Provavelmente alguns dos abencerragens que cedem ou cederam os seus terrenos, para a exploração energética, possivelmente até já não residem no concelho ou perderam a sua ligação afectiva ao território. E outros avaliam nesta oportunidade uma forma de rentabilizar as suas propriedades há muito abandonadas e desvalorizadas, um rendimento extra. E os que por cá ficaram vão ter que se sujeitar à industrialização da exploração energética renovável desenfreada, com todos os impactos que esta pode ter na qualidade ambiental do território.

(Continuação.)
Não podem os interesses e benefícios de alguns privados estarem acima de todo o bem comum e interesse público. O ambiente é de todos!
Só para a exploração energética é que se lembram do Interior.
Para nos sorver a água. Para explorar-nos o vento e acabar com as fabulosas linhas de horizonte e modificarem-nos a beleza das panorâmicas. Assim como para colocar painéis solares em áreas com dimensões abusivas de vários campos de futebol, para nos absorverem a luz do sol e apagar o brilho das paisagens. Para removerem-nos a terra e obterem o precioso lítio e deixar expostas e esventradas as nossas entranhas.
Existem também ameaças de quererem instalar centrais de biomassa e explorar a nossa floresta sob o argumento duvidoso de servir para limpar as florestas dos resíduos florestais e prevenir incêndios e com aqueles produzir energia limpa.
As centrais de biomassa são monstros ruidosos… (ver aqui) …e também poluentes, que devoram tudo e nunca estarão saciadas e quando acabarem os resíduos florestais, que são diminutos, o monstro vai continuar com a mesma fome e vão começar a devorar a floresta! Quem tem lareira em casa sabe quanta lenha consome por ano. Agora imaginemos uma central a queimar 24 sobre 24 horas, 365 dias por ano, em «fornos» de dimensões absurdas. Seria uma questão de tempo o arrasar com a floresta! Há estudos e alertas neste sentido! Há mesmo notícias de que a Central de Biomassa do Fundão não consegue providenciar matéria-prima em toda a beira interior para alimentar a central e pondera começar a ir buscar a Espanha… (ver aqui). Para laborar precisa de 600 toneladas por dia… (ver aqui).
Carecem de prudência estes investimentos e cedências, pois as ameaças reais à sua concretização estão em marcha e a grande velocidade. Importa reflectir e criar travões!
Podemos até ceder parte do nosso território para aquele tipo de investimento, mas na devida e justa proporção. Porque queremos e devemos colaborar, até para ter alguma receita para colmatar o reduzido orçamento. Mas cada gota de água, cada sopro, cada raio de sol, cada ramo de árvore, cada torrão e cada metro de terra, cedidos ou em vias de ceder, terão que ser tão bem pagos, na mesma proporcionalidade dos custos acrescidos que cada conterrâneo e residente do Interior tem de pagar e suportar para ter uma consulta de especialidade médica ou para fazer um exame clinico especifico, para pôr uma carta registada no correio, para impor uma qualquer acção em tribunal, ou para poder colocar um filho a estudar na universidade, ou o custo que existe para encontrar emprego e vencimento dignos no concelho. Ou ainda e como medida de compensação digna, que cada munícipe possa ser beneficiado com um justo desconto na sua factura de electricidade. Haja exigência e proporcionalidade na compensação e na avaliação do custo-benefício.
O território que temos não é nosso! Pertence aos nossos filhos, netos e gerações vindouras e estas herdarão o que lhe deixarmos.
Temos de honrar os nossos antecedentes e por amor e consideração aos nossos descendentes, devemos forçosamente deixar-lhes um território igual ou melhor, mas nunca pior, do que aquele que recebemos dos nossos antepassados.
Não se trata de complexo de interioridade, mas sim de criar mais e melhores factores de resiliência e resistência para manter o equilíbrio e a protecção do que é original, diferente e natural.
Nada nem ninguém se lembra que estes territórios existem para investimentos mais dignos, para fixar pessoas e melhorar a qualidade de vida de quem por aqui resiste! Mas para virem extorquir aquela que é a nossa maior riqueza, já há muitos que se lembram e invocam o potencial que aqui existe.
Dizem que são energias renováveis, verdes, limpas, amigas do ambiente. Não terão nada de ecológicas ou limpas se for desmesurada e descurada a exploração energética e será, pelo contrário, muito suja, sem consideração pela natureza e pelos que resistem neste interior despovoado continuamente desrespeitado e negligenciado pelo poder central! Tudo em prol do lucro fácil e imediato.
Aquilo que seria expectável, era uma distribuição equitativa por todo o território nacional daquele tipo de exploração e produção energética.
Todos seremos a favor deste tipo de produção de energia, dita limpa. Mas nenhum de nós gostaria de ter no nosso quintal ou nas proximidades da nossa casa, uma torre de vento, um parque solar, uma mina ou uma central de biomassa. Mas no quintal do outro já não me incomoda a mim e ali já pode ser, no espaço do outro e longe da minha vista já é um mal necessário.
Levem as ventoínhas para Cascais-Guincho, a extracção de lítio para a serra de Sintra! A central de Biomassa para a mata de Monsanto ou serra de Sesimbra! Os painéis solares para as praias da Linha de Cascais ou para as praias da Caparica! Ali também há muito vento, solo, floresta e muito sol para explorar!

Mas não é essa, nem nunca irá ser, a pretensão do poder central que pressiona e direciona aquele tipo de investimento para o despovoado interior e depois ainda se enaltece que está a fazer todos os esforços para canalizar investimento para estes territórios! E então, embora lá instalar estas centrais em regiões despovoadas, porque ali afecta menos gente. Na perspectiva de quem decide estes investimentos, interpretam que quem lá vive até agradece os parcos dividendos.
Os danos são para poucos, os proveitos são para muitos e o país tem de cumprir as metas nacionais de exigência mundial de redução do CO2. Tudo em prol dos interesses e benefícios nacionais e até mundiais, mas muito à custa do desinteresse e dos prejuízos regionais ou locais.
Querem dar uma chouriça a quem lhes deu um porco.
Precisamos de evitar mais o impacto ambiental a que se assiste por todo o interior sob o vil argumento de se tratar de energias renováveis e ecológicas ou limpas!
Poluição sonora, visual, minas a céu aberto, destruição da floresta e queima de combustíveis fosseis, abate de florestas, tem muito pouco ou nada de ecológico ao serem muito concentradas num só território!
Importa reavaliar e reflectir sobre o que está feito e o que está para se fazer. E o que tem força e nos protege, manter e aceitar. O que não esteja a resultar ou possa ser-nos prejudicial, exigir elevadas compensações ou então tentar impedir, bloquear, substituir ou modificar.
Pode haver quem não se reveja nestas reflexões, pois então concordamos em discordar, porque o tempo urge e não podemos continuar a fazer mais do mesmo e esperar resultados diferentes. Temos que ser sensíveis à produção de energia renovável mas muito mais responsáveis e firmes na maior e melhor protecção do nosso espaço e recursos naturais. Não querendo de todo fazer deste território, uma reserva alargada com 822,70 kms2, mas pelo menos, caminhar ou fazer um trilho neste sentido.
Podemos redirecionar e expiar a responsabilidade do poder central para o poder autárquico local do nosso território, mas será sempre uma expiação e não a resolução. O investimento ou a falta deste e suas consequências, grassam de forma mais acentuada e generalizada por todo o Interior. Não é exclusivo deste ou daquele município, pois os autarcas, assim cremos, têm na sua generalidade dado o seu melhor, fazem e desfazem-se em estratégias, programas e estudos para aliciar investimentos, mas enquanto não forem reforçadas as competências através da descentralização ou da regionalização fica difícil mudar o estado do nosso interior.
Enquanto esperamos, evitemos esta nova poluição 5G… Para fazer jus a estas crónicas. Apresentamos os axiomas desta semana que fundamentam o «Teorema do Território dos Cinco Elementos», mas abusos ou exageros neste tipo de axiomas não os queremos de todo ou apenas serão suportáveis com o seu contrapeso e medidas. Haja coragem para lhes resistir!
Cinco áreas/projectos/parques de produção e/ou exploração energética em actividade ou previsíveis no território
– Cinco parques eólicos já em actividade
– Água da barragem do Sabugal desviada para Meimão, regadio da Cova da Beira e eventualmente no futuro para regadio da zona da Guarda
– Foram efectuadas prospecções para eventual concessão de extracção de lítio (zona que abrange 421 kms e 21 freguesias)
– Parque Solar com Central fotovoltaica de 483 hectares previsto para Valverdinho, Casteleiro
– Central de Biomassa (insinuações e abordagens neste sentido nas Feiras das Tecnologias Enertech – Sabugal)
Cinco Parques Eólicos
– Monte de São Cornélio (Sortelha)
– Penalobo
– Serra do Mosteiro (Santo Estêvão)
– Serra da Malcata
– Serra do Homem de Pedra (Soito)
Cinco associações agroflorestais em que o Município do Sabugal é parceiro
– ACRISABUGAL
– COOPCÔA
– CÔAFLOR
– OPAFLOR
– Fórum Florestal
Bem-hajam pela vossa curiosidade e leitura!
Prá semana temos mais!
Até lá! Cuidem-se e cuidemos dos nossos!
Meu abraço dos 5inco costados!
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«Território dos Cinco Elementos», opinião de António Martins
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Setembro de 2014.)
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