:: :: PR4 – SBG – VILARES (SOITO – ALFAIATES) :: :: Continuando pelos trilhos do nosso território, esta semana partilhamos mais algumas imagens de um trilho que não percorremos na totalidade, ficando-nos apenas pelas imediações do nosso afectivo Soito!
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PERCURSO PEQUENA ROTA: PR4 – SBG – VILARES
SOITO – ALFAIATES
Persiste a vontade de o percorrer na totalidade, pois bem sabemos que o percurso até à barragem de Alfaiates terá com certeza o mesmo encantamento.
A graça da denominação atribuída a este percurso remete-nos para as memórias que guardamos duma expressão e estória muito conhecida contada pelos nossos antepassados sobre os Vilares.
Em tempos de outrora agudizaram-se disputas pelo sítio dos Vilares, entre os naturais de Alfaiates e os do Soito, decorrentes de eventuais problemas de partilhas e compartilhas pelas terras localizadas naquele topónimo que ficava nos limites das duas freguesias. Uma disputa que se prolongou no tempo, havendo inclusive registos de vítimas mortais em resultado daqueles confrontos e foram erigidos alguns Cruzeiros (alminhas) decorrentes daquelas mortes. O Cruzeiro do Pires (em memória da morte de um conterrâneo de Alfaiates) e o cruzeiro do Ti Dora (em memória de um Soitense ali morto em data de 1888).
Contam os nossos antepassados que na altura os naturais de Alfaiates, naquelas míticas disputas viravam-se para os naturais do Soito e diziam-lhe: «Quereis os Vilares? Quereis os Vilares…. mas não os tchotchais!!! (??chuchais?? ou sachais??)»
Recordamos com humor e saudade as muitas vezes que ouvimos esta estória contada por muitos antigos com quem cruzámos na nossa existência e de cada vez que vinha à baila uma conversa sobre o tema Vilares, contavam sempre esta.
Ainda hoje, com alguns conhecidos e amigos de Alfaiates invocamos sempre esta máxima, da qual rimos hoje em conjunto, mas que foi porventura motivo de muito sofrimento nos tempos idos enquanto durou aquele conflito. Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe diz o ditado. Tudo passa na vida!
Mas este percurso em particular, não é um percurso qualquer, que fizemos em exploração e descoberta, se bem que, em cada caminho ou trilho há sempre algo que podemos observar ou sentir pela primeira vez, algo que ainda não tínhamos dado conta nas múltiplas passagens pelo mesmo. Há sempre um raio de luz, uma pedra, uma árvore, uma planta, uma flor, um som ou um aroma, uma memória e lembrança de vivências, cada vez que calcorreamos um ou todos os caminhos, por uma ou muitas vezes. O resultado da diversidade na unicidade.
Apesar de não ser por aqui que passa este trilho, gostaríamos de salientar que segundo a analise geográfica levantada sobre o nosso território, parece que a maior mancha verde contínua do concelho situa-se na zona compreendida entre Soito, Quadrazais, Vale de Espinho, Foios, Aldeia do Bispo, Aldeia Velha e Alfaiates. E a Serra do Homem de Pedra, a nascente da povoação do Soito, com 1.135 metros de altitude, é um dos locais mais altos do concelho e de onde podemos ter uma vasta panorâmica das serras que nos circundam desde a Malcata à Estrela, extensiva até à Marofa e à Gata. O que deixa muito e bom espaço para a criação de eventual marcação de um possível trilho interfreguesias para aproveitamento deste potencial.
Mas o que torna este trilho diferente de muitos outros, são as inúmeras memórias afectivas que por ali revivemos e sentimos. Sabemos de quem são muitas das propriedades, conhecemos de cor os caminhos, lembramo-nos de muitas estórias, que ali moram e perduram desde a infância e que por ali permanecerão, pois somos também nós parte do caminho e da sua existência.
Como escreve o José Luís Peixoto na sua mais recente obra, «aquilo que foi esquecido e o que não existiu ocupam o mesmo lugar», e nós não esquecemos e ainda existe muita beleza, muita realidade, muito «presente» por ali, no qual nos vemos, revemos e recordamos, com saudade e onde voltamos sempre com muita satisfação aos trilhos da nossa vida para continuarmos a (re)escrever a nossa estória.
Fazendo aqui uma interrupção no trilho, aproveitamos para recomendar este bom livro «Almoço de Domingo», obra que apreciámos muito. Uma biografia romanceada, ou o seu contrário, um romance biográfico, por sinal, de um extraordinário e invulgar ser humano, também ele Raiano, só que do Alto Alentejo.
Retomando o caminho, queremos reforçar que os encantos neste trilho, por esta terra e terras, têm memórias, estórias reais e estas fazem dele um trilho único e pessoal. E para explicar os sentidos e encantos teríamos que partilhar muitas dessas estórias e estas ainda não cabem aqui neste tempo que decorre, precisamos de mais afastamento, distância e tempo para as saber narrar e partilhar.
Invocando Gabriel Garcia Marques, a vida não é aquela que a gente viveu, mas sim a que a gente recorda e como recorda para a poder contar.
Continuemos no nosso longo caminho da vida e aguardemos com tranquilidade por aquilo que ele nos reserva mais à frente no nosso tempo, para sabermos quando contar o que guardámos e o como o recordamos.
Por falar em tempo, o que decorre e o decorrido, existe neste trilho um cruzeiro em granito, localizado no Calvário, numa das entradas do Soito, quando se vem de Alfaiates, na zona das Eiras, que poderá ser um dos monumentos em granito, mais antigos do Soito, datando de 1714, contando já cerca de 307 anos, no qual foi talhado na parte inferior uma caveira com dois ossos cruzados e apresenta na parte superior a inscrição em relevo INRI, cujas siglas na sua tradução do latim é «Jesus Nazareno Rei dos Judeus». Atente-se o caminheiro na apreciação deste e de outos detalhes, enquanto aprecia dali a vista sobre toda a vila do Soito.
Outro mimo e singularidade deste percurso, é a capela de Santa Inês, a mais pequena de que temos conhecimento e que alguma vez vimos. Pequena no tamanho e enorme na devoção e reconhecimento à fé que nos salva. Esta capelinha foi mandada erigir e doada por benfeitores do Soito, em agradecimento à Santa, pela razão de os seus filhos não terem sido chamados para a 1.ª Grande Guerra.
A beleza natural é ampla e diversificada, desde a saída da povoação do Soito, a passagem por largos caminhos de terra batida, ladeados por densos bosques de carvalhos, os centenários e robustos castanheiros e a constatação da força e tenacidade das gentes do Soito que mantêm ainda imensa actividade na agricultura e pecuária, onde podemos verificar que são muito poucas ou raras as terras que estão ao abandono. Se não estão semeadas, estão a ser usadas como pastagem em que a presença de muita criação animal dispersa pelos campos é uma constante. Pelo que me foi possível contabilizar de memória, cremos que a comunidade de agricultores no Soito terá, no seu conjunto, uma frota superior a mais 100 tractores, o que nos parece bastante representativo do investimento que ainda persiste nesta memorável actividade e um sinal de enorme empreendedorismo.
Um símbolo de resistência e perseverança da gente da nossa terra, do nosso Soito, que ao longo da vida e dos tempos tem mantido uma capacidade de empreendimento e de superação, fora do comum, que fez desta grande freguesia do concelho uma das mais dinâmicas e que tudo e tanto fez e faz para ajudar a manter a subsistência dos seus naturais e a dos seus vizinhos.
E para comprovar o empreendedorismo existente no Soito, no final da caminhada, e referindo apenas as empresas ou negócios que mais presentes temos de memória no momento desta redacção, não perca a oportunidade de saborear a tão afamada canja dos cornos, no restaurante Zé Nabeiro, o borrego assado no restaurante Ponto Come ou a cozinha tradicional no Restaurante do Copus Bar. Caso pretenda realizar um evento, festa, casamento ou batizado, tem sempre o Restaurante Martins (Poço dos Desejos), amplo espaço com enorme e bonito jardim, com provas dadas da sua qualidade e serviço ao longo de cerca de 20 anos, a celebrar e festejar os dons da vida de muitos conterrâneos.
Passe pelo Centro de Negócios Transfronteiriço e confirme se algum dos produtos das diversas lojas ali instaladas podem resolver algumas das suas necessidades. Ainda tem o comércio tradicional para fazer algumas compras, quatro mini-mercados, a «Loja da Susete», «Mini-mercado da Emília», a «Nova Loja» e o «mini-mercado/loja do Ti Zé Picó», tem ainda a loja do agricultor com alguns produtos hortícolas. Aproveite para comprar enchido tradicional na charcutaria «TCR» e fabrico próprio, que por acaso são também os proprietários de umas das duas cuniculturas que existem no Soito, ambas com sucesso comercial e bons resultados de vendas de toda a criação.
Depois de confortados e revigoradas as forças, compras feitas, tente visitar o DomusMuseu, uma Casa Museu privada, que reúne um extraordinário espolio, muito vasto e interessante, sobre os mais variados artefactos, materiais e equipamentos, um património tradicional, generalista, focado nos usos e costumes e actividades ancestrais do Soito. Aproveitamos para endereçar nossos parabéns, reconhecimento e enorme gratidão ao mentor e guardião dos vastos e tão ricos tesouros da nossa história, nosso conterrâneo Josué Rito Dias, por tão nobre e admirável iniciativa… (Aqui.)
E para reforçar a capacidade de empreendedorismo que se constata no Soito, nada melhor do que vos recomendar o visionamento da reportagem com o título, «Homem dos Sete Ofícios», sobre João Oliveira, meu estimado primo, um visionário e homem invulgar, natural do Soito. Esta reportagem passou dia 5 de abril, na rubrica «Outras Histórias» da RTP-1… (Aqui.) Endereçamos também aqui os nossos parabéns a ti João José, que estiveste magnifico e foste muito merecedor deste reconhecimento, numa belíssima reportagem.
Caso pretenda pernoitar pelo Soito, tem ainda um espaço de Alojamento Local, «A Casa do Zé» recentemente aberto que dispõe de um serviço de quartos com pequeno almoço e de um belo jardim equipado com piscina. Este alojamento presta ainda um serviço de acompanhamento e assessoria a actividades lúdico desportivas e apresenta um selo de garantia e reconhecimento da Bikotel – Bike Friendly Hotel… (Aqui.)
A economia local agradece! E, mais do que nunca, precisam de recuperar os tempos perdidos desta fase tão conturbada!
Apesar de condicionados, muito limitados nos festejos que tanto gostaríamos de ter, mas que teremos de respeitar e porque no próximo fim-de-semana seria a celebração da grande festa da nossa fé e devoção, fazemos votos e oramos para que a Senhora da Granja, Nossa Senhora dos Prazeres, interceda por eles e por todos nós e nos traga a paz e harmonia que todos tanto necessitamos! Haja fé!
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Voltamos a elencar os axiomas pentagonais do nosso teorema, referentes aos trilhos que iremos partilhar e percorrer nas próximas crónicas!
Cinco percursos Pedestres Pequena Rota em Riba Côa
– PR1 SBG – Meandros do Côa (Sabugal)… (Aqui.)
– PR2 SBG – Vale do Cesarão (Vilar Maior)… (Aqui.)
– PR3 SBG – Nascente do Côa (Fóios)… (Aqui.)
– PR4 SBG – Vilares (Soito/Alfaiates)… (Aqui.)
– Trilho do Manego – Quadrazais (percurso traçado mas não demarcado). Vídeo… (Aqui.)
Cinco Percursos Pedestres Pequena Rota no Baixo Côa
– PR5 SBG – Penha do Lobo – Penalobo… (Aqui.)
– PR6 SBG – Rota dos Casteleiros – Sortelha/Casteleiro… (Aqui.)
– PR7 SBG – Caminho Histórico de Sortelha… (Aqui.)
– PR8 SBG – Termas Do Cró… (Aqui.)
– PR9 SBG – Moira Encantada – Baraçal (ainda por anunciar no site oficial dos PR SBG)… (Aqui.)
Cinco Grande Rotas Temáticas que atravessam o concelho
– GR22 – Grande Rota das Aldeias Históricas… (Aqui.)
– Grande Rota do Vale do Côa… (Aqui.)
– Rota dos Castelos (17 castelos)… (Aqui.)
– Rota do Património – rota circular de 100 quilómetros com os principais pontos de interesse (visitáveis) do ponto de vista arquitetónico e arqueológico, do município do Sabugal referida na CETS, mas não encontrámos mais informação sobre o percurso… (Aqui.)
– Rota Portuguesa do Caminho de Salomão… (Aqui.)… que se prevê ser convertida numa Rota Turístico-Literária… (Aqui.)
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Bem-hajam pela vossa curiosidade e leitura!
Prá semana temos mais!
Até lá! Cuidem-se e cuidemos dos nossos!
Meu abraço dos 5inco costados!
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«Território dos Cinco Elementos», opinião de António Martins
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Setembro de 2014.)
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António Martins, para nós, Toni, tenho lido todos os teus artigos do princípio ao fim, estás de parabéns por este trabalho fantástico de divulgares e partilhares com os outros tudo o que o nosso Concelho tem de maravilhoso. É visível que colocas muito amor e empenho em cada um dos teus e depois nossos artigos que escreves. Continua a escrever, tens aqui um fiel leitor.
Viva João Manuel, fico muito grato pelas tuas felicitações e muito reconhecido por saber que um conterrâneo amigo segue estas croniquetas com agrado! Sendo tu um fiel leitor e um douto no saber da história, espero não ter cometido muitos atropelos nas minhas ousadas narrativas sobre factos e acontecimentos históricos do nosso território, pois tentei ser fiel na pesquisa de fontes credíveis mas a biblioteca do Google nem sempre corresponde na melhor exactidão ao que pretendemos. Bem haja! Abraço