Enquanto cuido de eleger um tema, de entre os que a ideia me propicia, pergunto-me…

– Alinho numa crítica? Vou numa apologia? Cedo à sensibilidade ou mesmo ao humor?
Decido-me, afinal, por pejorar algumas «banalizações» que me exasperam a alma e o entendimento.
Com efeito, a banalização tem-se vindo a ajustar, transversalmente, ao tempo que vivemos.
Banaliza-se o passado menosprezando-lhe os contributos.
Banaliza-se o saber subestimando-o ou, até, ridicularizando-o.
Banaliza-se a cultura tratando-a com leviandade.
Banalizam-se valores substituindo-os por neologismos.
Banaliza-se o acontecimento em prol do mediatismo.
Banalizam-se instituições e órgãos de poder.
Enfim, banaliza-se tudo ou quase tudo pelo que, diga-se, vivemos uma época de banalização.
O discurso político transverte-se, frequentemente, em conversa frívola e fiada trocando o importante por coisa de pouca monta. À política supunha-se-lhe a concepção de enunciados esperançosos, sim, mas também, uma consequente substancialização e o comprometimento com execuções, não demoradas, em defesa do bem público. Quando não, despedaça-se a autoridade e excede-se a banalização.
Dos fazedores de opinião, carregados de presumida lucidez e pose curativa, seria de esperar que se não tresloucassem de parcialidade ou se não esmerassem a dignificar aparências preterindo a essência das causas. Quem publicamente comenta, deveria fazê-lo com responsabilidade e isenção e ter em boa conta os bons ou maus resultados. O que não seria de esperar era que, cada um, puxasse a brasa à sua sardinha ou sugerisse o modus operandi dos que, vestindo a casaca de servidores da causa pública, adoptassem a pretensão de, apenas, favorecer a própria imagem. Não, não é essa tansa banalidade que se espera de alguns desvelados opinadores.
Desejar-se-ia que as instituições fossem geridas, a bem do cidadão, por gente capaz. Mas não. São frequentes as ganâncias e as banalidades sustidas em incompetências e impreparações abrindo caminho a fins desastrados. Perdem, assim, o cidadão e a decência. Ganham a decadência, a má-fé e a fraude.
Enfim, vamos, então, assistindo a um decorrer de vida em modo de lapidada banalização que nos vai enfadando dia após dia.
E, pior, tudo isto tem ar de crónico e não se lhe prevê cura.
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«Terras do Jarmelo», crónica de Fernando Capelo
(Cronista no Capeia Arraiana desde Maio de 2011)
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