• O Primeiro
  • A Cidade e as Terras
  • Contraponto
  • Cronistas
  • Documentários
  • Ficção
  • História
  • Personalidade Ano
  • Ficha Técnica

Menu
  • O Primeiro
  • A Cidade e as Terras
  • Contraponto
  • Cronistas
  • Documentários
  • Ficção
  • História
  • Personalidade Ano
  • Ficha Técnica
Página Principal  /  Casteleiro • Covilhã • Histórias da Memória Raiana • Jarmelo • Outeiro São Miguel • Quadrazais • Sabugal  /  Histórias da memória raiana (6)
17 Janeiro 2021

Histórias da memória raiana (6)

Por Capeia Arraiana
Capeia Arraiana
Casteleiro, Covilhã, Histórias da Memória Raiana, Jarmelo, Outeiro São Miguel, Quadrazais, Sabugal antónio emídio, antónio josé alçada, fernando capelo, franklim costa braga, josé carlos lages, josé carlos mendes, padre geada, ramiro matos Deixar Comentário

:: :: FRANKLIM COSTA BRAGA :: :: No primeiro episódio o António Emídio «apresentou-nos» a família do Luís do Sabugal quando este se preparava para ingressar no Outeiro de São Miguel. Seguiram-se o Fernando Capelo, o José Carlos Mendes, o Ramiro Matos e o António José Alçada. Esta semana o quadrazenho Franklim Costa Braga acrescenta mais uns carregos à estória. (Episódio 6.)

Histórias da Memória Raiana - Episódio 6 - Franklim Costa Braga - capeiaarraiana.pt
Histórias da Memória Raiana – Episódio 6 – Franklim Costa Braga – capeiaarraiana.pt

:: :: :: :: ::

HISTÓRIAS DA MEMÓRIA RAIANA
Episódio 6

:: :: :: :: ::

O CHICO DE QUADRAZAIS

Saiu de casa, bem cedo, com o pai no velho Ford do ti Barreiro para apanhar a carreira para a Guarda. Vestia calças pretas de pana, uma jaqueta, boina à basca encomendada em Valverde, e botas novas.

O Chico, conhecido pelos familiares como Chiquinho, tinha acabado a 4.ª classe em Julho, tendo passado com distinção no exame no Sabugal com o Professor Cavaleiro. O pai destinava-o a seu ajudante no comércio. Mas o professor Evaristo falou com ele e aconselhou-o a que o mandasse estudar, já que tinha boa cabeça para os estudos. Após uns dias a pensar no que deveria escolher para o Chiquinho, aconselhando-se com quem conhecia o colégio do Outeiro, decidiu enviá-lo para lá.

– Que achas, Chico? Queres ser professor?
– Não sei bem, mas gosto de estudar.
– Então, vai-te preparando, que dentro de dias partimos para o Outeiro.

Chegou lá com um grande malão. O porteiro chamou o empregado para lhe levar a mala. À entrada estava o padre Geada que lhe perguntou:

– Como te chamas?
– Chico.
– Donde vens?
– De Quadrazais.
– Bem me pareceu que vinhas de terra de contrabandistas! E este senhor? É teu pai?
– Sim, é.
– Muito prazer em conhecê-lo.
– Deixo-lhe aqui o meu Chico. Tratem-no bem. Espero que se porte bem, senão estiquem-lhe as orelhas, se for preciso. Eu vou andando. Adeus, Chico!

No corredor, em frente à portaria, estava um grupo de alunos mais velhos que, mal viram o Chico, começaram por baptizá-lo. Como era franzino, o que lhe valera na escola a alcunha do Fuínhas, um do grupo baptizou-o logo como o Pequenote.

– Mas já me chamavam Fuínhas na escola!
– Pois passas a chamar-te Pequenote.
– Eh! Vieste hoje de Espanha?
– Não, nunca fui a Espanha.

Um deles surripiou-lhe a boina e atirou-a pelo corredor como se fosse um disco. Veio a saber mais tarde que se tratava dum aluno de Rendo conhecido pelo Mauzão.

– Ouviste teu pai a pedir que te arreassem? Eu tratarei de ti.

O Chico ficou logo mal impressionado com esta recepção e ficou de olho no Mauzão, com quem antipatizou de imediato. Este era, de facto, trombudo.

Após arrumar os seus pertences, foi encaminhado para uma sala, onde já se encontravam o Zeca, do Soito, o Alcino, de Vale de Espinho, o Costa, da Nave, o Jacinto, de Aldeia do Bispo, o Romão, de Aldeia Velha e o Luís, do Sabugal. Pena que não houvesse nenhum outro quadrazenho para poder empregar uma ou outra vez a Gíria. Mesmo assim, o Chico começou a sentir-se um pouco mais em casa, rodeado que estava por colegas de bem perto da sua terra. Mas isso não impediu as saudades de ter deixado Quadrazais e os seus amigos do bicho, da choina, da bola, de pôr carbureto a arder nas poças de água e atar latas ao rabo dos cães. Recordou a despedida na véspera das tias e da madrinha.

– Madrinha, deite-me cá a só bênção!
– Que Deus te abençoe!

Mal dormira durante a noite, com medo de não acordar, e a pensar como seria a sua entrada no colégio.

– Em que pensas, Pequenote? Não te sentes bem aqui connosco? – atirou-lhe o Lampreia, alcunha do Quim da Rapoila*.
– Estava a pensar numas coisas!
– Deixa de pensar na morte da bezerra e vem jogar connosco.
– Já vamos daqui mais um pouco.

E, pela mente do Chico, perpassavam os últimos conselhos do pai e da mãe:

– Vê lá, não estragues as botas na bola! Nada de ser como o estronca-brotchas da Rebolosa. Estuda bem para seres um home. Porta-te bem, senão arranco-te as orelhas.

Tudo entraria nos eixos com o tempo.
– Vamos lá então jogar.

Dirigiram-se ao recreio. O Chico ficou admirado em ter um campo de futebol com balizas de ferro. Nessas é que ele iria meter golos. Mas invadiu-o uma certa tristeza…

– Será que os colegas me vão querer na equipa sendo eu baixinho?

Assim aconteceu nos primeiros dias. Ele ia-se aproximando de alguns grupos que se entretinham nas mais diversas brincadeiras, como o jogo do belindre.

Um dia, antes do jogo da bola começar, pediu ao Zeca, que haviam baptizado de Patanisca, que lhe deitasse a bola. Apulou-a no pé, sem a deixar cair, e começou a dar toques sem a deixar cair no chão. Alguns apreciaram-lhe as habilidades e, no dia seguinte, convidaram-no a integrar a equipa contra os do 2.º ano, onde estava o Mauzão. Não tardou a meter um golo. O Mauzão, enraivecido, começou a rasteirá-lo, mas ele foi-se desviando. Ganhou a estima dos colegas. Alguns já nem lhe chamavam Pequenote e defendiam-no contra as investidas do Mauzão.

Em vésperas do primeiro de Novembro recordou-se dos magustos que a rapaziada fazia nesse dia em Quadrazais e do jogo das contras ou cabeças entre a assadura das castanhas. Jogou com os seus colegas, que não conheciam esse jogo.

A madrinha mandou-lhe a rosca que se dava aos afilhados nesse dia. Comeu um bocado.

– Ah! Que bem sabe! Obrigado, madrinha.

Guardou o resto no seu cacifo. No dia seguinte foi pela rosca mas, onde está ela? Alguém lha havia roubado. Perguntou por ela ao Mauzão.

– Eu nada tenho a ver com o roubo. Devem ter sido os ratos que te a comeram – atirou-lhe o Mauzão.

O Chico ficou convencido que fora mesmo o Mauzão.

– Oxalá te dê uma caganeira! – disse para consigo.

Nesse dia feriado foi passear com alguns colegas atravessando a Arrifana. Meteu-se com uma bonitota que estava à porta de casa, dizendo-lhe um piropo. A resposta foi:
– Cresce e aparece, baixote!

Sempre a ser gozado pela sua fraca estatura. Haveria de crescer e, então, apareceria.

Jurou a si mesmo que haveria de ser o melhor da turma e que haveria de ser alguém para contrabalançar o ser baixote.

Nas aulas sabia sempre as respostas, mostrando ser o melhor da turma.
– Pequenote, mas grande de cabecinha! – diziam-lhe.

Mais um motivo de admiração perante os colegas. Aconselhado a substituir a boina para o frio, nas férias de Natal o pai arranjou-lhe um garruço à moda da zona de Fátima. Trouxe de casa uns luvetes feitos pela mãe e uns caturnos às amêndoas, como presentes de Natal, agradada com as notas do primeiro período. Retomou a vida normal no colégio.

Num jogo de bola o Mauzão deu-lhe uma tal rasteira que o fez cair com estrondo e lhe partiu um braço, para além de esfolões. O enfermeiro botou-lhe álcool nas feridas.
– Ui! Escose muito!

Deram-se conta que o braço estava partido e tiveram de o levar ao hospital da Guarda, onde o engessaram. Felizmente era o braço esquerdo e assim poderia escrever com a mão direita.

O Mauzão foi duramente castigado e ameaçado com expulsão. Mas o maior castigo do Mauzão surgiu dias depois no recreio. Isolaram-no e deram-lhe pontapés e chapadas, a ponto de ficar com um olho negro.

– E caluda, hem! Senão ainda levas mais.

O padre Geada, ao vê-lo de olho negro, perguntou-lhe:

– Quem te fez isso?
– Fui eu que fui contra o poste da baliza – respondeu, lembrado das ameaças de nova sova.

Daí em diante o Mauzão nunca mais se aproximou do Chico.

Chegou o 10 de Junho. Como se seguia um fim-de-semana e mais um feriado, arriscou ir passar o Santo António a Quadrazais. Má hora o perseguia. Na procissão, um foguete caiu junto dele sem estoirar. Pegou nele e…
– Pum! – O foguete rebentou, levando-lhe o indicador direito e esfrangalhando-lhe o do lado.

– Acudam! – clamava a mãe.

Levaram-no ao hospital do Sabugal, onde o Dr. Adalberto lhe teve de cortar a falanginha e falangeta do indicador e, a custo, lhe coseu o dependurado pai de todos. Pobre indicador, já tão massacrado por ter sido queimado a sangue frio pelo Dr. Armando do Soito por ter um carbúnculo cheio de pus.

– Como vou escrever agora? – Lembrou-se de outros que também tinham dedos cortados, como o Câmbio, que os perdera nos dentes duma nora. Se ele sobreviveu, eu também me arranjarei.

E lá seguiu no outro dia para o Outeiro, de braço ao peito. Muitas perguntas lhe fizeram os colegas sobre o sucedido. Confortaram-no e lamentaram ter perdido por esse ano um tal avançado no jogo da bola. Só o Mauzão rosnou:

– Bem feita! Para além de baixote, agora és dedêta!

Felizmente, o ano estava a acabar e tinha a passagem garantida.

Foi de férias, jurando que haveria de continuar a ser o melhor, mau grado tanta desgraça.

:: :: :: :: ::

A vida parece não estar a correr pelo melhor ao pequenote Chico de Quadrazais que partiu um braço a jogar à bola e viu estoirar-lhe um foguete na mão. Para a semana vamos saber o que pensa o António Martins de tudo isto…

:: ::
«Histórias da Memória Raiana», (episódio 6), por Franklim Costa Braga

:: :: :: :: ::

Os episódios das «Histórias da Memória Raiana» são escritos semanalmente por um autor diferente. Participaram até agora: António Emídio, Fernando Capelo, José Carlos Mendes, Ramiro Matos, António José Alçada e Franklim Costa Braga.

Apesar de fazer referência a nomes e lugares verdadeiros da região raiana dos territórios do Sabugal esta é uma obra de ficção e qualquer semelhança com nomes de pessoas, factos ou situações terá sido mera coincidência.

José Carlos Lages

Partilhar:

  • Tweet
  • Email
  • Print
Capeia Arraiana
Capeia Arraiana

Diariamente desde 6 de Dezembro de 2006.

 Artigo Anterior Sonetos da diáspora (1)
Artigo Seguinte   Voto antecipado no Sabugal

Artigos relacionados

  • Histórias da memória raiana (2.1)

    Domingo, 7 Março, 2021
  • Histórias da memória raiana (11)

    Domingo, 28 Fevereiro, 2021
  • Histórias da memória raiana (10)

    Domingo, 21 Fevereiro, 2021

Leave a Reply Cancel reply

RSS

  • RSS - Posts
  • RSS - Comments
© Copyright 2021. Powered to capeiaarraiana.pt by BloomPixel.
loading Cancel
Post was not sent - check your email addresses!
Email check failed, please try again
Sorry, your blog cannot share posts by email.