Chegavam com a Primavera, umas e outras revisitando os ninhos do ano anterior. Chegavam de longe, de terras mais quentes, onde passaram o Inverno, e agora vinham desfrutar o bom tempo nas terras de seus antepassados, onde nasceram…
Fenómeno de instinto ou de algo mais, regressavam à terra donde partiram no Outono. As cegonhas instalavam-se no seu ninho na torre do sino da igreja, as andorinhas nos beirais dos telhados onde nasceram.
Era ver as cegonhas nos lameiros e lavradas procurando minhocas e outros bichos para se alimentarem. No bico levavam um ou outro galho para reparar ou acrescentar o ninho.
As andorinhas, em voos rasteiros pelas ruas, procuravam charcos onde colhiam com o bico algum pedaço de lodo para refazer seu ninho arruinado ou fazer outro ao lado, com uma arte deslumbrante, que qualquer arquitecto invejaria. Em voos rápidos e audazes apanhavam insectos ou penugens que a miudagem lançava ao ar e que levavam para seus ninhos, a almofadar o berço dos futuros filhotes.
Umas e outras eram bem-vindas, já que anunciavam a Primavera e a alegria desta estação. Não eram aves perseguidas pela garotada que brincava com as andorinhas e às cegonhas não atirava pedras ou fisgadas, até porque estavam lá no alto da torre. Faziam parte da paisagem de Quadrazais durante os meses quentes, saindo mal o frio começava, acompanhadas dos filhotes nascidos em Quadrazais e já crescidos.
Também elas merecem uns versos como lembrança da minha infância…
AS CEGONHAS E AS ANDORINHAS
Já voltaram as cegonhas,
Tal como as andorinhas.
A Primavera vem co’elas
Alegrando as vidinhas,
Fartos já de carantonhas.
Já vejo na torre do sino
Cegonha com paus no bico.
Ouço já o matraquear
De quem nos quer avisar:
Aqui estou eu neste pino.
Ave tão grande sem tocas
Pelos lameiros e lavradas
Passeia catando a terra,
Procurando bicharadas
E sobretudo minhocas.
Já vejo alguém mais no ninho,
Antes só de pai e mãe.
O filhote já está grande,
Abana as asas também,
Vai já deixar o cantinho.
Em frente à minha janela
Passa e repassa a andorinha.
Procura o antigo ninho
No telhado, na beirinha.
Chegado é o tempo p’ra ela.
Rasteja e em charcos pousa
Levando lodo bem mole.
Qual o melhor arquitecto,
Constrói o seu lindo tecto
Onde criará sua prole.
Meninos fazem voar
Penas que apanha co’ o bico.
Leva-as para seu ninho
Para a seus filhos tão ricos
A cama fofa tornar.
Já surgem à portinhola
Como quem já quer sair.
Tempo ainda há-de passar
Até poderem voar
Sobre meninos na bola.
Uma e outra já lá vão,
Que o Outono já chegou.
Tristes aqui nos deixaram,
Já que o destino as levou.
O frio nos deixarão.
– Adeus, até para o ano,
Voltaremos, ninho amado.
Não destruam nossos ninhos,
Pois trabalho redobrado
Teremos, se não me engano.
Fiquem bem em Quadrazais.
Vamos p’ra donde viemos.
Pois gostamos do calor.
P’ra criar filhos co’ amor,
Frio é inimigo a mais.
Havia em Quadrazais um velho parente que Deus tenha em bom lugar, o ti Paisana velho que sofria muito da bronquite e todos os anos me dizia : quando vierem as andorinhas vem-me dizer ,e eu ia olhe já chegaram, então ele dava-me sempre 25 tostões , porque as andorinhas era sinal de bom tempo e assim sofria menos da bronquite…