Às terças-feiras é tempo da poesia de Georgina Ferro. Este poema é dedicado ao Dia Mundial da Poesia que se celebrou no passado domingo, 21 de Março. A poetisa raiana junta a sua sensibilidade artística ao amor e às memórias pelas gentes e terras raianas…

DO BARRACÃO A… LISBOA
Quem assim viajou alguma vez na vida
É impossível, de facto, que se não lembre
De cada vez que se fazia aquela ida,
Essa viagem do «Barracão» a Lisboa!…
Era um festim memorável para sempre
Entre cabazes, de mil coisas atulhados,
Desde ovos, presunto, pão centeio, broa
Galos, galinhas presos a cacarejar
Sob os bancos de tábua, aninhados
Oh!, que festa! Não havia outra igual
– Então, a menina para onde viaja?
– Vossemecê, como se chama? Donde é?
«Tchegue-se p’ra cá!…Veja lá c’aí vai mal!»
– Aí bate o sol, venha mais aqui pr’ó pé
– Ó menina, prove lá da nossa merenda
– Também aqui levo farnel, muito bem haja.
Cada vez insistiam mais na oferenda
Ele era pão com presunto bem fumado
Queijinho feito no dia anterior
Bicas perfumadas com anis «escartchado»
Tudo nos colocavam ali ao dispor!
O mais engraçado era a cantoria
Acompanhada do toque da concertina
Abriam com modinhas tradicionais
Não tardando as cantigas ao desafio
Com as quadras já sabidas e triviais
Mas aí, não me chamasse eu Georgina
Vinham as árias da minha autoria
Que faziam rir, mormente, o mulherio
Pois eles não se queriam envergonhar
De perder o duelo com uma garota
Que tentava não se deixar atrapalhar
E lá os espicaçava feita marota…
Depois era a chegada e despedida
Parecia sermos amigos de outrora
Eram abraços de ternura desmedida
Como se já não quiséssemos ir embora.
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«Gentes e lugares do meu antanho», poesia de Georgina Ferro
(Poetisa no Capeia Arraiana desde Novembro de 2020)
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Obrigado! Esta leitura dá-me alento, em especial hoje.