam 950. Os de fora representariam 12,84% dos naturais. Mas, seguindo o raciocínio anterior, se lhes juntarmos os filhos dos aqui fixados no século XIX (240) e retirados da população total, esta seria de apenas de 710 habitantes e teríamos um total de 362 de fora, o equivalente a 50,99% dos naturais. Há que ter em conta que também emigraram filhos dos de fora.

A partir dos anos sessenta, com a forte emigração para França há muitos quadrazenhos e quadrazenhas a casar com portugueses doutras terras ou com franceses, sem que muitos deles tenham vindo residir para Quadrazais.

Desde o século XVII e só até 1965 fixaram-se, pois, em Quadrazais 119 casais vindos de fora, o que perfaz no mínimo 238 pessoas. Se lhes juntarmos mais 365 homens que aqui casaram e 134 mulheres que também aqui casaram, teremos 737 pessoas de fora a viver em Quadrazais, sem contar com possíveis filhos dos casais que aqui se fixaram. São quase metade da população de Quadrazais. Não falo do pós-emigração, sobretudo para França, em que os casamentos entre quadrazenhos e quadrazenhas com pessoas de fora, portuguesas ou estrangeiras, originaram algumas fixações em Quadrazais.

A grande mobilidade dos quadrazenhos por esse país fora e a vinda de muitos trabalhadores para Quadrazais, quer para as ceifas, quer para o exercício de muitas profissões para as quais o quadrazenho não era atraído, são a causa destes casamentos e ainda de muitos quadrazenhos terem casado e ficado por fora da terra. Entre essas profissões cito: alfaiates, barbeiros, caiadores, carpinteiros, ceifeiros, ferreiros, gadanheiros, moleiros, pedreiros, pintores, sapateiros, serradores e tosquiadores.

Há notícia de terem sido acolhidas em Quadrazais, a pedido da Misericórdia, nove crianças expostas na Roda do Sabugal.

O quadrazenho ambulante teve, certamente, papel relevante na divulgação da sua terra como lugar de trabalho e residência, sobretudo em terras distantes.

Quadrazais continuou a ser procurado por foragidos à justiça. Mesmo no século XX aqui se refugiaram 2 homens que haviam cometido homicídio nas suas terras.

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«Lembrando o que é nosso», por Franklim Costa Braga
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Maio de 2014.)

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Franklim Costa Braga

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