Bem, hoje e dia 23 de Janeiro de 2021. É um dia de reflexão que só no dia 29 de Janeiro será publicado. E aproveito a reflexão para pensar em muitas coisas. Sinto também o sofrimento que o povo português anda a passar. Mesmo longe, e com uma vida de sonho, não posso ficar indiferente a quem amo, aos meus primos e amigos que estão a ser martrizados por algo inexplicável.

Não me compete julgar as políticas da saúde. Por isso ainda não é desta vez que vou dizer o que penso dos bravos heróis da nosso governo.
O tempo é de união, bom senso e resiliência. Não vale a pena rogar pragas porque, penso, pouco mais se poderia fazer.
Pela primeira vez na vida não vou votar porque estou impossibilitado. Estou a 2000 quilómetros do Consulado mais próximo, não há correios onde estou e como tal, serei um contribuinte forçado da abstenção. Mas, nem por isso deixo de reflectir, pensar na importância de se viver em liberdade e democracia.
E, penso, este é o primeiro ponto de reflexão. Se queremos continuar em liberdade temos de pensar bem onde votamos. Todos sabemos que os políticos, no geral, têm pouco jeito mas há sempre a liberdade que nos permite até escrever a discordar de algo que vemos noutra perspectiva.
Outra reflexão é como vamos ficar depois da pandemia. Digo aqueles que, pelo que tenho lido, terão privilégio de ainda pensar em ter trabalho. O estado, seja qual for, tem uma oportunidade histórica de fazer as tais reformas que equilibrem os rendimentos e até pode seguir exemplos como a Dinamarca (já sei, lá está ele com a Dinamarca!), que equílibra muito bem os interesees públicos dos privados. E se calhar até não é assim tão dificil.
O Estado, mais do que nunca precisa dos privados para equilibrar as contas com receitas de impostos. Eu, um sério candidato a reformado, ando preocupado. Porque a assistir ao apoio constante que o Estado tem dado, no futuro, alguém vai ter de pagar a conta. E por isso, a reflexão, leva-me a esta preocupação que, digamos, se passaria em qualquer quadro governativo.
Nota-se muito as tais figuras de primeira linha andarem ausentes do cenário mediático, indicando que o futuro será uma verdadeira dor de cabeça.
Na reflexão puxam-me para dar ideias. A resposta é evidente. A roda está inventada e para que ande «alguém» tem de a empurrar. Obvamente uns pagarão mais que outros, e as grandes opções estratégicas andam por Bruxelas, Paris e Berlim. Por isso, o poder só se deve conter no ilusionismo (porque o povo já foi muitas vezes ao circo), e usar o pragmatismo dentro do contexto que a União Europeia lhe permite.
Mas a reflexão para ser verdadeira tem de ter liberdade de espírito e de pensamento. E pela primeira vez na minha vida sinto que esse benefício (perdoem-me os puristas do direito porque se soubessem os atropelos legais que fazem um pouco por todo o lado) um dia pode acabar. Basta que o povo entenda mudar de rumo e querer abdicar, sem pensar nas consequências, desta «coisa» de igualdade, fraternidade e liberdade.
Não sou um «influencer» (e ainda bem!) que arraste comigo pessoas no meu pensamento. Mas sou um defensor da liberdade de expressão e de pensamento. Teria pena que um dia, o lápis de alguém, andasse a alterar estes artigos que escrevo, que ainda hoje não sofrem de qualquer emenda, como provam as imensas gralhas que muitos detectam.
Eu já faço parte dos poucos que viveram o final do Estado Novo. Curiosamente nome infeliz, porque estava infestado de «velhos» em pensamento, palavras e acções.
Se me perguntassem se queria voltar a esses tempos, em que Portugal era uma grande nação, limpa de nódoas (o tal OMO que lava mais branco e que ainda existe em Angola!) e uma economia pujante, diria que não. A liberdade não tem preço. E faz-nos tão bem à saude que nos dá qualidade de vida.
A maturidade ensinava-nos que tudo tem o tempo certo. Só que agora o tempo é incerto. Mas isso não invalida de pensarmos o que achamos melhor para o País. É para isso que serve este dia.
Centralidade do Mussungue, 23 de Janeiro de 2020
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«No trilho das minhas memórias», crónica de António José Alçada
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