«De soldado a general» é o percurso nunca visto na GNR-Guarda Nacional Republicana. O autor de tal feito é o Brigadeiro-general António Manuel Bogas, natural do Sabugal, que recebeu esta terça-feira, 15 de Junho, das mãos do primeiro-ministro António Costa a Espada de Oficial General da GNR. O primeiro dos primeiros! Uns dias antes fomos até Sintra ao encontro do sabugalense que assume as suas origens e chega agora aos lugares cimeiros da sua instituição…

Na GNR-Guarda Nacional Republicana há as figuras da promoção e da graduação. Para ser promovido tem que se satisfazer condições gerais e específicas de promoção. O coronel António Manuel Bogas completou, no dia 26 de Dezembro de 2020, quatro anos no posto e passou a preencher todas as condições da promoção. Como era um sábado o General-comandante homologou apenas na segunda-feira, 28 de Dezembro de 2020.
A História é feita de datas e momentos como o que a GNR está a viver. Pela primeira vez um dos seus chega aos lugares cimeiros da instituição, num processo que vai levar à substituição gradual dos Generais do Exército.
Impunha-se saber como estava a viver o protagonista deste episódio histórico e por isso fomos até Sintra, ao encontro do ilustre sabugalense António Manuel de Oliveira Bogas que nos recebeu com a esposa Anabela e a filha Sofia como os raianos gostam de fazer… com amizade e à volta da mesa.
«Os meus dois camaradas, Silvério e Veloso, vão ser graduados porque apenas atingem os quatro anos de permanência no posto de Coronel em Outubro e em Dezembro. Fomos os três ao curso de promoção a oficial-general…» começa por nos esclarecer António Manuel Bogas.
– Havia a consciência de que seria possível chegar a este posto?
– Sou o mais antigo, estou em primeiro lugar desde que saí da Academia Militar. Neste momento não tenho ninguém à minha frente no «quadro». Mas neste meu percurso possivelmente se não tivesse a determinação, dedicação, espírito de bem servir, o sentido de dever…
– …E as competências…
– Sim. Mas também é verdade que somos fruto das circunstâncias e como gosto de dizer aos meus filhos a sorte custa muito a conquistar. E não escondo que estava no sítio certo no momento certo. O meu curso foi todo promovido em 2012 a Tenente-coronel mas só eu e outro camarada é que fomos promovidos em 2016 a Coronel. Os de «armas» não conseguiram. Nós somos do quadro da Administração Militar e não tínhamos ninguém à nossa frente. Agora não escondo que quando acabámos a Academia Militar todos tínhamos esse objectivo. Nunca vivi obcecado com isso mas quando cheguei ao posto de Tenente-coronel comecei a pensar que podia lá chegar.
– Mas há, também, o reconhecimento dos pares, dos superiores…
– Há coisas de que me orgulho. O reconhecimento dos subordinados e dos pares. A questão de sermos comandados por Generais do Exército em comissão de serviço na Guarda não invalida que haja uma identidade própria. A minha escolha da GNR no final do primeiro ano da Academia Militar resulta da análise que fiz no momento e percebi que seria o primeiro curso de oficiais da Guarda para elementos oriundos da Academia. Na Guarda teria mais perspectivas do que no Exército e o progresso da minha carreira veio confirmar que estive certo. Todos os camaradas do Exército do meu curso ainda são Tenentes-coronéis.
– A GNR foi sempre comandada por Generais do Exército…
– Na GNR houve sempre a vontade de a tornar autónoma só que não havia oficiais generais, e, no passado, não havia mesmo oficiais superiores pertencentes à GNR. Na PSP, por exemplo, foi possível iniciar o Instituto Superior de Polícia em 1984 e ter os seus próprios oficiais e nós só começamos em 1991. Há aqui uma décalage que faz toda a diferença. E é por isso que a PSP conseguiu como força de segurança de natureza civil ter os seus oficiais em cargos de topo mais cedo. Na Guarda faço parte da primeira geração de oficiais com formação superior específica para chegar ao topo da hierarquia que vai permitir dar início ao processo de transição que se quer o mais pacífico possível. Há inteligência e capacidade para concretizar esse objectivo mas não é fácil essa compreensão para quem comandou a Guarda durante 110 anos. Eu costumo dizer que somos um corpo enorme. A Guarda é designada como força de charneira, ou seja, a transição das forças militares para as forças de segurança civis. Por esse ponto de vista até posso concordar com a designação. No entanto custa-me a admitir ser «charneira» porque somos o maior efectivo, temos a maior dispersão territorial, excelentes equipamentos e, no entanto, sendo o maior corpo nunca teve cabeça própria. Foi sempre comandado por oficiais do Exército e por mais que queiram vestir a camisola nunca sentiram, nem irão ter, o ADN da Guarda.
– Ser o primeiro a chegar ao topo da hieraquia comporta a missão histórica e o desafio imenso de dar uma identidade própria à GNR?
– Não sinto isso. A identidade já existe. Compete-nos consolidar o posicionamento da Guarda no seio das Forças Armadas e das Forças de Segurança, e cimentar e alavancar a nossa missão, alcançando patamares de eficácia ainda maiores.
Tenho a sensação que tenho pago um custo acrescido ao longo do meu trajecto desde alferes. Era o primeiro do curso e tenho lutado por esses princípios mantendo, no entanto, o respeito por todos os superiores. Seria hipócrita se não assumisse que estava a defender os interesses da Guarda e, também, os meus. Se alguém é formado para ser oficial general da Guarda e faz uma carreira inteira no interior da instituição possui todas as ferramentas e a obrigação de ser melhor oficial e melhor comandante do que um general que vem para a Guarda e não conhece a instituição.
– Para os cidadãos que «veêm de fora» a coabitação entre GNR e PSP nem sempre é pacífica…
– O poder político quer a coexistência das duas Forças. É o sistema «dual policial». Se é essa a aposta é preciso saber gerir as duas Forças. É importante definir qual é o espaço que compete a cada uma, sem competir de uma forma desadequada que só leva à fragilização das duas Forças. O objectivo é aproximar e nunca provocar a distância. Olhamos para a Guarda com um efectivo de 23 mil militares e para a PSP com 21 mil, todos profissionais, num total muito superior às Forças Armadas e não temos um poder proporcional. Eu sou de «administração militar», mas com a ajuda dos meus camaradas das «armas» vamos provar que só temos a ganhar se unirmos esforços. Tem que haver uma definição mais clara das competências específicas que devem ser estudadas e atribuídas a cada uma das Forças. As rédeas do processo devem ser assumidas pelo poder político.
Desde o Sabugal…
– E como são recordadas as origens?
– O meu avô paterno era da Aldeia da Senhora da Póvoa e a minha mãe é de Pedrógão de São Pedro, Penamacor. Os meus pais quando casaram foram viver para o Sabugal. O meu pai emigrou para a Alemanha e a minha mãe foi lá passar uma temporada. Naquele tempo, na cidade de Colónia, havia uma comunidade muito grande de sabugalenses… os Bogas, os Cunhas… Entretanto a minha mãe engravidou e aos cinco meses de gravidez o meu pai achou que eu devia nascer em Portugal.
A minha mãe ficou comigo e a minha irmã no Sabugal até eu ter cinco anos. Depois foi ter com o meu pai e nós ficámos no Sabugal. A minha irmã com 12 anos fez o lugar de segunda mãe. E foi aí que fomos para casa do Quim Roquete, pai da Júlia Bogas, e estivemos lá até a minha irmã casar com 18 anos. Fui viver com ela cerca de um ano e meio. No Sabugal estudei até ao 9.º ano e depois fui para a Guarda para a Escola Secundária da Sé até ao 11.º ano. Mas não me habituei à cidade…
Os meus pais regressam de vez da Alemanha em Maio de 1984. Tinha na altura 18 anos e não estava habituado a estar com os meus pais fora das férias. Estudava e pertencia aos Bombeiros Voluntários do Sabugal. Recordo que eu e o Vítor Nogueira fomos escolhidos para ir ao Porto tirar o curso de tripulante de ambulância. Eramos os mais novos dos distritos de Viseu e Guarda e eu fiquei em primeiro no curso. Nesse ano decidi concorrer à Força Aérea para cabo especialista de Mecânico Material Aéreo. Fui um dos sete apurados entre 70 candidatos. Deram-me logo a guia para ir para Tancos. Na altura já namorava a minha mulher e comecei a pensar que não a podia deixar no Sabugal porque ela era muito bonita e ainda ma podiam roubar… [risos]… E resolvi telefonar a desistir.
– Então quando tem início o percurso militar?
– Entrei a 19 de Janeiro de 1987 para o serviço militar obrigatório e fiz a recruta na Figueira da Foz na Escola Prática de Transportes, que curiosamente agora é um quartel da GNR. Ao segundo mês de lá andar vejo um anúncio no bar dos instruendos para concorrer ao Curso de Formação de Sargentos do quadro do Exército. E sem saber ainda o que era a vida militar, estando ainda na recruta e não tendo nenhum familiar fardado nunca me tinha passado pela cabeça ser militar. Mas, mesmo assim, resolvi concorrer…
Jurei bandeira a 23 de Abril e fui colocado como «soldado condutor» no Batalhão do Serviço de Material no Entroncamento. Os outros saiam à noite ou vinham até Lisboa e eu ficava a estudar para o exame até às nove da noite, hora a que dava o toque de recolher e silêncio e apagavam a luz na camarata.
Estou agora a recordar um episódio da viagem ao Porto quando ia fazer as provas para «sargento» à Escola Prática de Transmissões. Sai na estação em Coimbra e um cão, sem mais nem menos, mordeu-me numa perna… [risos]. Fiz as provas no Porto e entre quase dois mil concorrentes e fiquei aprovado em 12.º lugar. Vivi com intensidade o primeiro ano nas Caldas da Rainha, tendo ficado classificado em quarto lugar. Decidi escolher, com convicção, o serviço de Administração Militar. Não conhecia em pormenor, mas considerei que tinha apetência para aquele serviço. Vim fazer a segunda parte do curso na Escola Prática de Administração Militar (EPAM) no Lumiar, onde é agora uma universidade. Fique classificado em primeiro lugar no 16.º Curso de Formação de Sargentos de Administração e, entretanto, faço o 12.º ano à noite na Escola Secundária da Cidade Universitária. Mais uma vez os outros saiam e eu ficava a estudar.
– Isso de ficar em primeiro lugar começa a ser um hábito?
– Parece fácil mas dá muito trabalho… [risos]… E foi mais um momento em que a vida «parece ter decidido» por mim. Tirei boas notas no 12.º ano e tinha média para entrar em Economia ou Gestão no ISEG ou no ISCTE. Tive dúvidas e concorri também à Academia Militar. No dia em que tinha de ir fazer uma prova de admissão no ISEG fui escalado para uma cerimónia militar e faltei acabando por fazer provas só para a Academia Militar…
Entrei e fiquei em quarto da geral no primeiro ano. E no início do segundo ano lectivo em 1992 abre o curso para a GNR pela primeira vez. E eu vejo… duas vagas para «GNR Administração». Os dois primeiros escolhem «Exército» e o terceiro e eu escolhemos «GNR Administração». E a escolha estava feita por convicção! No quinto ano, no final do curso, fiquei em primeiro lugar da GNR. Eramos 23 alunos. Um morreu no último dia de aulas do terceiro ano na Academia a fazer slide. Era o Calado, um grande amigo meu que eu gostaria de recordar hoje. Depois o Raimundo da arma de Cavalaria, já Tenente, faleceu em 1999 e, infelizmente, em Março do ano passado deixou-nos o Lourenço de Moimenta da Beira. Era o segundo comandante da Territorial da Guarda. Eram os três meus grandes amigos que quero recordar nesta conversa.
– E a partir daí foi um percurso com o desempenho de várias funções…
– Quando termino o curso sou colocado no Comando-Geral da GNR, no quartel do Carmo, no Conselho Administrativo. Passado ano e meio considerei que devia ir para uma Unidade para ter a experiência de desempenhar funções de administração fora do comando. E fui para adjunto do chefe de contabilidade na maior unidade da GNR, a Brigada Fiscal, dispersa por todo o País. Entretanto tive de fazer um interregno em 1999 na Brigada Territorial n.º 4 no Porto. Passei a chefe da contabilidade com o cargo de financeiro-logístico. Foi gratificante e adquiri grande experiência.
Mas em termos pessoais 1999 foi um ano terrível. Em Fevereiro faleceu o Raimundo, em 27 de março o meu pai e depois entre Abril e Maio as duas avós da minha mulher e, entretanto, fomos os três operados cá em casa.
Voltei para a Brigada Fiscal. E fui ao Curso de Promoção a Capitão. No final fui convidado a dar aulas na Academia Militar, onde estive durante dois anos a ensinar contabilidade e logística.
– E que tal o papel de dar aulas?
– Os comentários gerais é que sou um indivíduo pragmático a dar aulas, mas não é a «minha praia». E ao fim de dois anos pedi para sair porque já sentia saudades da instituição GNR. Mas serviu também para ver a Guarda de fora para dentro.
– E depois da Academia Militar…
– Quando sai da Academia Militar o General-comandante da Guarda nomeia-me como vogal do Conselho de Direcção dos Serviços Sociais da GNR a desempenhar funções de Tenente-coronel ainda como Capitão. Foi uma experiência extraordinária de 2003 a 2009. Foi muito gratificante. Entretanto sou promovido a Major, fui colocado na Escola de Queluz e sou enviado em 2010, durante um ano, para uma missão em Angola. No meu regresso no dia 1 de Julho de 2011, sou convidado pelo Director de Recursos Financeiros para Chefe da Divisão do Orçamento da GNR. Em 2016, sou promovido a Coronel e o Director vai para a situação de reserva. E passo a Director de Recursos Financeiros. A 12 de Julho de 2019 recebo um telefonema do Excelentíssimo General-comandante Miguel a dar-me os parabéns pela nomeação para a frequência do Curso de Promoção a Oficial General. A 26 de Dezembro fiz os quatros anos de Coronel e é lógico que auguro ser, em breve, o Comandante do Comando da Administração dos Recursos Internos que tem as áreas de gestão financeira, logística, saúde, recursos humanos e infraestruturas…
– Sente-se a pressão de estar mais escrutinado por lidar com dinheiros?
– Sente-se, sem dúvida! Além do escrutínio interno com auditorias e inspecções, a nível externo temos o Tribunal de Contas, a Inspecção-Geral de Finanças e a IGAI. A área de administração militar é cada vez mais técnica e é obrigatório «dar contas» ao Ministério da Administração Interna e ao Ministério das Finanças. É um orçamento anual enorme. Um vez um Secretário de Estado disse que a Guarda era o organismo da Administração Pública que tinha o maior orçamento.
Neste assumir de responsabilidades devo muito do que sou aos meus chefes que sempre me apoiaram e ensinaram. E devo muito aos meus subordinados que me ajudaram a fazer sempre o melhor que sabia e era possível. Por onde passei deixei a minha marca graças aos meus subordinados.
Tenho muito orgulho do meu passado. Nunca pedi nada a ninguém.
Comecei como soldado. E terminarei como soldado ao serviço dos Portugueses e de Portugal.
– Para falar de história não se deve falar no presente. Mas na terça-feira, 15 de Junho, vai fazer-se história em Portugal…
– Um camarada do meu curso ligou-me e disse-me que ainda não nos apercebemos que isto é a história da GNR. O que representa e o que vai representar no futuro. Neste momento seria de «mau tom» não assumir que a Guarda tem de ser diferente no futuro. Teria sido uma missão falhada o investimento do erário público na formação de Oficiais-generais da Guarda. Desde 1991 se pensa que alguma coisa tinha de mudar para melhor. Estamos a chegar «às consequências» dessa decisão mas a realidade é que o Comando da Guarda, ao longo dos anos, nem sempre tem dado o devido destaque ao momento que estamos a viver.
Aproveito para dizer aqui no Capeia Arraiana aos militares da Guarda, desde os que estão colocados nos Postos de Bragança, de Vila Real de Santo António ou das ilhas, que vamos começar a marcar a diferença. Eu tenho sido o porta-estandarte de uma dinâmica que se criou de uns anos a esta parte para que a Guarda se torne efectivamente autónoma…
– Vai ser esse o espírito de missão, o foco como General?
– Sim! Vai ser esse o meu foco a partir do momento que atinjo a sub-categoria de General. Mas não quero ser conotado como estando a fazer o caminho sozinho. Quero tornar a Guarda totalmente autónoma. Não precisaremos dos Oficiais do Exército dentro de ano e meio, pois a partir do final de 2022 teremos Oficiais-generais em condições de comandar a GNR.
– Recordações da infância e juventude no Sabugal?
– É esta a história de um rapaz que nasceu nas terras raianas do Sabugal, filho da emigração, que cresceu sem os pais e que aprendeu a sobreviver sem a mão paterna. Olho para a minha irmã e ela é uma segunda mãe. Foi quem me protegeu com 12 anos e tinha eu cinco. Aprendi muito cedo a dureza da vida. Era filho de emigrantes e tinha algum desafogo financeiro mas sempre vivi com humildade.
Desse tempo recordo principalmente os amigos. Fiz parte da «elite bardina» da minha juventude. Na altura o Carlos Carriço (que está na Câmara) era o líder, o Zé Passarinho, o Élio… Cresci na vila junto ao Castelo, dos cinco aos 10 anos, em casa dos pais da Júlia. Num raio de 50 metros eramos três. Eu, o Zé Luís Costa e o Carlos Eduardo. Os outros dois já faleceram. O Costa no dia em que fez 24 anos e o Carlos Eduardo em Janeiro de 2012. Os meus pais sempre viveram junto à tasca do Robalo. Agora a minha mãe vive ao pé do senhor Manuel Alfaiate, junto às escolas. Ainda o outro dia disse ao meu cunhado Chapeira que mais importante que as estrelas que ostento nos ombros são as estrelas que brilham todas as noites no céu e me têm protegido. O meu pai, os meus amigos de infância, os meus três camaradas e os outros familiares… E eu acredito nisso.
Foi uma infância dorida porque não vivi com os meus pais emigrados na Alemanha mas tive uma adolescência espectacular. Namorei a rapariga mais bonita do Sabugal, a minha mulher Anabela. Tenho muito orgulho na Raia. Não pertenço a nenhuma agremiação e sou desprendido de valores que outros consideram fundamentais. Gosto de dizer o que sinto e penso. Não gosto de estar refém de nada nem de ninguém. Sou um irreverente consciente. Nunca pedi favores em termos de carreira. E é isso que me enche de orgulho para quem nasceu no Sabugal, filho de pais emigrantes, dum pai humilde que fez a quarta classe em adulto para tirar a carta de condução, enfim… sou um filho da emigração. Não vou esconder que sinto orgulho no que conquistei.
E uma das coisas que mais me agrada é chegar ao Sabugal e aqueles senhores de oitenta anos agarrarem-se a mim e chamarem-me Olímpio como se chamava o meu pai. É o Sabugal no seu melhor! Eu vou continuar a ir ao Tó de Ruivós a beber umas minis porque nada se alterou na minha vida pessoal. No Sabugal gosto quando me reconhecem pelo TóMané Bogas.
Antes, diziam-me que tinha um feitio difícil mas agora gosto de dizer que tenho um feitio especial. Sou frontal e há quem não goste de frontalidade que, por vezes, confundem com indelicadeza. Gosto do diálogo, gosto de ouvir mas quem decide sou eu. Por vezes, confunde-se a exigência com o mau feitio. Não aceito passar à porta de armas e que o indivíduo não se levante. Se me conhecem devem levantar-se, se não me conhecem têm de perguntar quem sou. É assim que está instituído no regulamento, é assim que tem de ser feito.
– O que vai mudar na GNR?
– Há muita coisa que tem de ser feita. Tenho algumas ideias na cabeça em especial para a minha área. Neste momento é importante dar um sinal para fora mas dar, também, um sinal para dentro. Temos de solidificar a nossa posição, emanciparmo-nos, porque é possível que a Guarda ganhe eficiência. Tem de ser comandada pelos oficiais da Academia Militar mas que sejam da GNR. Chegou o momento. Espero que as mudanças comecem a acontecer. Depende de mim e dos 23 mil militares da Guarda. Depende de todos. A persistência, a determinação, a dedicação conduz-nos a este momento.
– Ao fim de 110 anos é chegado o momento?…
– É chegado o momento! Fez 110 anos no passado dia 3 de Maio. Ao fim de 30 anos em que os contribuintes portugueses andaram a pagar formação superior específica de base para sermos Oficiais da GNR e sermos os comandantes da Guarda, os Generais do Exército têm de regressar à sua Instituição, manifestando-lhe o devido agradecimento pelos anos que estiveram no leme da GNR.
Devo tudo o que sou à Guarda, aos meus subordinados, a alguns chefes e comandantes que me ensinaram e há uma característica comum desde o pelotão da recruta. Sempre tive comandantes muito exigentes e quero recordar aqui alguns: o Aspirantes Gomes na recruta; o Segundo-sargento Margalho, comandante de pelotão do Curso de Formação de Sargentos; o Álvares e o Dias, dois Tenentes na formação militares na Academia. O seu modo de ser moldou-me o feitio para ser exigente.
– E agora General Bogas?
– Espero passar a ter mais tempo para a família e espero que na Guarda o cargo me permita mais tempo para pensar e planear, ao invés de executar. Infelizmente há um paradigma na Guarda em que os militares vão subindo nos postos mas continuam a não ter tempo para pensar, escutar e planear. Quero mudar esse paradigma. Ser um general que pense, que planeie, que organize e não tanto um general para executar que é aquilo que eu tenho visto ao longo do meu percurso. A Guarda precisa de quem pense «à Guarda» e que a sinta por dentro e isso não tem acontecido. Pensar a curto, a médio e a longo prazo.
– E para a malta do Sabugal?
[longo e pensativo silêncio]… – Destaco a humildade das pessoas daquelas terras. Vivemos e contentamo-nos com pouco e foi dessa humildade que nasceu esta ambição pessoal de crescer cada vez mais e dizer que podem continuar a contar com o TóMané Bogas e que quero manter-me fiel a mim próprio e à minhas raízes.
E uma palavra final para a minha família. A minha mãe, a minha irmã e as minhas sobrinhas em paralelo com a minha mulher e os meus filhos é tudo o que tenho de mais importante.
(Fim.)



Momento história para a GNR-Guarda Nacional Repúblicana
Esta terça-feira, 15 de junho de 2021, culminando um processo iniciado em 1991 com a formação dos oficiais da GNR na Academia Militar foi entregue a Espada de Oficial General ao 1.º Oficial General da Guarda Nacional Republicana, Brigadeiro-General António Bogas.
A cerimónia, presidida pelo primeiro-ministro António Costa, contou com a presença do Ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita e do Comandante-Geral da GNR, Tenente-general Rui Clero, assinalou um momento histórico para a Guarda Nacional Republicana, sendo o culminar de um processo iniciado em 1991, com a formação dos oficiais da Guarda, na Academia Militar.

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«À fala com…», entrevista de José Carlos Lages
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Tive a honra e o prazer de ser monitor do 1º Pelotão (de militares) na Prova de Aptidão Militar (PAM) / Academia Militar (AM), quando este ilustre Sr. Brigadeiro-general, era na altura, ano de 1991, Segundo-sargento e eu era Primeiro-sargento, ambos do Quadro Permanente.
Como este ilustre Sr. refere nesta Sua narrativa biográfica, demonstrou ter “determinação, dedicação, espírito de bem servir, o sentido de dever e as competências”, condições necessárias para atingir o atual posto de oficial general. Na minha mera opinião, todos os militares deveriam iniciar a sua carreira militar em soldado, à semelhança do que acontece em Israel. Este é um excelente exemplo deste Exmo. Sr. Iniciou a Sua carreira militar em Soldado, mantendo todas as competências para atingir o topo da carreira de oficial.
Sou natural de uma aldeia de Castelo Branco e o meu percurso de vida foi parecido ao deste Exmo. Sr.. Os meus pais também foram imigrantes e também tive a minha irmã como segunda mãe, embora as nossas carreiras tenham sido diferentes. Eu mantive-me na carreira de sargento, atingido o topo da carreira (Sargento-mor) e este Exmo. Sr. concorreu à AM para abraçar a carreira de oficial.
Hoje, passados trinta anos, foi surpreendido por este Exmo. Sr., dirigindo-se a mim para cumprimentar-me, conseguindo reconhecer-me mesmo com a mascara.
Endereço ao Exmo. Sr. Brigadeiro-general António Bogas, os parabéns pela Sua ilustre carreira e votos de maiores sucessos na Sua vida pessoal e profissional.
José Torrado
Muitos parabéns padrinho e que a vida lhe dê grandes felicidades na companhia da familia. Um grande abraço
Parabéns, caro amigo do Sabugal. Oxalá a tua visão de rigor e transparência se estenda ao nosso concelho para o retirar da cauda do subdesenvolvimento em que se encontra. O lema da GNR “pela lei e pela grei” deve imperar nas nossas terras onde a lei é, sistematicamente, violada e a grei, permanentemente, esquecida. Os poderes que vais deter e as forças que vais comandar poderão contribuir para que o futuro das gentes raianas deixe de ser tão sombrio como se adivinha e a mudança que se deseja passe a ser um desígnio local como se anseia. Contigo ao leme, o Sabugal poderá ser mais forte, mais próspero e mais feliz. Todos nós te agradecemos!
Muitos parabéns ao meu caro amigo António M. Bogas. Para além do orgulho em termos mais um ilustre do nosso Concelho em alto cargo a nível nacional, queremos endereçar os votos de que possa desempenhar o cargo com o maio sucesso, contribuindo assim para o bom desempenho da instituição, por forma a elevar o seu prestígio e bom nome! Um abraço caro António!
Parabéns Tómané, que a vida te continue a sorrir. Abraço.
Parabéns Antonio que a vida te sorria tu mereces pelo teu esforço e pelo Homem que és