Os passos de uma investigação em que, em vários momentos desta caminhada, as certezas de ontem transformaram-se em dúvidas de hoje!… Afinal o padre tinha filhos!? (Parte 2 de 2.)
(Continuação.)
Passo 7
Óbito de Maria da Ascensão:
«Maria da Censão de idade pouco mais ou menos trinta anos natural deste lugar de Penalobo, freguesia de São Nicolau, Bispado da Guarda e Arciprestado de Penamacor, faleceu de vida presente depois de ser confessada e receber a extrema unção aos nove dias do mês de Maio de mil oitocentos e trinta e cinco e faleceu sem fazer testamento ou disposição alguma, está sepultada no adro desta Igreja de São Nicolau por isto ser verdade fiz este termo fiz este termo que assino dia, mez e anno ut supra.
O Cura Francisco José de Paula»
Mais uma singularidade! Não refere que era casada com João Nunes de Paula!
Quanto à idade não havia o rigor de hoje, mas confirma os dados anteriores!
Passo 8
Mais uma vez no Arquivo Distrital da Guarda e com os mesmos procedimentos prévios para investigar o casamento da filha.
Do Assento de Casamento destaco a passagem seguinte:
«Declaro que a nubente hé minha filha legítima e de Maria Leal da Acensão falecida, e que dei licença por escrito ao Reverendo Manuel Quadrado Ribeiro Parocho de Aguas Belas.
O Vigário João Nunes de Paula.»
Saliente-se a presença do Reverendo Manuel Nunes da Cunha, como testemunha, natural da quinta da Sobreira, freguesia de Pousafoles do Bispo, pároco de Aldeia do Bispo, Bispado de Penamacor.
Maria era filha legítima!
Passo 9
Netos do Padre João de Paula Nunes. Vou procura-los nos registos.
Datas dos registos de batismo:
1864 – Em 1 de Junho, Maria de Paula.
1865 – Em 31 de Agosto, António d’Ascensão, que mais tarde viria a ser Padre.
1867 – Em 21 de Março, Isabel.
1869 – Em 16 de Junho, Manuel.
1871 – Em 26 de Outubro, João.
1874 – Em 29 de Abril, Josefa.
1876 – Em 1 de Outubro, José. Averbamento do assento de batismo: Casou com Maria da Piedade, natural das Lameiras, freguesia de Pousafolles, no dia 22 de Fevereiro de 1909, na freguesia de Pousafolles.
1879 – Roza. Averbamento do assento de batismo: Casou com Manuel Gonçalves Cardeal, em Penalobo, no dia 27 de Janeiro de 1906. Casamento dissolvido por morte do marido em 2 de Maio de 1941, faleceu em Pousafoles em 31 de Julho de 1960. Grande parte deste registo está ilegível, mas do que se pode ler não resta qualquer dúvida quanto ao essencial.
Comentário
1 – Os padrinhos de batismo de Maria Paula, António, Isabel, João e Josefa foram João Nunes da Cunha, presbítero em Aldeia do Bispo, Bispado de Penamacor, natural da quinta da Sobreira, e Maria da Cunha, solteira da quinta da Sobreira; de José foi o mesmo presbítero e sua irmã Guiomar da Cunha, da quinta da Sobreira; no caso de Roza essa parte está ilegível.
2 – Todos foram celebrados pelo padre João Nunes de Paula, o seu avô!
Passo 10
Enquanto procuro o testamento do Padre João Nunes de Paula dou com o da filha. Informações retiradas do testamento de Maria Leal:
« (…) por alma do padre João Nunes de Paula trinta missas (…) a seus filhos Padre António Nunes de Paula da Ascensão (…), José Nunes da Cunha (…) e Roza da Ascensão (…)» (1)
Comentário
1 – Em nenhum momento refere ser filha do Padre João Nunes de Paula! A omissão não é inocente!
2 – De oito filhos que teve apenas nomeia três. Será que os outros já haviam «partido»?
3 – Foi batizada com o nome Maria, quando casou era Maria Leal, agora é Maria Leal da Ascensão!
Algumas conclusões sobre o Padre João Nunes de Paula
1 – João Nunes casou com 15 anos, nasceu em 1816 e casou em 1831, com Maria Gonçalves da Censão, 10 anos mais velha! Trata-se de uma situação invulgar! Portugal vivia um período conturbado à beira da guerra civil entre liberais e absolutistas, poderá estar aqui parte da explicação! Em 1834 tiveram uma filha, batizada com o nome Maria, mas a mãe faleceu no ano seguinte.
2 – Entretanto decidiu estudar e tornou-se Padre de Penalobo, onde exerceria entre 1846 e 1901.
3 – No assento de óbito lavrado pelo neto, Padre António Nunes de Paula da Ascensão, este escreveu que «deixou testamento aos seus filhos maiores»!
Certamente que conhecia todos os tios! É difícil acreditar tratar-se de erro!
Não consegui encontrar o testamento do Padre João Nunes de Paula, apesar de me ter deslocado ao Arquivo Distrital da Guarda, diversas vezes, com esse intuito. Pode estar no local mais improvável! Este é fundamental para sabermos se teve outros filhos, além de Maria! Se um dia se confirmar, serão de outra mulher e consequentemente ilegítimos! A mudança de nome com alguma facilidade dificulta a compreensão dos factos. Estas personagens eram muito românticas!
4 – Nas freguesias de Penalobo e Pousafoles do Bispo devem existir descendentes!
5 – Com tantas subtilezas nos registos, em vários momentos desta caminhada, as verdades de ontem transformaram-se em dúvidas de hoje.
Bem precisamos de um Cubo Mágico!
Nota de Rodapé
1 – Arquivo Distrital da Guarda, Notário: Manuel Nunes Garcia, 1906, Livro n.º 7, folhas 33v a 35. Testamento de Maria Leal da Ascensão, viúva de Penalobo.
(Fim.)
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«Memórias de Sortelha», opinião de António Gonçalves
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Janeiro de 2019)
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