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Página Principal  /  Aldeia do Bispo • Emigração • Gentes e lugares do meu antanho • Poesia • Região Raiana  /  A Ti’ Maria
16 Fevereiro 2021

A Ti’ Maria

Por Georgina Ferro
Georgina Ferro
Aldeia do Bispo, Emigração, Gentes e lugares do meu antanho, Poesia, Região Raiana georgina ferro 1 Comentário

Às terças-feiras é tempo da poesia de Georgina Ferro. A poetisa raiana junta a sua sensibilidade artística às memórias e ao amor pelas gentes e terras raianas…

Uma idosa à janela
A espera por uma carta com selo francês na volta do correio…

Lembro-me tantas vezes de tentar decifrar os gatafunhos chegados de longe… a tristeza de não conseguir ler e acalmar o coração de tantos avós, pais… E, tanta carta eu escrevi, aos meus oito anos, ditada pelas senhoras de idade lá da aldeia… A caneta de aparo e a pouca destreza não davam velocidade para o desenrolar dos sentimentos que voavam, enquanto eu ia rascunhando as linhas do papel da carta que havia custado dois tostões e eu ainda podia deixar cair um borrão!…

A TI’MARIA

A vaquinha já deixara de mugir na loja
Já não era preciso ir levá-la ao lameiro
Nem aprontar a coalhada p’ra fazer os queijos
A abalar de casa, já pouco se arroja…
A não ser para procurar carta no correio
Que, se vier, molhará de lágrimas e beijos
Não pelos francos que poderá acarretar…
É por aqueles rabiscos que não sabe ler
Mas adivinha com a saudade que acarreta
Lastimando o não ter podido aprender

Olhar no vago, numa rebeldia quieta,
Aguarda que alguém, dos que por lá ficaram,
Possa, pelo menos uma, duas, três…mil vezes
Fazê-la saber de cor as penas que calaram
As gargalhadas que já não escuta, há meses
Mas, não surge ninguém por ali, por perto dela.
Resfriou na subida e baixa do balcão
Agora, arredou a cortina da janela
Vê, não a rua, mas a dor do seu coração

O filho, nunca apreendera bem as letras
Havia sempre tanto trabalho por fazer
E a fome não se matava com essas tretas…
_ Afinal, teriam matado esta saudade!
Agora, nem podia sozinho escrever
E, para quê, se também ela não pode ler?
A não ser que, alguém com desvelada bondade
Se lembrasse de por ali passar e subir
Pois ela, poucochinho mais podia fazer
Do que agasalhar aquela carta no peito
Para quebrar a amarga dor e solidão
Que a mantinha cativa sempre, de tal jeito,
À espera de ter alguém que lhe desse a mão
Ou apenas, lhe devolvesse a saudação.

:: ::
«Gentes e lugares do meu antanho», crónica de Georgina Ferro

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Georgina Ferro
Georgina Ferro

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1 Comentário

  1. Avatar Luiz Carlos Pereira de Paula Responder a Luiz
    Domingo, 21 Fevereiro, 2021 às 17:55

    Como sempre adoro

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