Vejo a minha geração deveras marcada pelos seus progenitores.

Com o desaparecimento dos ascendentes, poder-se-ia pensar que eles se teriam ido, apagando-se dos nossos quotidianos. Mas não. Com frequência lhes evocamos os traços e, falo por mim, chego à minha idade com a memória frisada de laborações e honradez, tudo plasmado em sui generis formas de estar na vida.
Na verdade, os nossos progenitores persistem habitando as nossas recordações de infância, especialmente quando lembramos a sua adjacência protectora.
O simples facto de, em crianças, pressentirmos os pais por perto dissipava, em nós, qualquer receio. Bem podiam soar trovoadas incendiando escuros com clarões fulminantes porque a simples presença deles fazia-nos dormir sossegados. Ainda que os assobios de ventos furiosos lograssem ferir os nossos ouvidos, a certeza da sua estada transformava as lufadas em embalos de sonho.
E as diabruras?
Bastava-nos pensar que os pais não aprovariam a ideia de destroçar ninhos ou de atraiçoar pássaros com matreiros armamentos para que nos sentíssemos malfeitores e deixasse-mos vaporizar tais propósitos.
Fizemo-nos adultos e continuamos a senti-los por perto sobretudo nos momentos em que teimamos em existir por nós, quando fazemos por ser quem somos.
São difíceis de descrever aqueles instantes em que, na alma, damos conta de uma gotinha de nada, um quase silêncio, capaz de direcionar os nossos mais profundos creres.
Voltamos a senti-los próximos quando fazemos por tutelar os nossos filhos. É como que uma subtil peugada que eles nos deixaram no ser e que, a cada instante, nos assiste.
E por quanto tempo assim será? Pois não sei. Mas desconfio que seja pelo resto das nossas vidas.
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«Terras do Jarmelo», crónica de Fernando Capelo
(Cronista no Capeia Arraiana desde Maio de 2011)
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Amigo Capelo :
Se a educação é sólida, é para toda a vida !.
António Emídio